Histórias de Viagem / Crônica
A viagem se repete enquanto penso.
O rio, o lanche, a picada da aranha. Ser picada por aranha em local diferente do nosso habitat é algo completamente diferente.
No dia seguinte, passeio de barco.
O auxiliar do barqueiro, que conversava com os turistas, perguntou o que havia acontecido com o meu braço e eu contei a ele.
Extremamente atencioso, enquanto atendia outros turistas, pesquisou nos órgãos oficiais o catálogo das aranhas e pediu que eu a reconhecesse.
Ao reconhecer a aranha, uma passageira pediu para ver a foto. Era médica e disse que eu precisaria ir até a farmácia comprar uma pomada.
Agradeci.
Nesse ínterim, alguns passageiros do barco olhavam para o senhor que atendia os turistas, porque ele tinha apenas um dente superior, posterior, e único.
Ao observar que alguns passageiros observavam o seu único dente, ele disse que era o único dente que lhe restara, e que todos eles tiveram um significado, e que quando fosse necessário, ele o extrairia, o que não era o caso.
Fui até a farmácia obedecendo a médica passageira do barco, e guardo a pomada como lembrança.
Cada vez que eu penso nessa viagem, eu reflito, parece que novos dias mágicos acontecem.
Impossível não rir com as frases ouvidas, mesmo sendo para levar a sério, mas pela espontaneidade e o medo ou espanto que causam pegam a gente de surpresa.
Que protesto maravilhoso:
_É o meu primeiro dia nesse emprego e eu não vou enfiar a faca (bisturi) em ninguém. Sabe o que procurar um bom emprego? Mandar currículo atrás de currículo e esperar uma resposta positiva de um profissional de saúde?
Apoio essa moça incondicionalmente, por razões óbvias,
Resolvida a questão do bisturi, caminho para sentir o vento e a vida enquanto vou até a farmácia.
Muito provavelmente picada de inseto, o que justificaria esse tempo todo depois da picada de aranha me incomodando com dois furinhos.
Enquanto caminho, estou no barco, o barco joga mansamente pelas águas de um rio.
Chego até a farmácia para as compras de rotina.
A atendente da farmácia disse que o que eu queria estava em falta. A diferença no atendimento foi que ela olhou bem e disse:
_Mais duas quadras e a senhora consegue comprar. Ensinou o caminho e assobiou, ensinando:
"Vira aqui, gesto, assobio, depois vira ali, gesto, assobio, e pronto, achou."
Obedeço a atendente da farmácia e consigo o que preciso comprar.
Ao caminhar sinto como se tivesse saído de um mundo de andróides e encontrado seres humanos.
Humanos, como um barco que navega num rio devagar e com boa vontade, com um velho marinheiro com histórias pra contar, como a juventude dessas moças querendo ser prestativas, como a brisa leve que trouxe exercício e alívio.
Semana cheia de história, cheia de gente, que faz pensar que a humanidade está nesse barco, e que podemos esperançar as pessoas.
Grata pela leitura.
Grata pela leitura.

Nenhum comentário:
Postar um comentário