Vida de Lojista / Crônica do Cotidiano
Para dizer em público e sem se importar era porque a dor precisava se dividida.
Bem trajada, a lojista contava o seu problema para a colega empresária.
_Comprei um lote de produtos importados, com a permissão para etiquetar a importação, onde acrescento o nome da loja. Coloquei-os à venda e descobri que boa parte dos produtos está com defeito de fabricação.
A outra empresária, com um sorriso entre o triste e o amargo, perguntou se a colega iria à falência.
_Não vou à falência, mas não posso me ausentar da loja. Os vendedores em horário de pouco movimento se desanimam e precisam que alguém mantenha a boa disposição necessária. O prejuízo é certo e, diante do prejuízo certo, eu preciso estabelecer uma política para manter o negócio e a freguesia.
A empresária perguntou como é que ela agindo, porque era uma situação difícil. Perguntou também o nome da empresa fornecedora para evitar que o mesmo acontecesse com ela. Perguntou também se a troca dos produtos desse lote não seria possível.
_Passe na loja mais tarde para que eu liste para você as empresas. Eu posso trocar, mas tive que calcular o prejuízo das vendas antes da troca. Existe um trâmite para a troca e esse trâmite pode sim me levar à falência. Fiz os cálculos e estou vendendo os produtos com a troca garantida no cupom fiscal. Na semana passada troquei três. É mais barato trocar o mesmo produto algumas vezes do que perder toda a venda. Não adicionei custo de prejuízo nas peças, adicionei a confiabilidade na loja. Eu critico o fornecedor das peças importadas e garanto a troca. Consigo capital de giro para repor o estoque com peças nacionais de boa qualidade.
A empresária ficou pálida ao ouvir a situação da amiga. Disse que era uma situação assustadora tendo em vista que ela mesma estava aderindo aos produtos importados e etiquetados no país pelo baixo custo.
_O baixo custo não se paga porque a qualidade é péssima. Estou atravessando um momento difícil, mas acredito que em seis meses a situação volta ao normal.
A empresária repetiu a palavra seis meses em sussurro, como se a situação pudesse acontecer com ela.
A lojista, desanimada e confortada porque o problema tinha solução, concluiu dizendo que o comércio é uma atividade de risco. Agora ela teria que procurar novos fornecedores também.
E foi embora com pressa, tinha muito que fazer.
Hoje nem precisei de fila, o conhecimento caminhava junto com a determinação.
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