A Terceira Reportagem
Nota da autora: Para quem não leu as duas primeiras, e ficarem com vontade de ler as reportagens, elas se encontram no arquivo do blog.
O repórter chama-se Edson Prado e agora tem alguns anos de experiência, comete menos gafes e vamos à história:
Pensando no setor de microempresários, o jornal pede ao repórter que vá ao Bairro da Moca, São Paulo, para entrevistar o dono de uma padaria.
Edson se dirige até a Moca e pergunta entre os comerciantes qual a história mais interessante daquele lugar entre os microempresários. Conta da reportagem a ser feita e da necessidade da história chamar a atenção do público leitor para o lugar comum, que todos conhecem, mas que pode ser diferente em algum aspecto e valha a pena ser lida.
Os comerciantes indicam a panificadora do Lisandro e pedem ao repórter que ele mesmo ouça o que o outro tem a dizer. Eles desejam o retorno do leitor, seja ele quem for, porque é um fato que acontece a alguns comerciantes e parte deles abre falência; até hoje não se descobriu o motivo.
Edson se apresenta a Lisandro e pede o resumo da sua vida como panificador.
_De fato, a minha história é curiosa. Eu tive uma padaria em um Bairro de moradores pobres e, embora os meus pães fossem muito saborosos, os habitantes do lugar preferiam comprar os pães no supermercado porque o dinheiro deles era justo e os cinquenta centavos a mais cobrados pelo quilo de pão pesava no orçamento. O que eu fiz? Aprimorei as minhas habilidades se confeiteiro, nas massas de pão e salgados. Confiante na qualidade de tudo o que poderia produzir, passei o ponto comercial a outro comerciante que vendia frutas e verduras diretamente do produtor e a preços acessíveis a eles, aluguei um ponto comercial perto do Pacaembu por dois anos e montei a padaria que eu desejava com doces crocantes e recheios cremosos, salgados assados de alto padrão, etc. Aconteceu que a panificadora foi tão bem que o lucro pagou o investimento em quatro meses. Filas se formavam desde a frente da porta de entrada do estabelecimento e os consumidores não se importavam de pagar mais vinte ou cinquenta centavos a mais levando em consideração a qualidade do sabor dos produtos ofertados a eles. Eu sorria de orelha a orelha e levantava-me às quatro da manhã com alegria, mesmo em dia de chuva. Parecia que tinha feito o negócio perfeito. Passaram-se dois anos e chegou a hora de renovar o contrato de locação. O dono morava próximo ao local e via o meu negócio bem sucedido. Foi aí que decidiu dobrar o valor do aluguel. Eu tentei negociar com ele e disse que as vendas iam bem, mas o aluguel em dobro comeria o negócio. Eu vendia pães, não ouro. Nesse ínterim apareceram moradores da região reclamando que a fila era grande e que os carros dos fornecedores de farinha, de refrigerantes e de produtos resfriados estacionavam em local apreciado pelos moradores e que atrapalhavam a livre movimentação no lugar. Eu tentei negociar com o locatário e disse aos moradores que poderíamos rever os locais do estacionamento dos fornecedores, mas foi em vão.
O repórter interveio e perguntou se ele ao invés de reclamar, havia se retirado do Bairro e perdido o negócio.
_Bom, foi um decisão difícil. Com o dinheiro que eu ganhei e que não era pouco para o ramo, eu poderia comprar uma loja em outro local menos valorizado. No entanto, se eu pagasse o aluguel desejado, eu perderia o lucro futuro e veria o meu negócio em franca decadência, fazendo do meu comércio a fortuna do proprietário do lugar. Dinheiro, em si mesmo, não serve para nada, então avaliei sobre a quantia armazenada no banco que serviria para realizar melhoria das instalações originais tendo em vista o público crescente e exigente. Eu me retirei do lugar bastante aborrecido quando comprei esta loja. Logicamente dei folhetos de propaganda com o novo local da panificadora, mas no fundo eu sabia que ninguém se deslocaria de um bairro a outro para comprar pães.
Edson pediu a ele que concluísse a sua experiência.
_Certo dia, antes de fechar a loja definitivamente, apareceu um freguês e me perguntou o porquê da minha decisão. Eu desabafei e conversei com ele sobre os problemas do Bairro. Disse que não me arrependia de ter me instalado ali, mas que eu saia magoado com o final do relacionamento. Era comércio, mas até então eu não havia presenciado tamanha mesquinharia. O freguês aproveitou e se queixou do lugar, mas era proprietário de apartamento residencial naquele lugar e também pagava caro por comportamentos que não eram os seus. Pão se faz com carinho, mesmo com as máquinas que possuo. Este lugar é bom para os negócios, talvez porque eu seja o proprietário do espaço físico que ocupo. Fazer sucesso rápido sem a infraestrutura necessária para aguentar a pressão da demanda não é bom. Devagar se consegue fazer melhor.
O repórter, fascinado, o cumprimenta e deseja sucesso a nova panificadora. Promete que irá fazer o possível para conseguir informações e orientações a todos que conseguem atingir o sucesso dos lucros antes do desenvolvimento profissional adequado a situação. Compra alguns pães e ganha alguns doces para levar à redação do jornal, gentileza do homem que sabia o que produzia. Conseguira pauta e matéria para uma semana.
7 comentários:
Yayá, boa noite!
Lisandro vai fazer sucesso, tem tino comercial, só de oferecer pães e doces para o repórter já mostra que ele é do ramo. Um abraço, um ótimo fds
beijo Yayá..
um lindo sábado para ti..
As voltas que a vida nos obriga a dar...
E será que irá funcionar desta vez?!
Beijinhos,
Yayá. Não sei que se passa com o seu blog. Postagens muito interessantes mas enquanto estou a ler a página salta para cima e para baixo e não consigo terminar porque me perco constantemente. Pena.
Um abraço.
Uma história interessante.Gostei
de ler. Beijinhos
Irene, ah, gostei da sua visita
ao meu sinfoniaesol
Jorge, grata pela mensagem. Relatei um erro XB ao servidor, conforme me foi pedido quando tentei postar um comentário e não consegui porque o erro impediu. Grata aos que conseguiram ler. Um abraço a todos.
é sempre um enorme prazer passar por aqui.
Beijo e bom final de semana.
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