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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Irene e a Mosca

Irene e a Moscaclip_image001

Irene era empregada em uma casa no bairro do Brooklin em São Paulo. Tarefas iguais, cansaço igual, comida igual, mas diferente a cada dia da semana.

Foi em meio à rotina que ela se deparou com aquele ponto brilhante num azul topázio. Logo pensou que a dona de casa perdeu uma pedra de algum dos seus anéis.

Aproximou-se do ponto azul brilhante e verificou tratar-se de uma mosca, uma mosca azul com raios prateados. Lembrou dos ensinamentos da sua mãe que dizia para não se aproximar e não tocar se visse a tal mosca. A mãe dela falava que era veneno, cianureto.

Irene estava frente a frente com a tal mosca. Uma mosca miúda e delicada, com olhos pequenos e asas prateadas. A mosca não voava, estava parada como se posasse para uma fotografia.

Conforme a sua mãe havia ensinado, a mosca não voa sobre os alimentos. Ela espera e seduz a vítima que morre ao tocá-la, como por um encanto que tão rara presença produz ao ser vista e pela beleza de tão leve ser.

O céu, quando azul, tem a beleza do vôo perfeito para pássaros e aviões; o mar, quando azul, passa a certeza das águas limpas e transparentes; o pássaro azul indica boas novas à felicidade; são tantos azuis exemplares e bons que a maioria das gentes não pensa nesse minúsculo e instigante inseto mau, não porque queira, mas porque a natureza assim o definiu.

Irene fixou os olhos em todos os detalhes fascinantes; desde as patinhas elegantemente trajadas de azul, os olhinhos que olhavam para ela, as asas prateadas. Pegou o primeiro objeto quadrado, consistente e duro que encontrou por perto e, acertou a mosca em cheio. No lugar da mosca, restava sobre a mesa um visgo azul, cianureto, que ela não poderia tocar. Pegou luvas, pano, juntou os restos da mosca e jogou no lixo as luvas e o pano com um pequeno borrão azul brilhante.

Contou para a patroa:

_ Todos encontraremos algum dia com a mosca azul em São Paulo, não podemos nos deixar seduzir.

A senhora ria da Irene. A empregada não precisava se desculpar por jogar fora um par de luvas e um pano multiuso, que deviam ter caído em algum lugar onde a limpeza era pesada.

E, assim por diante, a todos a quem contava a história da mosca, as suposições eram variadas, de acordo com o gosto do interlocutor. Houve até quem discutisse se era um crime ecológico matar a mosca azul.

_Deus me livre! Dizia Irene ao ouvinte.

Irene, por fim, não mais contou a história da mosca azul a ninguém. A história era caprichada demais para ser considerada como verdadeira. Tão apaixonante quanto à mosca azul, encantava os ouvintes e os distanciava do fato em si.

Irene verificou o quão perigoso era o veneno da mosca azul, se até mesmo em forma de história, perturbava gravemente o sentido crítico do ouvinte...

15 comentários:

Unknown disse...

Uma história engraçada e bem contada
A atitude de a reduzir a nada, quanto a mim, foi a melhor.

Por aqui existem milhões que é impossível extreminar, à paulada ou a murro e são de uma teimosia incrível
Quando se enxotam voltam sempre mais e mais.....
Vivemos perto dos campos onde diáriamente descarregam camions de detritos de possilgas.

Loiva disse...

Bom dia Yayá, minha empregada chama Irene, vou mostrar essa historia para ela ... bjks

Loiva disse...

Otima semana para você....

Célia disse...

Moscas... as mais perigosas, para mim, são aquelas que sorrateiramente nos seduzem a intoxicar-nos... com suas palavras!! Abraço, Célia.

JOPZ_B1B disse...

muito bom.. e me fez lembrar da mulher que comeu a barata (clarice).

JOPZ

Ivone disse...

Muito criativa em seu texto, pois é assim mesmo, cada vez que tentamos contar algo piora ainda mais se é o caso de se ter de se desculpar, portanto...!!!
Abraços amiga, amei esse texto, olhando sem preconceito até que a mosquinha é bonitinha, rsrsrs!!!
Ivone

CEM PALAVRAS disse...

Yayá,
História caprichada pela riqueza de detalhes.
beijos

Phage disse...

Sim! Eu nao trocaria agora por nada!
Acho engraçado conseguir associar cores a coisas abstractas! Vejo o mundo às cores xD

O que interessa é que não se trata de uma doença grave, eu até nem lhe chamo doença, mas sim dom! :D

aluap disse...

Boa Noite,
Gostei da história da Irene e da mosca que me parece bem real, eu quando vejo uma mosca faço exactamente o mesmo, acerto-lhe em cheio. Mas é assim mesmo, na sociedade de hoje há muitas histórias que contadas ninguém acredita.

MA FERREIRA disse...

Oi Yaya..
Adorei a sua historia e o ritmo que vc empregou a sua escrita!

Adorei..parabéns!

bj

Anônimo disse...

História que prende a atenção, tal a maneira como nos leva a entrar dentro da própria história, de modo penetrante. Com uma moral interessante, na verdade.

MISSIONÁRIA DIANA disse...

BELO TEXTO QUERIDA!! AMIGA TENHA UMA BOA NOITE QUE DEUS TE ABENÇOE

Anônimo disse...

É tão gostoso de ler do jeito que vc escreve. Adoro. Parabéns!
(Ah, olha só a besteira... mas quando vc foi citando as coisas que eram azuis, eu pensei no meu time: o GRÊMIO. kkkk)
Boa semana, amiga.
Beijos da Marie
amoreoutrosdelirios.blogspot.com

Simone butterfly disse...

kkk, muito boa, beijos carinhosos

Mª Carmen disse...

Bonita historia.las moscas son pesadas y pegajosas.Abrazos.