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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Desculpe, Engano / Crônica do Cotidiano

Desculpe, Engano / Crônica do Cotidiano


     Aqui não tem ninguém com esse nome, respondi, não tem mesmo. Vim passar café,e me distrair.

     Lembrei de Valentina, na sua inacreditável solidão. Solidão de geladeira, quantas vezes contada e explicitada, cheia de responsabilidades, mas em meio ao conforto, o que fazia com que a queixa caísse no vazio.

     Guardo um presente que ela me deu, uma toalha de mesa, ela foi significativa.

     Lembrar de Valentina é lembrar de uma amiga que não cheguei a ter, mas com muitos pontos em comum, tais como a educação, os valores espirituais, mas quase não conversamos, éramos extremamente sociais, o que não impede de haver respeito.

     Toda vez que ela inventava uma brincadeira, e ela gostava de inventar sortes com santos, a proibiam dizendo que era algo muito perigoso porque poderia atrair coisas ruins.

     Eu ria dessas proibições, e dizia que era crendice, e ela concordava, mas isso não bastava e a proibição era certeira., pois nos intimidava de fato o medo de que algo ruim pudesse acontecer.

     Houve um dia em que ela resolveu brincar, não com santos, mas outra brincadeira, a de dizer que se mandava.

     Quando eu ouvi, pensei que não sabia se ela deveria dizer que se mandava, quando não podia fazer brincadeiras inocentes.

     Moça sem vício algum, extremamente cuidadosa com os afazeres, responsável, muito embora eu prefira a minha despensa de café do que a geladeira em que ela vivia. Trocávamos receitas e nos divertíamos trocando receitas de tortas. Ela me ensinou a não talhar o doce que eu volta e meia talhava e que bastava colocar uma colher de sopa de amido.

     Não quero sentir saudade, ela não precisa dessa saudade, ela está com Deus.

     A solidão dela era sistêmica e inacreditável, o sofrimento dela era físico e invisível, e as brincadeiras lhes eram proibidas.

     Observando os outros é que a gente se corrige sendo diferente.

     Aqui não tem ninguém com esse nome. \aprendi a ser diferente, mas foi Valentina quem me ensinou. 

     De volta para a rotina já!

     Grata aos leitores.

      

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