Pégasus, Chronos, Caronte e A Mulher Tacanha
Pégasus, o cavalo imaginário da imortalidade, que percorre todas as terras, é montado por Cronos - deus do tempo, infinito em si mesmo.
Partem Pégasus e Chronos para uma terra distante, onde vive uma mulher tacanha, que visitava as margens do rio diariamente, sempre a espera de Caronte, o barqueiro das almas mortas.
Em busca de pão e água, Chronos bate à porta da mulher.
_O que deseja, estranho?
_Desejo água para o meu cavalo e um pedaço de pão para mim, se a vossa misericórdia o permitir.
_Ah, pensei que era Caronte. Eu tenho cavalos e o seu cavalo pode beber água junto com os meus dois cavalos. Acabei de fazer a massa de pão, e eu vendo pães. Tenho alguns que sobraram desta fornada e não mais os venderei porque ninguém compra pães adormecidos. Posso ceder um desses pães, não mais.
Chronos agradeceu e sentou-se à soleira do lugar para saciar a fome.
Ela o observava e, perguntou com cautela:
_Quanto tempo o senhor ficará por esse lugar?
Chronos levantou a cabeça lentamente e disse que ficaria o tempo necessário para que Pégasus se abastecesse com água.
_Para onde vai depois que Pégasus se abastecer? Perguntou a mulher.
Chronos disse que iria a qualquer lugar onde o pensamento não tivesse fim.
A mulher não gostou, e replicou que ela visitava todos os dias as margens do rio a ver se Caronte estava vindo com seu barco.
Chronos perguntou o motivo de tal atitude.
_Se eu avisto Caronte, eu sei que não venderei mais pães.
Chronos não entendeu essa resposta e pediu, se quisesse responder, que lhe dissesse mais.
_Significa que precisarei de outro meio para ganhar o meu dinheiro. Eu quero saber antecipadamente como se faz para ganhar dinheiro na outra margem do rio.
Chronos disse que essa tarefa era impossível de ser feita. Quem atravessa a margem do rio não volta para falar de dinheiro.
A mulher não tem a menor ideia de que conversa com o próprio tempo, e lhe pergunta:
_Por favor, estou agora deveras curiosa para saber a seu respeito.Por acaso, é tão bem servido que não se preocupa com a outra margem do rio?
Chronos, solene, disse que nem ele e nem o seu amigo , o cavalo Pégasus, tinham essa preocupação.
A mulher se irritou:
_Isso mais parece um absurdo quando o ouço.
Chronos disse que poderia lhe contar o seu segredo.
_Existem pessoas que se preocupam com Caronte e existem pessoas que gostam de pensar que podem cavalgar Pégasus. Posso lhe garantir que Caronte e Pégasus não se encontram em lugar nenhum, nem mesmo através de mim, que sou o senhor do tempo.
A mulher ficou confusa e pediu para que lhe explicasse essa magia.
Chronos, com seriedade, disse;
_Caronte leva para a outra margem do rio, mas Pégasus leva aos lugares mais bonitos que se possa imaginar sem que tenha de voltar, a menos que queira voltar dessa cavalgada. Esses voltam e retomam os seus dias com novos horizontes, mas retornam.
A mulher, tentando ser esperta, perguntou.
_E Caronte? Conte mais dele.
_Quem foi com Caronte, ficou no dia de ontem do outro lado do rio. Sinto muito, mas sem chance de adquirir uma nova perspectiva.
A essa altura, a mulher, sem entender muito do que havia sido dito, disse que a massa estava fermentada e que iria tratar de aquecer a lenha para assar os pães.
_Não se demore por aqui, disse ela ao entrar em casa.
Chronos não respondeu nada. Não adiantaria.
Pégasus relinchou, abastecido de água, e lá se foram Chronos e Pégasus pelo universo.
A mulher continuou o seu ofício de fazer pães por muito tempo, mas não deixou de ir até a margem do rio todos os dias a ver se encontrava Caronte.
Um comentário:
A mitologia e suas lições. Compreender o tempo e a vida é o grande aprendizado.
Um abraço. Tudo de bom.
A ARTE DA VIDA. APON HP 💗 Textos para sentir e pensar.
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