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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sábado, 9 de junho de 2018

A Discussão sobre O Livro que Não Foi Escrito


A Discussão sobre O Livro que Não Foi Escrito

     O livro não escrito começou com uma provocação:
     _Duvido que você consiga ler este livro.
     A sensatez e o raciocínio, entendendo a provocação e pensando que poderia se tratar de uma verdade, sugeriu:
     _Se eu não consigo ler este livro, isso eu não sei, mas sei quem pode ler para mim.
     Ousadia não lhe faltou ao dizer:
     _Você que nada sabe de nada, leia e faça um resumo.
     Um resumo de cento e oitenta páginas foi feito e discutido com aquele que achava que talvez não pudesse ler o livro.
     _Ah, isso por certo que não fica assim. Você escreveu cento e oitenta páginas manuscritas num período de seis meses. Vou fazer um trabalho sobre a sua leitura.
     Contatada a editora e o preço da diagramação, começou-se a digitar o texto resumido.
     A cada capítulo digitado, anotações eram feitas para pesquisas complementares após terminado o texto completo.
     _Depois disso, discutiremos o texto novamente e eu ensinarei alguma coisa à você, que teve essa capacidade de fazer um texto seco e claro.
     Passadas algumas páginas digitadas e relidas, chegou-se à conclusão de que era melhor parar de escrever porque era um livro sem ideologia, mas que poderia vir a adquirir alguma no decorrer do estudo.
     Muito além da ideologia de gênero, mas sim político-ideológico. No entanto a discussão sobre a escola com ideologia e sem ideologia de gênero foi a primeira discussão referente ao texto. Porque, havia dentro dessa discussão sobre a escola, uma ideologia política.
     Assim discutia-se o papel fundamental do pai e da mãe na educação infantil e o papel dos professores com os seus limites profissionais. Discutiu-se igualmente as origens culturais das famílias e a convivência salutar entre essas famílias dentro de um ambiente educacional.
     O livro, no entanto era para adultos. Posicionamentos diante das circunstâncias apresentadas era matéria obrigatória.
     Chegou-se à conclusão de que os escritores, quase que compulsoriamente, deveriam ser articulados, os seja, engajados em grupos de interesse que os defendessem. Por mais que se tenha habilidade com textos, é mais fácil escrever um livro muito vendido do que um livro de conteúdo com pontos de vista pessoais.
     Começou-se um intenso debate sobre o que era ponto de vista pessoal e o que era técnico, possivelmente oriundo das pesquisas adjacentes. 
      Começou-se igualmente uma discussão sobre a sociedade em que se vive, devoradora de contextos que difiram dos seus interesses.
     A sensibilidade por certo que interfere na redação de qualquer texto.
     Como expor a sensibilidade de um texto, pois isso exige outra técnica principalmente quando há por conceito não magoar suscetibilidades desconhecidas.
     Entra em questão a figura do leitor. O leitor pode ser frágil ou forte, competitivo ou compassivo, um livro é para que qualquer pessoa alfabetizada possa ler.  
     As discussões se sucederam entre o que era leigo e o que era técnico.
     Um livro de psicologia veio à tona. Decifrado, conclui-se que o conhecimento sobre psicologia seria precário para a conotação exigida.
     No entanto, ambos saíram sabendo mais do que antes do texto. O que era insuportável para um, o outro era didático e vice-versa.
     Diante dessa discussão, surgiu uma discussão interessante que era a origem dessa insegurança de escrever um livro.
     Voltou-se à discussão inicial. O pai e a mãe não tinham responsabilidade nenhuma nessa insegurança, também não havia nenhum motivo para discussão de gênero nem em casa e muito menos na escola.
     A insegurança era originária da desarticulação. A desarticulação tornaria um estudo defensável em discussão ideológica.
    Muito embora cada ser desempenhe um papel especificado em sociedade, estamos numa época onde é moda a invasão da privacidade individual tanto na sua forma real quanto virtual, o que em contrapartida exige que as autoridades também invadam a privacidade individual em acordo com as suas necessidades para garantir a boa convivência em sociedade; constatação que em si mesma é fator de insegurança para escrever um texto.
     Assim sendo há uma enorme discussão sobre um livro que não foi escrito, mas que é muito interessante por todas as discussões que é capaz de gerar. Se um texto simples é capaz de produzir tamanha indagação, imagine o leitor se for escrito.
     Uma provocação, um livro lido e não se sabe quando essas discussões vão terminar entre um leigo digitador e um leitor perspicaz. 
     

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