Carta
Literária
Curitiba,
onze de março de 2017.
Prezado Professor
de Português,
Ainda
nessa semana senti saudades da infância e, mais precisamente uma vontade imensa
de ainda ser criança e apresentar a mesma redação dos doze anos de idade.
Em consequência
daquele robô descrito na redação, o senhor me chamou à frente da turma e me
passou uma descompostura de corar santo.
Para
lembrá-lo da redação, ainda presente na memória, mais pela descompostura que
pela criação, a redação tratava da estória de uma moça que vivia num mundo
egoísta, mas os cientistas, à época, criaram um robô, e no final da redação, a
moça e o robô viveram felizes para sempre.
Lembro
que o senhor disse que aquela redação era falta de fé na humanidade e iria
dizer religiosidades contra ela, mas se conteve pela minha pouca idade.
Com uma
alegria infantil, preciso lhe dizer da notícia da rede CNN Internacional, desta
semana: Mostraram na televisão uma moça e um “robot” (ele não fala português)
abraçados e saindo para passear.
Professor,
ao invés de achar a invenção fantástica, eu fiquei feliz e até comi um bombom
com sabor de infância.
Lembrei-me
do senhor, revoltado com a minha suposição, ensinando aos alunos os valores da
humanidade.
Até que,
naquele momento em que vi a reportagem, concordei com o senhor. Até o “whats’up”,
que as moças que não falam o inglês chamam de “zapzapi”, há quem edite. A “Edite
Robot” já aprontou algumas comigo, mas isso não vem ao caso e à carta.
Concordei
que o mundo está egoísta, mas me achei visionária naquela redação. Realmente, é
uma pena que as escolas joguem fora as redações das crianças após um
determinado período. Se estivesse ao meu alcance, prezado professor, eu iria
até à escola e reveria a minha redação, com uma satisfação imensa.
Se o
senhor tivesse acesso àquela redação, certamente, hoje, prazerosamente, eu iria
conversar com o senhor sobre a redação, os assuntos da humanidade e alguns
assuntos teológicos também.
Mas,
parece que chegamos ao que, por algum motivo, eu vi e escrevi e inventei uma
estória. Aquela redação que mereceu um sermão no colégio onde um padre era o
diretor precisava ser lida hoje. Eu entendo a burocracia e a quantidade de
redações de uma escola. Aqueles armários abarrotados de trabalhos escolares e
testes de alunos com as suas respectivas notas.
Estou
madura, professor. Os métodos de ensino são outros e, a tecnologia nos deixa
emburricada. Ao escrever emburricado, aceita é a sugestão do Word. De sugestão
em sugestão, a qual se pode aceitar ou não, vamos calando a palavra que nos
descreveria melhor. Assim age a “Edite Robot” quando está de bom humor. Ah,
professor, quando a Edite está de mau humor, ela apaga a burrinha da
felicidade.
Escrevo
ao senhor, porque sobre a redação, sobrou à memória, o sermão. Provavelmente a
redação não existe mais. São passados mais de quarenta anos da sua escrita.
Por minha
vez, digo que também não guardei as redações escolares que me foram devolvidas
com as correções e a avaliação.
Por isso mesmo, professor, esta carta não
passa de uma literalidade.
Com todo
o respeito que o senhor merece que fique a imensa discussão de um só num mundo
de tantos sós.
Cordialmente,
Aluna
Yayá.
Um comentário:
Oi, Yayá!
Saudade me deu do tempo das cartas!
Seu Professor certamente lembre, pois o tema não é comum!
Comum, era justamente como você fala na sua carta, não permitia-se pensar "fora da caixa"!
Beijo carinhoso!
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