Vosmecê / Crônica de Supermercado
Eu entrava devagar no supermercado. Aquela voz calma conversando com as moças sentadas para alguma pausa chamou a atenção.
Não estava bêbado e falava com lucidez. Era andarilho e pediu algum pedaço de pão, o que elas ofertaram a ele.
De repente ele falou numa voz pausada e séria:
_Por que vocês não vão à praia? Quem não vai à praia não sabe o que é se banhar na água salgada.
As moças entreolharam-se e não responderam.
Ele, com aquela calma, a de quem viveu muito, coisa que os seus cabelos brancos não negavam, disse mais alguma coisa a elas.
_Nessa vida tudo pode acontecer. Depende daquilo que se crê. O banho salgado acalma, mas salga.
Depois, se repetiu de outra maneira, com a voz serena da sabedoria:
_Não era bem isso o que eu queria dizer.
Essa frase foi dita num tom de humildade não humilhante, foi num tom pensativo que ele exprimia aquela ideia.
As moças ficaram inquietas e trataram de se levantarem e sair dali. Disseram palavras bonitas de bênçãos e desejos de boa sorte na caminhada daquele homem.
O homem guardou o pão na mochila para comer depois.
Ficou muito exata a diferença entre a humildade e a humilhação.
Aquele homem era possuidor de uma humildade altiva, pacífica, difícil de descrever porque era isenta de autocompaixão ou qualquer sentimento além da humildade.
Elas entraram no supermercado e, eu também entrei.
O olhar distante daquele homem com aquele sorriso bom, parecia sussurrar que elas não sabiam o que ele queria dizer.
E eu pensando no que ele diria caso fosse blogueiro. Eu queria ouvir mais e a conversa nem era comigo.
Antes de perdê-lo de vista dei mais uma olhada naquele homem e, ele olhava longe sorrindo como quem olha o mar.
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