Isto deve Ser depressão / Crônica do Cotidiano
Feriado longo e repleto de reflexões. A melhor ideia foi sair para tomar um café.
A ideia não foi somente minha e o lugar estava lotado e, adivinhem, fiquei na fila aguardando ser atendida.
Uma senhora, acompanhada da irmã dela contava com certo entusiasmo, a fim de quebrar o ambiente triste depois de saírem da visita ao cemitério, sobre a reforma do banheiro do seu apartamento.
_Tivemos uma ideia genial. Eu e a vizinha cuja parede do banheiro do apartamento dela é a contraparede do meu. Resolvemos trocar os azulejos e redecorarmos os nossos banheiros de uma vez só. Retiramos os azulejos de ambos os banheiros dos apartamentos e fazemos o barulho em ambos os apartamentos e depois colocamos os azulejos em ambos os apartamentos.
A irmã desta senhora, acompanhada da filha que reclamava que o café da lanchonete é muito mais quente que o café que a mãe faz em casa, perguntou como é que elas fizeram para contratar o pessoal.
_Ah, não se preocupe quanto a isso, o homem que reformará os banheiros é de confiança do condomínio.
A irmã perguntou à senhora se ela fazia parte do condomínio e ela disse que não, mas se foi indicado por quem entende com certeza o serviço ficaria bem feito.
A irmã olhou à sua volta como se perguntasse como dizer o que ela achava num dia em que as duas resolveram sair juntas para irem ao cemitério.
Realmente, ouvimos sobre um drama que pode ser evitado. Ninguém disse nada. Ao contrário, todos (eu me incluo nesse termo “todos”) estavam abismados. Prestamos atenção porque parecia ser um caso de depressão. Afinal, por que é que a vizinha tem que trocar os azulejos na mesma data que a outra vizinha? O incômodo da retirada dos azulejos pode ser negociado com um pouco de paciência.
A irmã procurava argumentos para questionar essa decisão.
_Como é que vocês farão a compra dos azulejos? O homem responsável pela reforma comprará os azulejos, ou você escolherá a cor dos azulejos do seu apartamento?
A senhora, decidida contou que ela e a vizinha sairão juntas e cada uma delas escolherá os seus azulejos, o material será pago pelas duas divididas as despesas igualmente.
A irmã perguntou se, por acaso, não seria melhor que ela fizesse a arrumação do banheiro individualmente.
A resposta foi para qualquer dos ouvintes começarem a pensar em chorar.
_Nós achamos que sairá mais barato porque serão duas pessoas a pesquisarem os preços dos azulejos, podemos exigir mais do homem que irá reformar os nossos banheiros porque estamos em duas.
A irmã perguntou se elas tinham planejado qual banheiro ficaria com os azulejos novos antes.
A senhora respondeu cheia de autoconfiança:
_Isso a gente decide na hora.
O leitor já deve estar pensando em começar a chorar com a resposta dada pela senhora à irmã dela.
A irmã parou de falar e ficou olhando para a senhora sua irmã.
Não, não era provocação. Ela tirou o celular do bolso e mostrou os cálculos, feitos entre ela e a vizinha, para a irmã.
O filho dela concordou com a filha da irmã que o café da lanchonete estava mais quente que o café feito em casa, mas disse que o creme estava bom.
E eu ali com a minha xícara de café pensando que os antigos tinham razão quando diziam que existem feriados que são para descansar, evitar tratar assuntos do dia a dia porque, em dias como o de hoje, não convém.
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