O Palestrante / Crônica do Cotidiano
Estava distraída, quando ouvi as vozes da mesa ao lado. Eram vozes alegres com muito carinho no modo de falar.
O homem falava e a mesa se calava, a história dele era boa. A voz dele, apropriada, de tom afável.
Aquele homem acabava de desembarcar no Brasil após uma palestra e estava reunido com a esposa e os amigos.
A esposa de mãos dadas com ele e, os amigos, festejando o fato de ele ter sido convidado a fazer uma palestra no exterior.
O homem, cansado da viagem, disse da sua experiência:
_Meus queridos, a viagem não foi a passeio. Foram doze horas de viagem até desembarcar na Europa, ir ao hotel, me arrumar e preparar a fala. Aprendi sobre os costumes e algumas curiosidades contadas pelos copeiros do hotel. Vocês sabiam que, por exemplo, na Itália, palestra se chama “Explicazione”? No hotel fiquei conhecido como “O Explicador”.
Os amigos disseram que a viagem foi divertida, mas ele disse:
_Aqui no Brasil nós costumamos pensar assim, mas a responsabilidade de se fazer uma palestra no exterior sendo um convidado brasileiro não me deixou sequer pensar em diversão. Eu tive dúvidas sobre a melhor forma de explanar e liguei para o Brasil inúmeras vezes, troquei ideias com a Laura e com o grupo que eu representava lá fora.
Os amigos dele perguntaram se ele não havia gostado da viagem e ele disse:
_É o meu jeito de ser quando assumo compromissos, eu não me tranquilizo antes de me sair bem de um desafio. Fui muito bem tratado e a palestra, modéstia à parte, foi do agrado dos ouvintes. A sala reservada para o evento também era agradável, estava lotada com uma plateia gentil, mas quem tinha que falar, era eu. Não houve perguntas durante a explanação. Eles esperaram que eu terminasse para abrir a palavra para que o público intervisse com as suas questões. Se eu pudesse explicar a sensação eu diria que foi um monólogo a respeito do conhecimento sobre o que eu me propus a dizer. Não citarei o tema para que vocês não peçam para que eu fale sobre o assunto. A questão do palestrante profissional é dura, pois exige muita pesquisa e poucas intervenções de caráter pessoal.
Os amigos ainda quiseram saber como ele se sentia naquele momento, estavam curiosos e queriam saber de tudo.
Ele, então disse:
_Estou cansado, mas contente porque tudo saiu conforme eu queria que saísse. Foram doze horas de viagem da Europa até o Brasil, quando, o avião atrasou em São Paulo. Somem quatro horas no aeroporto. A Laura foi me buscar e contou que vocês me aguardavam para o almoço. Eu tomei um banho rápido e vim vê-los.
Os amigos sorriam sonhando com a viagem que aquele homem fizera.
O homem concluiu o assunto viagem, dizendo para todos comerem. Ele estava contente de estarem almoçando juntos, mas ele precisava dormir.
Eu estava atenta, a conversa era maravilhosa, plena de sucessos. Terminei de tomar o meu guaraná e vim embora sabendo mais; eu não tinha ideia das dificuldades da vida de um palestrante. Ele explicou.
Um comentário:
Sempre que saímos da nossa rotina diária ou do nosso "modus vivendi" um cansaço redobrado nos penaliza todo o sistema.
Sobra apenas a alegria do reencontro com os amigos e essa força de palavras de amor que nos ajuda a reaproximar todos os homens num sonho de Paz
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