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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Palavras de Fausto _ um conto imaginando um contrato entre Fausto e Mefistófeles

Palavras de Faustoclip_image002clip_image004

Quando fiz o contrato com o “Coisa-Ruim”, não dei a devida importância às letras miúdas. O acordo me fez ganhar todos os bens materiais que eu queria além de prazeres inimagináveis com a experimentação de todas as minhas vontades.

Agora, que todos os meus desejos foram alcançados, eu não gosto de certas alíneas.

Uma delas diz que eu jamais poderei alegar ser ateu a partir do momento da assinatura dele. Eu acreditei no Mefistófeles a ponto de deixá-lo com a minha alma.

Outra delas diz que eu posso infringir sofrimento a qualquer pessoa e, no entanto nada garante que eu me livre dos meus. Não posso esperar alegria ao causar sofrimento, são etapas para os meus objetivos.

Estou com o contrato nas mãos, leiam essa daqui:

_ O cumprimento das cláusulas deste contrato podem causar dores na alma vendida tais como: arrependimento (menos de um por cento), amargura (de um a cinco por cento), desprezo às emoções (na faixa de 10 por cento, efeito colateral definitivo), dizer clichês involuntariamente tais como: “Infelizmente é assim que a vida funciona” (25 a 50 por cento).

E essa outra;

_Sem garantia para outros bens que não estejam vinculados ao prazer físico.

É um contrato viperino que se volta contra as partes. O contrato se volta contra o Mefistófeles também porque o Rival é benevolente e perdoa. Não é o meu caso, cumpri as regras propostas e não me arrependi. Assim é o Demo; paga as despesas e não garante a boa qualidade do produto final. Assim sou dono de todo o meu bairro e não me dou a ninguém e sinto a falta dessa não doação. Tenho a alma doente do desamor que pratiquei e, embora não tenha cometido crimes, o meu desprezo para com o outro é criminoso. É assim que funciona para se conseguir chegar lá, no topo de uma montanha imaginária com um preço desnecessário a maioria dos grandes homens.

Ninguém me impediu de firmar este contrato e do livre-arbítrio, fiz mais valia. A secretária do Demo era fascinante. Parece-me uma autojustificativa inócua este pensamento agora. Eu precisava desse contrato, agora preciso de uma alma, a minha, que talvez não seja resgatada por um bom período na eternidade. É assim que funciona para um covarde. Assim caminho nesse desapego de Fausto.

Um comentário:

Bergilde disse...

Quanta gente boa acaba se arrependendo ao se perceber completamente presa nessa armadilha.Costumo pensar exatamente assim,o mal não tem aparência feia,ao contrário,é fascinante e aí está seu grande tripúdio sobre o ser humano...a ilusão!
Abraços,
Bergilde