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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A menina e a Vaca – conto baseado em fatos reais

clip_image002 clip_image004                      A menina e a Vaca

Era uma criança saudável. Maria estava crescendo e adquirindo maus modos e dizendo palavras que ofendiam os outros, assim ela chamava as pessoas de caipira e dizia que o mato era para tateto. O pai e a mãe se irritavam com o comportamento da menina.

Um dia, quando o seu Aliam bateu palmas no portão como fazia todos os dias às seis horas e trinta minutos para deixar as garrafas de leite em um litro de vidro. Maria avisou em voz alta mãe que o cavaleiro do leite havia chegado e riu-se apelidando o leiteiro. A mãe olhou para o marido, que sorriu amarelo e disse:

_Deixe que eu pego o leite e falo com o homem.

Manoel foi ao portão e pediu desculpas pelo apelido dado pela filha, disse que ela andava apelidando todas as pessoas e causando constrangimento.

_Coisa de criança, seu Manoel. O senhor nem deveria se preocupar. Mas eu queria falar com o senhor. No próximo sábado, os cavalos da carroça (o leite vinha em carroça nos anos 60) vão trocar as ferraduras que estão gastas. Eu não poderei trazer o leite e eu preciso que o senhor vá à chácara pegar o leite. Eu quero mostrar a nova vaca que eu comprei. O negócio do leite está mudando, abriram uma cooperativa e eu perdi parte da freguesia. A vaca Mimosa é da raça holandesa, dá muito leite e está salvando o meu comércio. Temo ainda me associar, eu não sei se vou lucrar com esse novo leite. O senhor já pensou no leite em saco plástico? Leve a sua esposa e a menina. Assim o senhor se distrai e a Maria brinca na chácara e se esquece dessas bobices da idade.

O Manoel pensou que seria uma boa lição para a Maria, que não iria ao parque no próximo sábado. Conheceria a vida no campo.

_O senhor deixa a menina ver a vaca de perto, perguntou o seu Manoel ao senhor Aliam.

_A Maria vai tirar leite da Mimosa, mas guarde segredo.

Apertaram as mãos e se despediram.

O sábado chegou e Maria soube que não iria ao parque?

_O quê? Eu vou perder o meu passeio de sábado?

Laura, a sua mãe, disse que sim.

Chegando à chácara, Maria observou o lugar. Uma casa azul, de madeira, um quintal enorme, crianças menores que ela. Ela tinha 10 anos e as crianças tinham quatro e cinco. A esposa de Aliam ofereceu biscoitos feitos em casa para todos.

_Não se preocupe, dona Ana. Viemos pegar o leite.

Ana contou que o marido não havia chegado do ferreiro ainda. Conversaram todos e se apresentaram as crianças.

Passada meia hora, chega Aliam e os dois cavalos com as ferraduras brilhando de novas.

_Bom dia, senhor Manoel. Vamos pegar o leite que eu estou atrasado até com a ordenha.

Aliam contou que a vaca era ordenhada diariamente às dez horas da manhã. Caminharam juntos até a Mimosa.

_Seu Manoel, hoje a Maria vai me ajudar a tirar o leite, o senhor deixa?

_O senhor garante que a vaca é mansa?

_Garanto.

Manoel e Laura olhavam a uma distância de cinco metros a cena.

Aliam chegou ao lado direito das tetas da vaca, assentou-se no banquinho de madeira que ele fincou no chão embaixo da vaca, colocou o enorme vasilhame prateado entre as pernas e ordenou que a Maria ficasse ao lado da vaca e não entrasse embaixo da mesma.

No silêncio da chácara todos ouviram as recomendações do homem:

_Maria, não vá caminhar agora. A vaca não pode se assustar. Se ele se assusta, ela dá coice e eu derrubo o meu vasilhame no chão. Se o leite derramar, somente amanhã beberemos leite.

Seu Manoel, ligeiramente ansioso, perguntou se a Mimosa estava prenha. A barriga da vaca estava enorme.

_É leite, senhor Manoel. Se a ordenha não for feita, senão o ubre intumesce, incha e inflama.

À medida que Aliam tirava o leite sob os olhos atentos da Maria, a vaca mugia:

_Hummm...

Aliam explicou que ela sentia alívio. Esse mugido era de alívio.

Quase no final da ordenha, veio a novidade:

_Agora é a vez da Maria.

_Eu? Eu não sei fazer isso!

Aliam ensinou a menina a puxar a teta da vaca que estava mais próxima da menina.

No que a menina puxou, a vaca mugiu e se mexeu:

_Muuuu...

_Maria, a Mimosa me contou que você puxou demais e a machucou. Não é assim. Tente de novo.

Maria puxou bem devagar e não saiu leite. A vaca olhou para o lado para ver o que estava acontecendo. Nem a vaca entendia aquela ordenha.

_Maria, tente de novo. Disse Aliam.

Enfim o leite saiu e caiu no vasilhame largo o suficiente para não haver perdas.

_Assim é que se faz. Aprendeu. A gente tem que ensinar tudo o que puder para as crianças, disse Aliam olhando para Manoel. Eles aprendem a dar valor a cada uma das atividades. O meu pequeno, de cinco anos, vem acompanhado da Ana e fica vendo a ordenha. Quando ele fizer sete anos, eu quero que ele aprenda a tirar o leite e que me acompanhe aos finais de semana na entrega. Se é que a entrega ainda existirá, se é que o leite em saco plástico não vai me levar à falência.

-Ânimo homem. Se o leite em saco plástico vingar, você entra para associação das cooperativas.

Os litros de leite estavam entregues em mãos. O leiteiro agradeceu e o senhor Manoel agradeceu em dobro. Na volta para casa o Manoel foi dizendo à filha se ela reparara na educação daquela família, no respeito com que se trataram e o quanto fora agradável aquela manhã.

_Eu estou errada?

_Está. A educação abre o caminho para a boa convivência e você não se comporta bem quando desfaz dos outros.

Maria não mais brincou daquele modo e não esquece a lição. Por mais que o outro seja mal educado, o problema que seja dele e não seu.

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