Um homem apareceu no bairro de Botiatuvinha, Curitiba, e foi de comércio em comércio com a mesma história:
_Eu fui atropelado no sábado passado e procuro informações sobre o acidente que sofri. Você viu o acidente?
Os comerciantes, em geral, diziam que não viram o acidente e que cuidavam do negócio. Perguntavam a que horas o fato se deu. Dizia também que era uma sem-vergonhice o motorista fugir de prestar socorro e que a cidade estava muito grande e que ninguém mais dava jeito na cidade.
O homem, de calça de sarja e camisa de mangas compridas, continuava:
_Eu não estou me explicando bem. O dono do carro se apresentou na delegacia do bairro, ele não foi desatencioso. Ele pagou todas as minhas despesas médicas.
O comerciante então dizia:
_Eu é que não entendo. O senhor vai de loja em loja perguntar sobre o acidente e o senhor sabe quem foi e não tem o que reclamar!
O homem, então respondeu:
_Na hora do acidente eu desmaiei e não vi nada. A polícia sabe e lá está tudo em ordem. Eu quero descobrir quem chamou o socorro porque eu acordei no hospital e quero descobrir quem me salvou.
O comerciante disse que provavelmente foi o dono do carro. O homem disse que não; o dono do carro sofre de pressão alta e se sentiu mal. Ele se dirigiu ao pronto-socorro antes de ir à delegacia.
_Mas, se está tudo bem, por que o senhor não deixa de lado essa história?
_Eu quero agradecer quem me salvou! Eu sou um homem agradecido, estou vivo e quero agradecer.
Com essa história, o homem conseguiu bater de casa em casa e conhecer todas as famílias do bairro. Conversa vai, conversa vem, ele até ganhou apelido e travou amizade com os moradores.
“Lá vai o atropelado, lá vem o atropelado”, dizia o povo do bairro.
Outro dia, ele apareceu nas lojas para dizer que havia encontrado o “salvador”, o homem que havia chamado o socorro médico. Os moradores ficaram contentes e, alguns, até sentiram saudades do tal homem.
Enquanto isso, em um gabinete da prefeitura, o homem se reunia com o político:
_Doutor, descobri todas as necessidades do bairro Botiatuvinha. O senhor já pode começar a campanha para as próximas eleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário