Nesse Caso, Não É A Ingenuidade
Clara Clarice faz coisas que ninguém faz.
Pobre da moça do estacionamento:
_Quem te sustenta sou eu que trago o meu carro para estacionar aqui. Se é de luxo, problema meu. É bom que você baixe a cabeça mesmo, do contrário, eu falo com o dono e te mando embora. Não duvide da minha influência npo seu emprego.
Hoje é a segunda vez. O primeiro foi um homem, bem apanhado:
_Doze reais de estacionamento? Um roubo. Mas eu posso, entendeu?
Ela olhou para ele assustada.
_Não me olhe com essa cara de assustada, que eu devia era esfregar uma nota de cem reais. Pelo menos para você ter a oportunidade de ver uma nota de cem reais uma vez na vida.
Ela ficou séria.
_Não me olhe com seriedade! A tua obrigação é calar a boca e me ouvir. Você é paga para isso! Escute, cale a boca e não faça cara nenhuma, porque do contrário eu digo que você afronta os fregueses do estacionamento.
Clara Clarice ficou triste, mas continuou o dia no estacionamento.
_Fica sentada o dia inteiro na folga? Na hora em que eu puder eu tiro essa sua folga de tratar com cliente bem de vida o dia inteiro. O que você pensa que é?
O sorriso de cordialidade é obrigação da função.
O telefone toca.
_Quer um carro novo?
Ela diz que não e se despede.
O telefone toca:
_Tem seguro de vida?
Ela diz que a empresa paga um seguro de vida para ela.
O telefone toca:
_Quem é o responsável pela linha telefônica?
Ela diz que não é ela.
Uma parente aparece no estacionamento para vê-la.
_Como é que eu, que paguei o preço para ter tudo o que eu tenho, não tenho essa boa disposição com os meus clientes?
Clara Clarice perde a paciência:
_O preço que você pagou é o preço que você pagou. Ninguém tem que pagar o preço que você pagou para não ter o que você tem porque não quer ter o que você tem. Siga bem com o seu preço e as suas conquistas, os seus planos são seus e não meus. Porque, se você tivesse o que eu tenho, você teria que ter muita paciência. Mas algo eu posso te dizer: Não iria te procurar porque sofri uma frustração, eu me resolvo. Resolva-se e viva como quiser.
A parente saiu aborrecida com a resposta.
Dali a pouco, chega o chefe:
_Clara Clarice, acabo de ser assaltado, tenho que dar queixa à poilícia, e você cuida de tudo enquanto eu estiver fora.
_Deixa comigo, chefe.
O dia acabou e Clara Clarice voltou para casa. Ao ir ao banheiro para lavar as mãos, ela se olha no espelho e diz para si mesma:
_Por hoje acabou? O que está acontecendo? Será que eu não sei o que está acontecendo na cidade? Pensou em Erasmo Carlos, precisa lembrar que existe.
Um comentário:
Ela, Clara Clarice "precisa lembrar que existe", assim como tantas, como tantos, enfim...
Amei ler a crônica, como sempre, bem inteligente querida amiga Yayá!
Deixo aqui abraços apertados pra você!
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