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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Nesse Caso, Não É A Ingenuidade

Nesse Caso, Não É A Ingenuidade

     Clara Clarice faz coisas que ninguém faz.
     Pobre da moça do estacionamento:
     _Quem te sustenta sou eu que trago o meu carro para estacionar aqui. Se é de luxo, problema meu. É bom que você baixe a cabeça mesmo, do contrário, eu falo com o dono e te mando embora. Não duvide da minha influência npo seu emprego.
     Hoje é a segunda vez. O primeiro foi um homem, bem apanhado:
     _Doze reais de estacionamento? Um roubo. Mas eu posso, entendeu?
     Ela olhou para ele assustada.
     _Não me olhe com essa cara de assustada, que eu devia era esfregar uma nota de cem reais. Pelo menos para você ter a oportunidade de ver uma nota de cem reais uma vez na vida.
     Ela ficou séria.
     _Não me olhe com seriedade! A tua obrigação é calar a boca e me ouvir. Você é paga para isso! Escute, cale a boca e não faça cara nenhuma, porque do contrário eu digo que você afronta os fregueses do estacionamento.
     Clara Clarice ficou triste, mas continuou o dia no estacionamento.
     _Fica sentada o dia inteiro na folga? Na hora em que eu puder eu tiro essa sua folga de tratar com cliente bem de vida o dia inteiro. O que você pensa que é? 
     O sorriso de cordialidade é obrigação da função.
     O telefone toca.
     _Quer um carro novo?
     Ela diz que não e se despede.
     O telefone toca:
     _Tem seguro de vida?
     Ela diz que a empresa paga um seguro de vida para ela.
     O telefone toca:
     _Quem é o responsável pela linha telefônica?
     Ela diz que não é ela.
     Uma parente aparece no estacionamento para vê-la.
     _Como é que eu, que paguei o preço para ter tudo o que eu tenho, não tenho essa boa disposição com os meus clientes?
     Clara Clarice perde a paciência:
     _O preço que você pagou é o preço que você pagou. Ninguém tem que pagar o preço que você pagou para não ter o que você tem porque não quer ter o que você tem. Siga bem com o seu preço e as suas conquistas, os seus planos são seus e não meus. Porque, se você tivesse o que eu tenho, você teria que ter muita paciência. Mas algo eu posso te dizer: Não iria te procurar porque sofri uma frustração, eu me resolvo. Resolva-se e viva como quiser.
     A parente saiu aborrecida com a resposta.
     Dali a pouco, chega o chefe:
     _Clara Clarice, acabo de ser assaltado, tenho que dar queixa à poilícia, e você cuida de tudo enquanto eu estiver fora.
     _Deixa comigo, chefe.
     O dia acabou e Clara Clarice voltou para casa. Ao ir ao banheiro para lavar as mãos, ela se olha no espelho e diz para si mesma:
     _Por hoje acabou? O que está acontecendo? Será que eu não sei o que está acontecendo na cidade? Pensou em Erasmo Carlos, precisa lembrar que existe. 
        

Um comentário:

Ivone disse...

Ela, Clara Clarice "precisa lembrar que existe", assim como tantas, como tantos, enfim...
Amei ler a crônica, como sempre, bem inteligente querida amiga Yayá!
Deixo aqui abraços apertados pra você!