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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 16 de junho de 2019

Sensatez / Crônica de Supermercado

Sensatez / Crônica de Supermercado

     Acordei e, logo ao café da manhã percebi que teria meio pão para o lanche. Supermercado ao domingo? Sim, supermercado ao domingo.
     Comprei os pães e fui ao caixa.
     Para às nove e trinta e cinco da manhã, a sensatez do garoto foi imensa nos seus comentários.
     Perguntado por um colega o que ele achava da função, o garoto, aparentando uns dezoito anos, respondeu:
     _O trabalho é bom, o ambiente é bom, mas a sensação é a de que trabalho dez horas por dia.
     _Então não é bom, está difícil trabalhar aqui, disse o colega.
     _O trabalho é bom, mas hoje, por exemplo, eu tive que levanrar às seis da manhão para chegar no ponto de ônibus às sete da manhã. Se eu perdesse esse ônibus das sete da manhã, eu não conseguiria bater o ponto às nove da manhã. São seis horas de jornada. Saio às dezessete horas. Chegarei em casa às dezenove horas, com sorte. Se eu perder o ônibus das dezessete e dez da tarde, eu chegarei em casa às vinte horas. Isso me traz a angústia permanente de perder o horário de entrar no serviço.
      O colega, pensou, pensou, e perguntou a ele porque não pegava a jornada de oito horas. Disse ao colega que ele era responsável e que poderia até ganhar um pouco mais.
      _Se eu pego a jornada de oito horas, eu perco o emprego, porque não consigo fazer mais do que eu faço, e eu ainda quero estudar. Não, prefiro ganhar menos e estudar um pouco mais.
      Quanta sensatez nesse comentário!
      Nesse comentário, sem querer, discute-se o problema da cidade grande com as cidades vizinhas, onde pessoas com menor renda conseguem se estabelecer.
      Nessas cidades menores as oportunidades de emprego são poucas, e muito embora recebam vale-transporte e outros benefícios, eles têm uma preocupação constante com o horário, algo muito interessante para ser discutido entre empregadores e empregados.
      Essa é uma questão importante para aqueles que não possuem seus próprios automóveis, o transporte, porque há uma diferença entre aquele que pega o ônibus para ir ao cinema, por exemplo e aquele que pega ônibus para ir ao trabalho.
      O que eu não sabia era o nível de angústia causada pela espera do ônibus, muito menos sobre o cansaço físico e emocional de quem quer alcançar um patamar melhor no futuro.
     Por fim, antes de sair, ouvi a conclusão do jovem:
     _Estou no meu limite, não me arrisco a nenhuma outra atividade.
     Gostei de ouvir, gostei da sensatez do comentário, e acho que é algo para ser discutido.  

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