Restam
os Livros
Um ator
que representa Shakespeare, por vontade, escreveria num blog texto próprio sem
pseudônimo? Se assim o fizesse, não o acreditariam seus leitores.
Quanto
aos atores, cuja paixão indomável pelas apresentações teatrais, talvez
escrevessem num blog para ocultar o ser e fazer brilhar o não ser do
personagem.
Teatros
são construídos, demolidos, reformados e redecorados. A estética chama o seu
público,
Num
contexto geral, as ideias são mais importantes do que o autor, os atores, o
teatro, a montagem e, até mesmo o público, posto que a ideia, uma vez
proferida, paira pelo ar, invisível e discutível.
Os
autores excepcionais são reconhecidos, premiados, lidos, aplaudidos,
interpretados e, hoje em dia, filmados.
Os atores
são esses desconhecidos escondidos sob as vestes dos seus personagens, a
personalidade oculta é a maleabilidade para a incorporação de um forte
personagem.
Tudo o
mais é a representação dos recursos financeiros para que o autor, os autores e
toda a exibição estejam em acordo ao pretendido.
Ao autor,
cabe à redoma de cristal lúdica criada através da sua imaginação, é alguém cuja
alma transborda invariavelmente a fim de dizer o inexprimível que a alma
nega-se a calar. É através do texto que o autor busca compartir o que lhe é estranho
e absurdo inserido à realidade presenciada ou sabida.
O ator,
esse não ser que dá voz ao personagem, o sente através das falas e gestos
delineados em algumas linhas. Sem ele, o personagem é pífio. A ele cabe a
tarefa de não mostrar-se continuamente ao público, dentro e fora do palco. É
alguém que jamais saberemos realmente quem é.
O público
é influenciado por todos os elementos presentes, do texto à qualidade da
montagem. Entre o sucesso e a crítica, há mundos separados e distintos.
A
realidade, ao cotidiano, não é o palco, onde os espectadores restringem-se à
compra dos ingressos, a peça e, o filme, conforme dizia o jargão: “Comprem o
livro, ouçam o disco e vejam o filme”.
Ao dia a
dia, cada passo é contínuo, cada decisão tem que ser tomada com cuidado porque
muitas dessas decisões farão companhia, a quem se decidiu por ela, até por toda
a vida.
O normal
da realidade é que a alma não transborde, mas o que é feito do autor quando
esse fato ocorre com a realidade a seu redor, abstraída de personagens e
ideias, compostas da materialidade a que o ser está sujeito, senão expor as
ideias cotidianas e fazer novas buscas por personagens cheios de vontade e
energia.
Quanto
aos atores, quando sem personagens, acredita-se que eles são personagens de si
mesmos, aguardando o imaterial que possa substituí-los como forma de se expressarem
ao mundo que os rodeia.
Agora o
teatro é vazio. Restam os livros.
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