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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Restam os Livros

Restam os Livros

     Um ator que representa Shakespeare, por vontade, escreveria num blog texto próprio sem pseudônimo? Se assim o fizesse, não o acreditariam seus leitores.
     Quanto aos atores, cuja paixão indomável pelas apresentações teatrais, talvez escrevessem num blog para ocultar o ser e fazer brilhar o não ser do personagem.
     Teatros são construídos, demolidos, reformados e redecorados. A estética chama o seu público,
     Num contexto geral, as ideias são mais importantes do que o autor, os atores, o teatro, a montagem e, até mesmo o público, posto que a ideia, uma vez proferida, paira pelo ar, invisível e discutível.
     Os autores excepcionais são reconhecidos, premiados, lidos, aplaudidos, interpretados e, hoje em dia, filmados.
     Os atores são esses desconhecidos escondidos sob as vestes dos seus personagens, a personalidade oculta é a maleabilidade para a incorporação de um forte personagem.
     Tudo o mais é a representação dos recursos financeiros para que o autor, os autores e toda a exibição estejam em acordo ao pretendido.
     Ao autor, cabe à redoma de cristal lúdica criada através da sua imaginação, é alguém cuja alma transborda invariavelmente a fim de dizer o inexprimível que a alma nega-se a calar. É através do texto que o autor busca compartir o que lhe é estranho e absurdo inserido à realidade presenciada ou sabida.
     O ator, esse não ser que dá voz ao personagem, o sente através das falas e gestos delineados em algumas linhas. Sem ele, o personagem é pífio. A ele cabe a tarefa de não mostrar-se continuamente ao público, dentro e fora do palco. É alguém que jamais saberemos realmente quem é.
     O público é influenciado por todos os elementos presentes, do texto à qualidade da montagem. Entre o sucesso e a crítica, há mundos separados e distintos.
     A realidade, ao cotidiano, não é o palco, onde os espectadores restringem-se à compra dos ingressos, a peça e, o filme, conforme dizia o jargão: “Comprem o livro, ouçam o disco e vejam o filme”.
     Ao dia a dia, cada passo é contínuo, cada decisão tem que ser tomada com cuidado porque muitas dessas decisões farão companhia, a quem se decidiu por ela, até por toda a vida.
     O normal da realidade é que a alma não transborde, mas o que é feito do autor quando esse fato ocorre com a realidade a seu redor, abstraída de personagens e ideias, compostas da materialidade a que o ser está sujeito, senão expor as ideias cotidianas e fazer novas buscas por personagens cheios de vontade e energia.
     Quanto aos atores, quando sem personagens, acredita-se que eles são personagens de si mesmos, aguardando o imaterial que possa substituí-los como forma de se expressarem ao mundo que os rodeia.

     Agora o teatro é vazio. Restam os livros.

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