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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Saracoteando

Saracoteando

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Maria Noêmia comprava roupas na loja da amiga. Conversava com a amiga, quando o telefone tocou e ela pediu para se ausentar por um breve momento. Enquanto a outra se resolvia ao telefone, ficaram ela e a empregada da loja, chamada Judite, vendo os produtos e os preços.

A empregada estava muito gentil. Disse que a amizade dela com a dona da loja era para se admirar, o respeito de uma para com a outra e que a sinceridade e a afeição entre elas eram raras de se ver hoje em dia. Chegava a se emocionar ao falar.

Maria Noêmia ficou agradecida pela gentileza e a boa vontade da moça. Quando percebeu o sorriso meigo no rosto de Noêmia, a empregada perguntou como quem quer saber:

_E aquele seu namorado, a senhora nunca mais soube nada?

Noêmia percebeu o motivo da boa atenção e respondeu:

_Qual deles?

Judite não perdeu a pose ao responder que era aquele do qual todo o povo falava.

Noêmia insistiu em saber qual deles e disse que o povo gostava de falar demais.

_A senhora não se faça de mal entendida porque eu sei que a senhora é letrada. Posso ser sua amiga para continuarmos essa conversa?

Maria Noêmia concordou e disse que poderiam ser amigas.

_Usando da sinceridade, que eu observo entre a senhora e a minha patroa, vou falar. Eu trabalho há oito anos aqui e a loja fica próxima à sua casa. Todos os sábados, quando saio daqui,eu vejo a senhora saindo à tarde para comprar pastel. O dono da pastelaria é casado, homem de bem que não namora ninguém além da mulher dele. Concluo que a senhora está sozinha.

_Sim, Judite. E daí?

Judite continuou a prosa:

_Como assim, e daí? Eu agora sou sua amiga. Tanto sou que não falo o nome do dito cujo para que as paredes não nos ouçam. Mas eu posso descobrir onde ele foi, de que jeito, como ele está ou onde esteve. O meu presente para a senhora, em consideração a essa amizade nova, pode ser este. Gratuitamente. Eu pago as passagem do meu bolso, pego os meus dias de folga, pergunto às minhas amigas. Faço isso pela senhora.

Noêmia agradeceu à moça e disse que tinha o telefone dele e se quisesse contatava com ele.

Judite foi sensata:

_O telefone que a senhora tem é do tempo em que a senhora saía com ele. Se ele mudou o número, a senhora não conseguirá falar com ele.

Noêmia disse que agradecia toda a consideração, mas que queria ficar por conta e risco próprios. Além disso, ela não mudara o número do seu telefone. Se ele quisesse, ligaria.

Judite pensou e respondeu que assim ela não descobriria nada e acabaria por mudar do pastel para o pão de queijo.

Noêmia disse que o assunto estava encerrado. O pão de queijo, de vez em quando, não fazia mal a ninguém. Essa sugestão ela acataria.

Nesse ínterim, a dona da loja voltou, Noêmia comprou uma camiseta de malha de algodão e foi-se embora. A orelha coçava, parecia que pernilongos, formigas, pulgas haviam se instalado atrás da orelha. Mais do que nunca ela precisava saracotear. Ela tinha convicção de que a Judite queria mais do que disse, mas não iria farejar ninguém através da moça.

Saracotear era melhor do que se coçar. Saiu para se divertir saracoteando... E se divertiu.

2 comentários:

Bergilde disse...

Gostoso de se ler e com uma moral bem interessante também Yayá.Muitas vezes o que nao tem jeito é melhor que permaneça onde e como está.
Grande abraço,

Célia disse...

O pior dos 'saracoteios' são os mentais em línguas ferinas...
Bj. Célia.