Ninguém é obrigado a saber
Eu conto
É de manhã, algum vizinho distante ouve Tonico e Tinoco enquanto eu dormia.
Nesse sono leve da manhã, vem o som, abro os olhos, embora precise dos meus ouvidos e tento identificar a canção. Com uma nitidez impressionante ouço palavra por palavra e sílaba por sílaba da música clássica do cancioneiro nacional Luar do Sertão.
Acordo e fico em silêncio. Quando um vizinho distante ouve outro gênero musical, repito distante porque o som chegava baixinho acariciando os meus sentidos musicais, ouve-se um som distorcido, a música não está acompanhada da letra e os acordes da canção se misturam trazendo um som que não acorda, esse outro som te derruba da cama.
Procuro nos meus arquivos pessoais um significado. A explicação é que o gênero sertanejo, também chamado caipira, tem a afinação vocal em terças, a primeira e a segunda voz se completam e o som é nítido. É preciso conhecer música para se ouvir a música sertaneja e entender a sua afinação. Existem pessoas que cantam em terça, é uma voz única na sua afinação, é belíssima e apenas os músicos percebem que não é desafinação, é canto para acompanhar a viola caipira.
A desafinação é fora do tom, o canto em terça é cantado no intervalo da terça musical. A função desse texto é pedir aos leitores que não desfaçam dessa música tão brasileira e tão ouvida pelo país adentro. Existem músicas boas nesse gênero musical e se equivalem com o clássico da MPB (música popular brasileira).
A letra é um poema e escolhi a versão cantada por Vicente Celestino:
Ah que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
A gente fria
Desta terra sem poesia
Não se importa com esta lua
Nem faz caso do luar
Enquanto a onça
Lá na verde da capoeira
Leva uma hora inteira
Vendo a lua derivar
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Ai quem me dera
Que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra
E dormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a surubina
Chora a sua viuvez
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Reparem como a letra é da primeira versão da música e, depois de muita confusão, ouçam como ficou na gravação. São diferentes, vale conferir a segunda edição.
24 comentários:
Oi Yayá, incrível, ouvi o vídeo e fui tentar acompanhar com a letra postada, realmente diferentes.
E olha que eu amei a versão original, linda por demais.
Eu respeito a música raiz, e na verdade gosto dela.
Linda explicação em sua postagem.
Beijos de um delicioso final de semana pra você.
Tem toda a razão, são efetivamente diferentes, querida Yayá! Adorei a sua crónica. Excelente postagem. Bjito amigo e bom fim de semana.
No coração... na raiz de uma família de origem cabocla como meus avós maternos, ao entardecer no sítio voltavam da roça e ouviam "a rádia" como dizia meu avô João... a moda de viola do "Tônico e Tinoco"... Saudade!
Obrigada pelo momento! Abraço, Célia.
Que prazer, Yayá!
E o assunto escolhido, música tradicional brasileira, é ótimo.
"Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Na minha opinião, disputa com "Asa Branca", de Gonzaga, o privilégio de ser a mais querida música brasileira.
Grande abraço,
Jorge
Que prazer, Yayá!
E o assunto escolhido, música tradicional brasileira, é ótimo.
"Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Na minha opinião, disputa com "Asa Branca", de Gonzaga, o privilégio de ser a mais querida música brasileira.
Grande abraço,
Jorge
Sabe que gostei bastante, embora não curtir muito esse estilo. Agora Deus me livre acordar com música alta ninguém merece. Eu acordo com música alta todos os dias, vizinho a,b, c, e d. A letra da música é muito bonita. Desejo um ótimo fim de semana cheio de coisas especiais. Beijo grande amiga!
Smareis
bastante interessante Yayá..
e a diferença existe mesmo..
beijos linda! e obrigada sempre..
Acho muito linda essa música.
A letra é pura poesia.
Hoje em dia, infelizmente, já não se fazem letras assim.
Os autores morreram, e levaram com eles a receita.
Quando meu sogro era vivo, e nas férias viajávamos para a casa dele, eu sempre acordava com esse tipo de música, tocado no seu radinho querido, e bem baixinho, que era para não acordar os netos...:)
Beijão pra você, yayá, tenha um abençoado domingo.
Cid@
Adorei a explicação.
Um beijo grande
Parabéns pela postagem. Existe uma controvérsia sobre a autoria deste clássico da música sertaneja, normalmente se ouve citar Catulo da Paixão Cearense como autor, porém há uma corrente que afirma que já era uma música de domínio popular que Catulo apenas incorporou no seu repertório. De qualquer maneira é um clássico. O Brasil é riquíssimo nessa diversidade de ritmos e culturas. Cada região com incontáveis belezas culturais. Precisamos resgatar a música brasileira. Um abraço Yayá.
Muito interessante o texto. O poema de Catulo da Paixão Cearense é belíssimo e a canção também. Abraços. Vôgaluz
Olá,Yayá!
Belo post, confesso que não é muito o meu gênero...Mas a letra é muito bonita!
Beijos pra ti!!
Bom domingo!!
Detesto que me acordem, mas ouvindo esta canção veio-me a questão das letras das musicas que eram tão doces e inocentes e agora tão sexuais e agitadas tal qual o mundo contemporãneo.
Abraço querida
Realmente sáo bem diferentes, mas sáo lindas, beijo Lisette.
Yayá
Totalmente diferente! Muito legal e pertinente a sua observação. Bjkas com carinho!
Viva Yayá!
Sabe, curiosamente, como Português, também aprecio muito este género de música e entra-me bem no ouvido a música (cantada) tradicional brasileira / sertaneja. Então esse Luar do Sertão há muito que me delicia, embora numa versão mais clássica que por vezes se ouve na tv, aqui, por exemplo. Lembro-me que há já alguns anos vi uma tele-novela brasileira, na televisão oficial de Portugal (apesar de eu não seguir essas novelas televisivas, mas por vezes chamava-me a atenção quando passavam trechos musicais), cujo nome, o título, não me recordo, mas sei que era sobre a vida do Sertão, e aí eu gostava muito das cantigas que os boiadeiros, como salvo erro me parece que eram, cantavam...
Minha linda !
A musica de raiz nos dá uma conotação que nos eleva em nostalgia...
Amei seu post,vc fugiu do tradicional e eu amei...
Bjsssssssssssss
Linda a letra da música. Meu pai gostava desse estilo de música e ouvia sem parar essas canções de raízes sertanejas, que tanto falam das coisas da terra, dos costumes que já se foram.
Parabéns pela postagem Yayá
Parabéns pela postagem Yayá!
Deu saudade de um tempo que não volta mais...
Beijo no coração!
Olá Yayá!
Bom saber sobre esse particular da música sertaneja brasileira que também aprendí a apreciar e acredite que foi daqui distante trazendo cds diversos que me dei conta de como as letras contam histórias bonitas e muito reais.
Grande abraço neste início de semana!
saudades de suas postagens...fico com saudades quando te afastas...
bjsssssssssssss
Essa é a verdadeira Música POPULAR Brasileira! Deveria ser resgatada e homenageada. O que hoje é chamado de música "sertaneja", de sertaneja não tem nada. Nem o tema, nem as violas...
Seu post me remeteu à infância quando eu era acordada com o tema musical de um programa de rádio cuja letra inciava com: o galo cantou, o dia amanheceu...
muitos beijos
Yayá! Você nos provoca e nos faz recordar e buscar lá no nosso "interior" as nossas identidades. Um abraço bem caipira, matutinho, setanejo, brasileiro, do "jeitiho" que só agente sabe dar!
a musica sertaneja propriamente dita ( nao as atuais - chitaozinho e xororo e cia .) são lindas.
eu adoro uma musica em especial do tonico e tinoco "BEIJINHO DOCE". que mimo é esta musica .
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