Madalena, a zeladora da escola, observava o comportamento da secretária Shirley. Chegava a hora do almoço e ela comentava com as colegas que mantinham o pátio da escola limpo:
_Estou preocupada, que fique entre nós, mas ela não para. Há meses está concentrada nos alunos, nos professores e naquilo que a direção pede. Eu, na opinião de vocês, deveria aqui elogiar a Madalena, mas ela está com a expressão congelada. Se é que vocês me entendem, ela não fica aborrecida, entediada, alegre ou satisfeita, ela tem um sorriso igual de olhos cansados do computador.
As colegas se adiantaram e perguntaram a Madalena porque ela não falava de outro assunto, comentários poderiam acabar em disse-me-disse e a prejudicada seria ela mesma.
Madalena não se deu por inconveniente.
_Deixem que eu resolva o problema da Shirley sem abrir mais essa boca.
As colegas mudaram de assunto.
Na hora da limpeza, Madalena tratava bem a secretária e ficava de olhos no sorriso da moça.
_A senhora está satisfeita com a limpeza?
_Estou, respondeu a secretária.
Assim ela se mantinha em contato e sabia a cada dia um pouco mais a respeito da secretária, coisas como a marca dos biscoitos que ela comia na hora do intervalo.
Um dia, enquanto fazia a limpeza da sala, ela pergunta:
_As suas coisas estão em ordem?
_Estão.
Agora, Shirley temia que a Madalena se tornasse inconveniente e ela tivesse que reclamar, a moça era boa funcionária e seria aborrecido ser obrigada a tomar alguma atitude contra a zeladora.
No dia seguinte, Madalena, cheia de autoconfiança, diz antes de sair da sala da secretária:
_Existem coisas que aparecem e outras que desaparecem, assim é a vida. Até logo e fique com Deus.
Shirley ficou intrigada, mas depois desconsiderou. Fazia parte da personalidade da moça essas perguntas e agora, frases. Esqueceu. Terminou o dia, foi para casa e abriu a bolsa para tirar o pacote de biscoitos com o biscoito que sobrou do intervalo, quando encontrou um pacote de balas lacrado. Não eram balas comuns, eram as balinhas de morango preferidas do seu ex-marido. Pensou em como é que a Madalena sabia da marca dos doces preferidos do ex-marido e não encontrou uma resposta. Modificou a fisionomia com tantas perguntas a fazer, mas não as faria para a zeladora. De todo o modo refletiu sobre a sua vida. Se pudesse daria asas de anjo à Madalena por fazê-la sorrir. Comeu uma bala, daquelas que jamais experimentou enquanto casada e eram realmente saborosas, até que ele tinha bom gosto. Quando mentalmente o elogiou, sentiu evaporarem todas as suas atitudes que baixavam a auto-estima. Se ele tinha bom gosto, ela tinha qualidades; que eles fossem felizes, cada um do seu jeito.
No dia seguinte, quando Madalena entrou para arrumar a sala:
_Madalena, o que você mais gosta de arrumar?
A expressão da Shirley estava diferente.
_Enxugo gelo com devoção.
11 comentários:
Que lindo minha querida sua criatividade consegue tocar a alma e nos faz refletir sempre, bjus.
Belíssimo texto ( conto). Criatividade, sensibilidade e...muita psicologia. Um bom texto para reflexão.
Bjito amigo e um bom fim de semana.
PS: Vou recitar o seu poema no dia 8 no Alentejo.
Ainda deglutindo o conto, as palavras e esse anjo sem asas que fez Shirley, pela primeira vez se dirigir a Madalena primeiramente, antes que ela o fizesse.
E a resposta de Madalena, é coisa de anjo mesmo, enxugar gelo com devoção.
Um conto que me emocionou.
Sua criatividade é ímpar.
Beijos querida Yayá.
Tenha uma deliciosa noite.
Obrigada querida pelas visitas no meu blog e pela generosidade de seus comentários.Parabéns pela sutileza e pelo dom de contar histórias e juntamente com elas embutir ensinamentos.Adorei!! Tenha um final de semana feliz.Bjs.Eloah
Uma hora o gelo acaba...
Yayá sua crônica é ótima.
Beijokas doces e um bom fim de semana
oi, Yayá!
Atualize o link do meu blog, por favor! http://nellsantos.blogspot.com
Bjs!
Boa noite...anjos sem asas, penso que existam muitos por ai, acredito mesmo, pois a cada historia que eu ouço, fico estarrecida com a narração vivida pela pessoa, e como explicar então? Existem mesmo e estão por ai, e na hora que mais precisarmos, eles aparecem e nos auxiliam com certeza...bjin e fique com DEUS!
Ah!!... Também tenho meu anjo sem asas... a me zelar e velar diuturnamente!! Amo-o! Bela a sua crônica! [ ] Célia.
Olá Yayá!
Que conto gostoso de ler, na verdade estamos cercados de anjos por todos os lados, feliz de quem os vê!
Bjos
Sempre lindo o que encontro aqui!
Um beijo enorme e um ótimo fim de semana!
Estou esperando por vc no Alma!
Queridos amigos, até segunda eu volto a blogar. Um abraço a todos, Yayá.
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