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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Carte Literária - Meu Prezado Confessor

                  

Carte Literária - Meu Prezado Confessor


          Curitiba, 26 de outubro de 2023


         Meu Prezado Confessor,


          Recebi a mensagem procurando pela indicação de um caminho coerente, não aquelas oriundas das paixões, e resolvi lhe escrever, pois perguntas ocorrem diuturnamente, e não me abstenho de responder desde que possa corresponder com algo verdadeiramente existido.

         A sua indagação merece que seja exatamente respondida.

          Sou de um tempo onde as crianças eram obedientes e eram educadas a saber que o pai deveria ser respeitado em suas proibições.

          As crianças recebiam proibições, ainda mais dentro de um contexto socioambiental complicado.

          Comigo aconteceu também, mas não é o caso da sua pergunta, pois a sua pergunta é específica.

          Não sei se deveria confessar algo que, de fato não foi comigo, mas a curiosidade é ampla, não somente sua.

          Penso que seja uma questão de personalidade individual, assim como algumas crianças obedeciam com humildade uma restrição, muito embora conhecendo as qualidades possíveis de certa amizade. Sim, naquele tempo as amizades mereciam a permissão dos pais.

          No entanto, ouras crianças, acreditavam que uma proibição desse tamanho, proibir uma amizade, significava que a outra criança era de um mau ambiente e passavam a hostilizar francamente e com sinceridade a outra criança, aquela da amizade proibida.

          Aconteceu que estávamos em grupo, pias e mães e crianças. Convidei a menina para brincar na minha casa e ela disse que perguntaria ao pai. Algo absolutamente normal naquela época.

          Os casais se afastaram um pouco, um casal foi comprar sorvete e o outro caminhava em conversa amena.

          Ouvi a reposta, pois estávamos já brincando, e querendo nos divertir mais.

          _Ela não é amizade para você. Nós nos tratamos com cerimônia para não sermos hostis.

         Ela, também criança, me disse:

          _Acho que proibiram a nossa amizade.

          Eu fiquei triste, mas ela tinha que obedecer aos pais dela.

          Cada criança tem um tipo de relacionamento com os pais, de qualquer modo estava proibida a amizade.

          As ironias se seguiram, até mesmo pela minha humildade em não criticar os pais dela, o que era normal no seu ambiente.

         A partir daí, prezado confessor, a amizade não mais existiu.

          Também digo que com outras pessoas, a amizade persistiu, e com a maturidade veio a completa compreensão sobre o que os pais pensavam. Nesses casos houve a compreensão e o perdão daqueles comportamentos paternos.

          No caso, prezado confessor, em que insiste em perguntar, não. As ironias começaram e não tiveram fim.

          Espero sinceramente ter respondido à sua questão. Acaba-se o folclore por aqui, o que é bom para todos nós.

          Agradeço, porque é questão de agradecer, e com sinceridade, tal pergunta.

          Ainda acredito que as crianças precisam obedecer os pais, mais pelas amizades conservadas do que pelas rebeldias imaturas, posto que a obediência é conforto e auxílio em qualquer idade.

           Cordialmente, 

          Yayá.

           


 

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