Joana ao sopé da Porta da Cozinha
Aquele dia foi de tranquilidade.
Joana olhava a vastidão do sertão como se tivesse plantado e colhido. Estava repleta de si mesmo, sem orgulho e vaidade, porque orgulho de si mesmo sozinho não é jactância de ninguém, e vaidade é uma moda que não se tem onde usar.
Naquela sensação de plenitude sem ar ou enchimento de barriga, sentada no sopé da porta da cozinha, pensava muito naquilo que ela sentia, e pensando dizia a si mesma como é que a cabeça pensa direito quando está distraída, mas tão direito que parece que todas as vírgulas e pontos ficarão ali para sempre como um sertão que não se quer que acabe.
Não acontece que enquanto se planta se pensa planta, e quando se colhe, se pensa sorte, mas quando um problema não é mais problema simplesmente porque nasceu a ideia, simples, cordata e com todo o tempo do mundo para ser ideia.
Enquanto concentrada, a ideia decora sem saber que decora, o que nem sempre é aprender.
Enquanto aprendizagem, a cabeça é um vazio que precisa ser enchida.
Enquanto cabeça cheia, ela é uma ideia impedida de ser ideia.
Distraída, não. Distraída, a cabeça parece que vagueia dentro de si mesma sem querer motivo ou explicação, como a paisagem bonita e vasta de um sertão remediado sem precisar de remédio.
Tem dia que parece não precisar de nada, está tudo feito e arranjado.
Nesse dia, que poderia ter alguma emoção, até a emoção é escassa, mas não é tédio ou mesmice, é paz de espírito que respeita a inocência, a ignorância e a malvadeza, porque é mais que tudo isso.
Joana, do sopé da cozinha pensa em como a vida poderia ser mais bonita ao outro, mas não sabe se mais alguém nesse mundo sabe o que é estar repleta de si mesma.
Nunca tinha tido uma ideia nascida desse nada que é o olhar para o sertão sem pensar a não ser nessa simplicidade que é o pensamento da ideia que a tudo responde com ideia, ideia de bem estar que era o bem estar que vinha sem adivinhar.
Sertão, plantação, ideia, era assim que sentia, mais nada, porque não só bastava como enchia a alma sertanista de então.
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