Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

http://frasesemcompromisso.blogs.sapo.pt/

O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Outra Civilização / Um Conto Quase Americano


Outra Civilização / Um Conto Quase Americano


     Ana Maria, brasileira e o Doutor Professor de Arqueologia de Nova York Simon se encontram no mesmo automóvel com mais um turista adoentado e o motorista do veículo, um  homem apreciador dos caros universos das compras luxuosas.

     Chegaram nas ruínas dos aquedutos e desceram para apreciar as monumentais colunas por onde passavam os aquedutos dos tempos da antiguidade da Cidade Antiga.

     O professor era paparicado pelo guia, bastante afetado por estar com uma autoridade em arqueologia. 

     Ana Maria considerou correto que o professor fosse tratado daquela maneira, pois não passava de turista por todos aqueles monumentos.

     O professor Simon pediu para que o guia passasse num determinado local da Cidade Antiga.

     O guia respondeu que, embora o considerasse a maior autoridade em arqueologia, quiçá mundial, não o levaria até lá para que não fosse morto, mas perguntou se ele tinha com ele uma carta de permissão para entrar naquele lugar.

     Simon, com a seriedade e gentileza da cultura e dos setenta anos de vida, respondeu com outra pergunta:

     _Se eu não tenho a carta de permissão como você me pede, eu serei morto? É isso que você tenta dizer? Mas como?

     O guia respondeu que aquele local, que era realmente próximo dali, parecia ter alguma coisa de secreto, porque somente com permissão ou convite escrito daquela civilização, ele, enquanto motista para turistas,  fazia mais de mês que não entrava ali. Ele não o poderia levar além de determinado ponto, senão seria morto igualmente. Contou também que nunca esperou ninguém naquelas ruínas secretas, ele voltava para buscar o turista na hora marcada.

     Ana Maria estava assustada com o que presenciava naquela conversa, mas por sorte, o dr. Simon, foi resoluto quanto a essa questão.

     _O senhor nos levará até a praça matriz, conforme está no roteiro.

     Nesse ínterim, o turista adoentado, pediu:

     _Por favor, preciso ir ao banheiro antes de seguirmos com o passeio.

     Depois da ida ao banheiro, o passeio seguiu até a matriz.

     Chegaram na matriz.

     O dr. Simon olhou com bastante seriedade para Ana Maria.

     _Eu preciso lhe pedir um favor.

     Ana Maria perguntou em que poderia ajudar.

     _Não entre no monumento da matriz. Em hipótese alguma. Eu sei o que digo.

     Ana Maria olhou para cima, para baixo e sentiu-se uma turista perdida no meio de nada, mas foi solícita:

     _O que o senhor acha que eu devo fazer aqui fora, em frente a essa escadaria?

     Ele sorriu gentilmente ao ver que ela aceitava a sua intervenção.

     _Ana Maria, eu acredito que existem locais com lanches rápidos e típicos, confeitarias inigualáveis, e uma caminhada pela vielas do bairro poderá ser uma fonte de diversão.

     Ana Maria decidiu que era melhor não discordar do professor doutor em arqueologia. Ele deveria saber o que dizia.

     Ele entrou sozinho no monumento cujo passeio havia custado alguns bons euros.

     O turista adoentado preferiu um restaurante onde tivesse banheiro. Culpava o presunto parma servido com fartura logo no desjejum com molho apimentado.

     O turista veio conversar com Ana Maria:

     _Ana Maria, você acha certo que, depois de pagar pelo passeio, você fique do lado de fora do monumento?

     Ana Maria respondeu que o dr. Simon era professor doutor em arqueologia e ela, turista.

     Uma hora e meia depois, o professor apareceu na escadaria. Encontrou-se com Ana Maria e perguntou pelo guia, mas o guia chegou dez pacienciosos minutos depois.

     Ana Maria, embora esboçasse um sorriso, estava com ar cansado, mas tentou ser educada, apesar do veto.

     Entraram todos no automóvel.

     O dr. Simon dirigiu a palavra à Ana Maria, quando o guia interviu de forma afetada:

     _Dr. Simon, o senhor não tem que conversar com turistas!

     O dr. Simon, irônico, respondeu que ele gostaria de dirigir-se à Ana Maria.

     _Ana Maria, eu gostaria de dizer para você que lá dentro não há nada mais do que velharias, alguns objetos de madeira conservados e muitos olhos desconhecidos. Não é lugar para você. Esse olhares são os mais perigosos da face da Terra.

     Ana Maria ficou assustada, e não ligou de aparentar assustada.

     O dr. Simon continuou a conversar com ela:

     _Procure o moderno, o diferente, algo menos perigoso do que essas ruínas.

     O guia ainda os levou para conhecer uma praia.

     Estavam ela e o turista adoentado caminhando, quando aconteceu outro incidente. Um homem de quarenta anos passou por eles, olhou para ela e disse:

     _São vocês, miulheres, que estragam a vida dos homens. Por que não sai do lado do turista, bofe?

     O turista adoentado disse que riria se não precisasse ir ao banheiro novamente.

     Ana Maria sentou-se sem saber se poderia chorar por ali, numa mesa qualquer e com um refrigerante.

     No entanto, quando a lágrima foi se desprender dos olhos, chegou uma turista colombiana e pediu para que o grupo deles pudesse se sentar na mesa ao lado e outras informações sobre o serviço do quiosque.

     Finalmente acabou aquele passeio. Com os últimos conselhos do doutor Simon, que ainda desejou uma excelente estadia naquele lugar.

     Ao despedir-se de Ana Maria, o guia disse que ela não sabia que era uma autoridade que havia conversado com ela, e que ela ao menos poderia ter feito uma reverência a ele.

     O dr. Simon, no entanto, quis cumprimentá-la de mão e agradecer por não ter entrado naquele monumento.

     Ana Maria perguntou-se sobre a outra civilização, aquela que ela não tinha conhecido, mas ponderou que mesmo o doutor Simon não foi aonde queria.

     Sim é sim e não é não. Melhor não saber de mais nada. Voltou ao hotel e saiu para arrumar o cabelo antes de viajar.   

 

Nenhum comentário: