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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

As Histórias de Joaquina

As Histórias de Joaquina

     Bateram à porta, e Joaquina, menina de vinte foi atender. Era um garoto da vizinhança com um quilo de feijão para lhe dar de presente.
     _Feijão, João, por quê você me dá de presente, quando tem preço? Cobre o preço, João.
     João dizia que não, que era presente, que vinha da chácara um saco de sessenta quilos de feijão e mãe dele tinha pena de deixar estragar.
     Passam algumas semanas e batem à porta novamente. Era João com umas espigas de milho verde.
     _João, faz isso não, João. Como é que eu posso retribuir se não tenho chácara, João?
     João dizia que não, que era presente, que o milharal da chácara estava repleto e que era melhor que não estragasse.
     Passam-se mais algumas semanas e bateram à porta. Era João com uma tigela de curau, bem feito e caseiro, que a mãe dele tinha feito para que ele desse de presente à Joaquina.
     _Espera um pouco, João. Por que você não traz esses presente para a minha mãe?
     João disse que era porque Joaquina era mais próxima dele do que a mãe dela que era muito séria, e talvez severa e não aceitasse o presente.
     Passam-se mais semanas e batem à porta e é João, dessa vez com um pacote de feijão branco para salada.
     Joaquina disse que qualquer dia daqueles iria conversar com a mãe dele para ver se era ela mesma quem mandava os presentes da chácara.
     João riu-se e a desafiou para que fosse na casa dele.
     Passam-se mais semanas e batem à porta. Era João, com o quilo de feijão, mas na casa da mãe dele.
     _Joaquina me desafiou e eu contei para a mãe e ela quer que você vá lá em casa porque ela quer dar feijão para você.
     Joaquina disse que iria à tardinha. Disse e foi, achou que precisava conversar com a mãe de João e, perguntar o motivo de tanta gentileza da parte dela e do João.
     Bateu à porta da casa da mãe de João, mas com a mãe dando uma espiada pela porta da sua casa.
     _Eu quero lhe agradecer muito, mas acho que é presente demais e, nós, lá em casa, ficamos sem graça com tantos mimos da sua parte e por parte do João também.
     A mãe de João foi de uma emoção absurda ao dizer que quem tinha a agradecer era ela.
     Essa história é boa, a Joaquina ganhava os mimos e era a mãe de João quem tinha de agradecer à Joaquina?!
     _Ora, diga lá qual é o motivo da sua gratidão, pois eu a conheço desde alguns anos e, que me lembre não lhe fiz favor algum, apenas conversamos de vez em quando.
     A mãe de João parecia agradecida até mesmo com o olhar.
     _Joaquina, eu tenho trinta e dois anos e sou casada. Meu marido viaja muito e eu até pensei que ele queria se separar de mim. Pensei em contratar um advogado, mas nesse tempo em que eu pensava em contratar um advogado, eu acabei por sair com amigos e quase levei uma vida de solteira. Só me sentia casada quando o meu marido voltava com os sacos de milho e feijão e carne congelada. Por favor entre que eu quero lhe mostrar o congelador.
     A moça, entrou na casa da mãe do João, meio que curiosa, meio que receosa, mas a mãe estava olhando, então não tinha mais medo.
     O freezer era de cinquenta quilos e estava chei de carne de boi e de porco, toda carne separada, cortada e congelada. Ao lado do congelador, estavam os sacos de arroz, feijão e milho. A verdura também vinha na caminhonete, mas era quando ele, o marido vinha para a cidade.
     Joaquina se admirou com os produtos frescos e colhidos com tanto suor e dedicação por parte do marido da mãe de João, mas onde é que a gratidão entrava naquele espaço é que ela não entendia.
     De repente, os olhos da mãe de João se encheram de lágrimas e disse:
     _Joaquina, eu quase errei, eu quase namorei, mas não o fiz. Houve um final de semana que eu pensei que se você dissesse o que diziam de mim, o meu casamento tinivesse acabado. Você sabia o que diziam de mim,pois até a sua mãe ralhou comigo para não sair com amigo enquanto o marido estivesse fora de casa, pois era homem trabalhador.
     Se a mãe de Joaquina tinha ralhado com ela, a mãe de João, Joaquina não sabia e também não podia perguntar porque a mãe estava de soslaio na casa dela, Joaquina.
     _Espere que eu continue, Joaquina. Ele viajou de novo e voltou com os sacos de feijão, milho e tudo o que ele costuma trazer para a casa. Dessa vez eu fiquei em casa e não saí com ninguém. Eu, com medo que você contasse a ele que eu saía durante a semana com os amigos, para nada para dizer a verdade, apenas para conversar, eu contei a ele o que eu fazia enquanto ele estava fora e pedi perdão se com isso eu o magoei, mas também contei que era mulher de bem e que não fiz o que não deveria fazer. Ele me perdoou, mas quer que eu vá com ele para o interior. Até deixou dinheiro para eu arrumar todos os dentes antes de ir com ele e o João para o interior. Eu estou muito feliz e acho que devo isso à você, porque eu tinha um medo danado de você, porque eu entrei no carro de uns amigos enquanto você voltava da escola e você até me disse boa tarde. Lembra?
     Era verdade, mas Joaquina não havia ligado a saída dela ao pecado e nem sequer se perturbado com a situação. Joaquina desejou que para o resto da vida deles eles fossem felizes. João estava feliz. Disse que jogaria bola mais à vontade e, melhor, com o pai dele.
     Voltou para casa e contou essa história para a mãe dela.
     Passaram mais algumas semanas e batem à porta. Era João com um quilo de feijão, mas desta vez presente do pai dele.
     _O meu pai manda agradecer à você em nome da minha mãe. Ele vendeu a casa aqui na cidade. Vamos morar na chácara até que eu tenha que fazer faculdade.
     Joaquina disse que estava muito feliz por João e que fizessem boa viagem e fossem felizes por onde quer que fossem.
     A mãe da Joaquina disse que feijão bom como aquele seria muito difícil encontrar em algum lugar, mas que fossem felizes.
     Feijão na panela com sabor especial. Esse  foi aquele melhor quilo de feijão já saboreado na vida.

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