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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sábado, 6 de julho de 2019

Lembranças/ Crônica

Lembranças/ Crônica

     Era de talento ímpar, mas irrequieto e exigente.
     Abriram-se as cortinas do Teatro Guaíra. Sentado em um banquinho, dirigiu-se à plateia:
     _Agradeço a presença de todos vocês, mas se a produção não melhorar a condição de ar condicionado, eu não canto. 
     A plateia o olhou com algum espanto, mas ele não se intimidou:
     _Não canto porque o ar frio desafina o violão e eu não começo a música num tom para ter que baixar de tom à medida em que a afinação do violão cai.
     Em seguida ouviu-se os próprios colegas de show pedirem calma Para ele.
     Ele não parava de falar:
     _Como calma? Todos os presentes vieram até aqui para me ouvirem e querem que eu desafine?
     A produção correu e atendeu aos pedidos dele para começar o show.
     Com tudo arrumado, ele começa o show com uma história:
     _Eu só tenho ódio nesta vida de uma coisa. È que me chamen de desafinado. Imaginem vocês que esse foi um problema na minha vida artística. Fui chamado de desafinado, com voz ruim e, pasmem, tive que batalhar contra esse estigma para conseguir contrato com as gravadoras.
     Parece que ele se acalmou, e com a experiência que tinha conseguiu dar início ao show, dizendo que porque o chamavam de compositor de uma nota só, começou com essa canção.
     Depois veio o Desafinado com alguma ironia: De jeito nenhum.
     O show era em parceria com a Gal Costa.
     _Que é isso menina? Parece que está tímida? Problemas devem ser resolvidos na hora em que aparecem, mesmo com as cortinas abertas.
     Ela sorriu, e com alguma timidez, disse:
     _João, você é meu mestre, João.
     E a dupla fez um show inesquecível.
     Hoje a saudade chega, mas a realidade é que é provavelmente à contragosto dele, João Gilberto.
     Um sentimento de gratidão imensa por esses momentos vividos vem à tona nesse dia.  

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