Silêncio / Microconto
Em nossos silêncios estamos unidos pelo pesar. Tiraram os nossos livros e as nossas bermudas.
Todos queremos de volta as nossas simplicidades costumeiras.
Acabo de comer o meu pão com goiabada oferecido especialmente pela conhecida vendedora dos meus pães com goiabada.
Calígula não nos poupou, conforme era previsto
De nada adianta culpar o cachorro da nossa nova forma de conviver. Também nenhum de nós é responsável por nada, nem mesmo pelo silêncio que solidariamente praticamos.
Roubam-nos até mesmo os templos de oração, sim porque não os vemos mais, como víamos alguns anos atrás. No lugar das igrejas estão lojas diversas.
Sempre em dois, sempre em dois devemos andar. A ninguém é bom estar sozinho. A nenhum de nós.
As filhas e filhos que ajudem e fiquem próximas dos mais velhos, irmãs e irmãos, maridos e esposas, mas sempre de dois em dois.
O que vemos não é pouca coisa, ao contrário, é Calígula, o devasso.
Tantos se preocupam com política, mas a nós coube e cabe, cuidar das nossas mínimas alegrias, do nosso pão com goiabada.
Porque devemos esse silêncio a quem nos tiram as poucas amenidades das quais gostamos, e referimos-nos a nós mesmos.
Presenciamos uma única mentira e essa única mentira quase que nos serve de grito. Porque todos sabemos que é uma mentira.
Penso mesmo que as atitudes individuais não resolvem. Deveríamos todos vestir bermudas, mas sabemos que isso não nos convém porque nos vindimaríam e, enquanto alguns de nós pensam que podem, outros de nós têm a certeza de que não podem vestir as suas bermudas.
Temos que pensar com calma.
Problemas diferentes merecem soluções diferentes e os nossos problemas, mesmo sendo comum a muitos, são diferentes de todos os problemas discutidos em sociologia ou mesmo da sociedade atual.
Quando algum de nós tiver alguma sugestão que seja útil, voltamos a conversar.
Lembremos que nem mesmo o problema teve vontade de ser problema em sua origem.
Vamos em frente com esses propósitos.
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