É Feio Morrer de Amor
Era moça solteira já passada da idade de namorar. Trabalhava, cozinhava e cuidava das ordens da casa. Também tinha como defeito um certo perfeccionismo que a tornava aborrecida à convivência social.
Alguns parentes e amigas de trabalho a visitavam de quando em quando.
Vivia sozinha e de certa forma, a impertinência dela a segurava de qualquer queixa.
Um dia, durante uma visita, ela comentou que um parente estava a visitando e que ele era muito solícito e gentil.
_O que é que ele quer aqui? Perguntou o seu irmão.
Ele riu-se e desdenhou da pergunta, Disse que era uma boa conversa para alguém que passara a vida em trabalhos, pesquisas e cozinha.
Passados dois meses, a visita familiar se repetiu.
A conversa se repetiu.
_O que é que ele quer aqui? É homem que conhece muito e vive em luxo.
O desdém se repetiu.
A família disse ao homem:
_Deixa de se aborrecido, homem de Deus. Deixa que ela se distraia. Afinal, enquanto ela conversa com outras pessoas ela para de ser tão exigente com os outros.
O assunto morreu por ali. Ninguém perguntou nada e ela não comentou nada mais.
Passado um ano e meio, o homem recebe um telefonema:
_Vocês precisam dar uma ajuda. Era uma amiga dela. Ela chora dia e noite de tristeza de nunca ter se casado.
O homem, desconfiado, foi fazer-lhe uma visita.
_Não, não tenho mais recebido visitas de ninguém. Ultimamente tenho me sentido sozinha. Mas estou bem, apenas preciso me distrair.
A choradeira continuava. Ela se recusava a dizer que chorava.
_Eu tenho um mal estar, isso passa. Eu te aconselho a cuidar de si e da sua família e dos vestidos que se usam na sua casa. Eu não gosto deles.
_Não pergunte mais nada.
A choradeira não passava. Dessa vez parecia saudosa. O pseudo-apaixonado a visitava quando ela melhorava de disposição e a mantinha apaixonada.
_Não adianta dizer nada, disseram ao homem.
Mas ele disse.
Até que chegou o dia em que eles disseram coisas que não se devem dizer. Depois pediram desculpas.
A moça estava desgostosa e doente; além de doente dizia que era melhor morrer, pois nunca havia se casado.
O médico da família acabou por constatar que era o remédio que causava essa choradeira.
Ela morreu. Chorava dia e noite no hospital.
_Desculpem. Eu tenho essas coisas devido à doença.
Morreu. Sem nunca ter viajado. Sem saber o que seria um banho de mar. Com vergonha de ser solteira.
No velório riam-se entre si o visitante e mais alguns.
O homem chegou ao velório e quis fazer uma oração.
_Amado, que saudades! Se a sua irmã não tivesse morrido, não nos encontraríamos.
É feio morrer de amor.
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