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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

É Feio Morrer de Amor

É Feio Morrer de Amor

     Era moça solteira já passada da idade de namorar. Trabalhava, cozinhava e cuidava das ordens da casa. Também tinha como defeito um certo perfeccionismo que a tornava aborrecida à convivência social.
     Alguns parentes e amigas de trabalho a visitavam de quando em quando.
     Vivia sozinha e de certa forma, a impertinência dela a segurava de qualquer queixa.
     Um dia, durante uma visita, ela comentou que um parente estava a visitando e que ele era muito solícito e gentil.
     _O que é que ele quer aqui? Perguntou o seu irmão.
     Ele riu-se e desdenhou da pergunta, Disse que era uma boa conversa para alguém que passara a vida em trabalhos, pesquisas e cozinha.
     Passados dois meses, a visita familiar se repetiu.
     A conversa se repetiu.
     _O que é que ele quer aqui? É homem que conhece muito e vive em luxo.
     O desdém se repetiu.
     A família disse ao homem:
     _Deixa de se aborrecido, homem de Deus. Deixa que ela se distraia. Afinal, enquanto ela conversa com outras pessoas ela para de ser tão exigente com os outros.
     O assunto morreu por ali. Ninguém perguntou nada e ela não comentou nada mais.
     Passado um ano e meio, o homem recebe um telefonema:
     _Vocês precisam dar uma ajuda. Era uma amiga dela. Ela chora dia e noite de tristeza de nunca ter se casado.
     O homem, desconfiado, foi fazer-lhe uma visita.
     _Não, não tenho mais recebido visitas de ninguém. Ultimamente tenho me sentido sozinha. Mas estou bem, apenas preciso me distrair.
     A choradeira continuava. Ela se recusava a dizer que chorava.
     _Eu tenho um mal estar, isso passa. Eu te aconselho a cuidar de si e da sua família e dos vestidos que se usam na sua casa. Eu não gosto deles.
     _Não pergunte mais nada.
     A choradeira não passava. Dessa vez parecia saudosa. O pseudo-apaixonado a visitava quando ela melhorava de disposição e a mantinha apaixonada.
     _Não adianta dizer nada, disseram ao homem.
    Mas ele disse.
     Até que chegou o dia em que eles disseram coisas que não se devem dizer. Depois pediram desculpas.
     A moça estava desgostosa e doente; além de doente dizia que era melhor morrer, pois nunca havia se casado.
     O médico da família acabou por constatar que era o remédio que causava essa choradeira.
     Ela morreu. Chorava dia e noite no hospital.
     _Desculpem. Eu tenho essas coisas devido à doença.
     Morreu. Sem nunca ter viajado. Sem saber o que seria um banho de mar. Com vergonha de ser solteira.
     No velório riam-se entre si o visitante e mais alguns.
     O homem chegou ao velório e quis fazer uma oração.
     _Amado, que saudades! Se a sua irmã não tivesse morrido, não nos encontraríamos.
     É feio morrer de amor.   
      

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