Boatos / Crônica do Cotidiano
Os boatos eram comuns alguns anos atrás, mas hoje, com webcam e o celular é difícil inventar casos, histórias sobre as pessoas.
No entanto, os boateiros de plantão, aqueles que são pagos para inventar algo sobre as pessoas, modernizaram-se.
Essa é uma dedução minha tendo em vista alguns acontecimentos que presenciei nos últimos dias. Continuo calada a respeito da vida dos outros, é deles e não minha.
São pseudodiscussões que algumas pessoas postam na rede como sendo reais. Diferente de nós, blogueiros, que inventamos histórias deliberadamente e fazemos contos.
Eu acredito que seja alguma espécie de estelionato, com meios tecnológicos diferentes, que chegam às ruas e criam discussões intermináveis sobre o comportamento de alguém e como interferir positivamente na vida desse alguém.
Pessoalmente, eu me recuso a interferir nesse tipo de assunto, mas os incautos interferem.
Os mais jovens desconhecem o quanto os boatos eram fonte de lucros vários para grupos de interesses diversos. Tentarei me lembrar de como é que funcionava e, mais ou menos, porque desde a infância eu não mais ouvia falar sobre os boateiros.
Os boatos eram profissionalizados, nasciam de fonte desconhecida e percorriam a cidade inteira e a maioria das pessoas acabava por opinar, mesmo sem intenção. Teorizavam alguma ideia sobre o assunto de maneira geral e opinavam.
Os boateiros não contavam com gente fofoqueira, eles inventavam histórias credíveis, mas não comprováveis.
Depois que os boatos passavam a maioria das pessoas não se sentia bem, quase que se obrigavam a este ou aquele comportamento social que não coincidisse com nada da história criada pelos profissionais da boataria.
Com a internet, os boatos rarearam-se como se fosse extirpado da convivência social um grande mal da humanidade, a maledicência.
Para surpresa minha, durante a semana que se encerra, presenciei dois boatos.
Esse boato, que, à moda antiga, e muito triste por fazê-lo, está fortíssimo.
O boato em discussão nos salões é o da mulher casada que foi pega pelo marido com o amante jovem.
Esse tipo de boato, idêntico à moda antiga, é um causador de tragédias. Em meio a esse tipo de boatos, os problemas sociais aumentam e, alguém que nunca se sabe quem, lucra com as discussões que atingem as famílias.
Grande parte da classe média vai à praia. Boas pessoas de boas famílias que, apenas por irem à praia, estão envolvidas, em tese, num boato desses. Barbaridade!
O boato acaba à medida que as autoridades combatem e as autoridades combatem os boatos à medida do tamanho da sua propagação.
As autoridades, no entanto, têm as suas tarefas e se desviam delas para atender uma população inteira envolvida em boatos. Assim, sendo, o boato tem uma consequência política, pois algumas áreas serão menos atendidas para que se possam buscar os boateiros.
Evidencia-se assim o interesse por detrás desse tipo de boato. Reinventaram a fábrica de boatos.
Dessa novidade eu não gostei.
2 comentários:
Tenho andado afastado, talvez por sabatismo, mas vou lendo aqui e ali.
Por vezes nao apetece e pouco gosto de inventar, sendo que por vezes vem aquela coisa repentina que se adorna, mas enquanto a "carola" for funcionando, egoismo da minha parte, gosto de pintar coisas reais que me tocam, melhor, tocaram...
Adorei o seu post, Yaya.
Se o texto fez bem a alguém, fico contente. Um abraço, Yayá.
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