Psicodélico / Crônica do Improvável

 Psicodélico / Crônica do Improvável

     Passeio na sala dos espelhos.

     As roupas não me servem. Preciso comprar roupas, não bastasse a estranha mania de as comprar aos poucos todos os meses.

     Compro os vestidos da minha mãe refeitos em blusas, cinquenta reais cada uma.

      Snoopy sorri, ha ha ha, mas eu compro uma blusa.

     Entro numa loja de surfe e verifico que está à venda uma blusa semelhante a que tenho no armário, mas o armário não estava na sala dos espelhos. Compro de novo a blusa da mesma cor e tecido que está no meu armário, mas com o drapeado que a minha mãe gostava.

     Vou para outro espelho e vejo algumas brasileiras sendo muito rigorosas em questão de nome próprio, e me emociono ao ver a menina Gaia, italiana, ouvindo que aproveite para ser feliz antes de ir para a escola, pois sem Maria ou Ana no nome, não formará panela. Parece que outros lugares são mais generosos com as crianças.

     No espelho do café, vejo o menino que será de um jeito típico e familiar, história de rir.

     Faltam roupas. Entro numa loja americana e encontro as calças que caem como luva, tão baratas quanto as blusas.

     Preciso das blusas da minha mãe. Agora Snoopy está acompanhado de Lucy. Lucy sorri ha ha ha ao lado de Snoopy ha ha ha.

     Deixo a saudade fluir. Compro mais uma blusa com a malha macia do vestido que minha mãe usava.

     Como pão com marmelada e lembro que o meu pai comia pão com goiabada, porque marmelada era coisa de português, mas só tinha marmelada, e com saudade da goiabada como a marmelada.

     Outro espelho embaralhava a visão mostrando o caipira brasileiro comparado ao original não muito diferente, penso que se o caipira nacional foi fabricado no exterior deveria ter etiqueta de origem internacional, igual, igual.

     Noutro espelho me vejo como seria se não fosse, e essa minha irmã que nunca tive, com roupas semelhantes, depois das blusas que comprei da minha mãe, diz a filha, também parecida comigo, para que me ceda a vez, posto que as senhoras, sejam casadas ou solteiras merecem o lugar preferencial perante os jovens.

     Ela me assusta pela semelhança visual e da barriga adquirida do pão com marmelada.

     Estou nessa sala dos espelhos, quando aparece um motorista de táxi, que trabalhou em Santa Catarina por muitos anos e oferece um passeio de excursão privativa para mostrar os melhores pontos turísticos.

     Eu rio, mas penso ser um passeio Barra Velha a Florianópolis, em Santa Catarina, de táxi,  e acaba a saudade.

     Fico feliz por Snoopy e Lucy continuarem a rir ha ha ha.

     Outros espelhos ficarão para uma próxina oportunidade.

     Grata pella leitura. Bons espelhos para vocês!