Os Pequeninos
Respeitar aqueles que são pequeninos, e digo isto com certo carinho por todos aqueles que não têm tempo para os livros e para as reflexões, é de suma importância.
As moças da limpeza contam que o dia delas, quando chegam em suas casas, continua com o jantar e a família.
Mas também contam que, no dia a dia, as mentiras se multiplicam entre elas e também é uma forma de diversão.
Ouvi a seguinte frase:
_A senhora não mente porque não precisa, mas ai da senhora se levasse a vida que a gente leva.
Respondo que, embora não seja crédula, continuo a não gostar das mentiras e não minto a elas, pois basta tomar cuidado ao escolher as palavras que o entendimento se faz.
As provocações são tantas que eu acabo por rir.
_O problema da senhora não mentir está em não conhecer as mentiras, portanto a senhora não sabe quando mentem para a senhora.
Pode ser, mas eu não consigo pensar assim. Respondo com educação.
Pessoalmente, eu creio que a verdade é fonte de luz e essa luz é uma busca contínua.
_A senhora pensa assim porque não tem que pegar o ônibus às cinco da manhã e ver todo o tipo de gente na fila, cuidar da bolsa e dizer onde é que vai para as pessoas que pegam o ônibus no mesmo horário. A gente não diz onde vai e nem que horas sai e, preste atenção, por favor, a gente não diz nada de verdadeiro sobre a família da gente. Essa regra vale para todas nós. Assim a gente vem conversando e passando a hora até chegar no ponto de ônibus que faz a conexão com o outro ônibus que a gente tem de pegar para chegar na casa da patroa.
É desse jeito que elas, as moças sinceras da limpeza falam.
Pergunto sobre as patroas, o que elas conversam entre si.
_Em parte, a gente diz a verdade e em parte, a gente mente. Se elogiar, tem outra para o lugar. Se criticar, as outras moças vão contar e contar até chegar no ouvido da patroa.
Eu insisto que é possível viver bem sem mentir.
A resposta é hilária:
_A senhora é um daqueles casos onde a sorte e o trem não pegaram a linha. Ah se a senhora tivesse cinco filhos?! Não quero nem pensar no que fariam a senhora de boba! Deus a proteja!
A conversa segue desse jeito com qualquer uma delas.
Uma delas, a que se considera inteligente, diz que fala pouco e faz pente fino em cada casa que vai.
_Eu quero saber com quem eu estou lidando. Eu olho roupas, sapatos e tudo o que eu posso olhar para me certificar que estou em casa de gente que presta. Comigo ninguém "tira farinha não" (expressão vulgar que significa que ninguém faz ela de boba).
Pergunto, no entanto, se ela mente.
_Isso é obrigação. A senhora não faz ideia de como é que o mundo é.
Chega uma hora em que não consigo acreditar em nenhuma das respostas, mas a consciência me diz que são pequeninas e que aos pequenos se deve tratar com misericórdia.
_Vai pensando assim que a senhora se dá mal.
Mas essa é a minha obrigação.Até mesmo pelo cristianismo.
Através dessas tantas conversas, que me perturbam, porque sou contrária a elas me fazem pensar se o estilo de vida é que permite a verdade, ou talvez a leitura seja o que permite a verdade; ou a mentira seja um vício do qual as pessoas não se desapegam, ou então a mentira seja uma defesa dos indefesos de uma sociedade.
Eu sei, no entanto que a verdade é a luz, pois Jesus Cristo disse:
_Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
E Ele é Deus.
Daí eu reflito em continuar a pedir para que se diga a verdade no dia a dia, mesmo que seja preciso algum esforço. É a minha obtigação cristã.
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