Homenagem ao Dia dos Pais
Crônica Familiar

Eu não faço bolos bonitos, não tenho mãos para decorações de festas, etc. e tal. No entanto, eu sempre fiz o bolo que o meu pai (in memoriam) mais gostava.
O bolo preferido dele era o de chocolate com nozes e doce de leite. Não se enganem, não havia recheio. As nozes iam à massa e o doce de leite de cobertura.
Era um sábado como hoje e o bolo estava no forno e ele elogiando o aroma e perguntando quando ficaria pronto.
_Daqui a pouco, mas vamos comer amanhã. Eu, guardiã do bolo de chocolate.
Minha mãe saiu para se arrumar, estávamos os dois na cozinha tomando café com pão e goiabada conversando sobre o bolo. Naquele dia eu não fiz o bolo na forma de costume, vidro transparente. Tinha resolvido colocar numa assadeira de desenformar e tínhamos um problema: a mesa de fórmica era incompatível com o bolo na assadeira de metal. Nem sei como explicar tanta vontade de fazer o bolo perfeito, mas para ele cheguei a comprar esteiras e tinha decidido que o bolo esfriaria na sala de jantar em cima dos protetores para a mesa.
Não demorou muito e o bolo estava pronto. Meu pai estava preocupado com tanta atenção ao bolo e ao Dia dos Pais, eu parecia bajuladora, não filha. Foi nesse momento do bolo pronto, que ele disse:
_Filha, deixe que eu leve o bolo para a sala.
Eu e a xícara de café concordamos. Ele pegou o pano de prato e tirou o bolo do forno para ir à sala. Não deu dois passos sem dizer que queimava as mãos.
Eu olhei para ele e vi que ele pegou o pano de prato úmido. Não se coloca pano úmido em forma quente e ele não sabia. Quando fui dizer a ele sobre o pano, ele jogou o bolo para cima tentando apanhá-lo na queda. Quando ele começou a pensar que bolo era bola de futebol ou ping-pong (apelido da bola de tênis de mesa), eu me apavorei e disse:
_Deixe que eu pego na queda!
_Não, não. O bolo é meu, disse ele.
O bolo caiu no chão com a forma virada para baixo.
_Pai, a culpa é minha. Eu devia ter feito na forma de sempre.
_Filha, a culpa é minha, eu não sei fazer nada além de café.
Com o bolo esfarelado no chão começamos a rir, gargalhar. Eu peguei a vassoura e ele a pá para recolher o que havia sobrado para jogar no lixo.
Depois de limparmos a bagunça, eu disse:
_Tudo bem, eu faço outro bolo, disse eu.
_Na forma de vidro temperado, disse ele.
O segundo bolo no forno e a gente conversando, quando a minha mãe entra na cozinha. Levamos uma bronca imensa pela bagunça.
_Quer dizer que é eu sair para vocês aprontarem!
Ela estava toda arrumada e nós a protegemos das unhas feitas da louça de dentro da pia. Ou não tivemos tempo de lavar a louça ou ela tinha voltado rápido, fica assim a dúvida, poupando a todos os envolvidos na confusão de qualquer culpa.
Foi um dos melhores dias que tivemos!
Feliz Dia dos Pais!