Imitação de Conto / Conto?
O escritor escreve partindo de si mesmo de várias partes do mundo.
Eu escrevo do meu sonolento sofá, após um dia exaustivo.
O escritor conta do seu cotidiano igual em meio a figuras exóticas.
Eu dispenso a cultura e a cultura é a que vem obrigatoriamente da mediocridade.
O escritor é premiado.
Eu não objetivo o reconhecimento, mas o desabafo por ter que ficar em casa, e quando as pessoas tossem por perto, a minha vontade é de mandá-las fazer teste nasal. Deve ser o estresse causado ela pandemia.
Os personagens do escritor contam dos livros que leram.
Os meus personagens dizem dos arredores da capital e a influência desses arredores na nossa vida mediana, de cultura média, sempre em aprimoramento.
O escritor diz da solidão resultante da tentativa vã de pregar a paz universal, em sendo humano e não divino.
Eu tenho que preservar a linguagem que quase não ouço, deixar que dessa linguagem que eu não ouço me conte das interioridades e da capacidade de querer apequenar o universo, o que me dispensa a solidão na lata do lixo, pois sobram ocupações vindas das distorções observadas.
O escritor ambienta os seus contos no Central Park, em Nova York.
Eu fico acabrunhada de dizer que o conto que escrevo se passa numa cidade que nem mar tem, e que o rio se chama Hugo.
O escritor justifica as suas ambientações, até mesmo necessárias na vida de escritor reconhecido internacionalmente.
Esse conto se passaria nas cidades vizinhas, algo que um ônibus metropolitano alcança com mais alguns minutos de trânsito livre, não com o congestionamento da "hora do rush", me esmero internacionalmente nessa expressão de fim de tarde.
O escritor é suscinto e mede cada palavra do seu texto para ajustar adequadamente a exibição do conto , e cada palavra adquire sentido próprio.
Depois da frase acima eu me recuso a escrever este conto, seria infame.
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