Necessária Memória / Crônica do Cotidiano
Há o que não se explica, e dentre tudo o que não se explica, por hoje me fez pensar em não tentar saber todas as respostas, ou porquês, ou acontecimentos do gênero exótico.
Assim aconteceu, que adormeci e sonhei que estava conversando com algumas pessoas, quando a minha falecida mãe apareceu e disse que eu não a impedisse de falar, porque o que ela tinha a dizer seria dito.
Nisso soou a campainha e acordei, era uma entrega.
Senti por ser acordada e perder o que ela iria dizer, mas era apenas um sonho e cuidei de guardar a compra.
Nesse instante, alguma das vizinhas começou a cantar aquela valsinha antiga, que usualmente era cantada pela Ângela Maria ou pelo Agnaldo Timóteo, muito conhecida dos mais velhos, cujo refrão diz: Mamãe, mamãe, mamãe, tu és a rainha dolar.
A moça, por certo abriu a janela para cantar, e cantava alto, e cantou por mais de dez minutos o mesmo refrão, entremeado por la-ra-la-rá.
Essa canção me lembrou de um especial da Hebe Camargo nos anos 70.
As senhoras combinaram de assistir o programa televisivo, mas depois se reuniram para um lanche da tarde semanal.
_Que voz maravilhosa, disse uma senhora.
_ Eu gostei porque os musicais são geralmente leves e fazem bem para a alma, disse a minha mãe.
_ Eu detestei porque mãe que usa avental manchado de ovo é relaxada, disse a terceira senhora!
Começou a polêmica do avental manchado de ovo.
_ É a mãe dela, não é a sua, não sou eu e nem você, até porque não cozinhamos.
A terceira senhora cozinhava todos os dias, embora tivesse quem lavasse a louça para ela, pois o marido não comia nada que não fosse feito por ela, que tinha um tempero especial.
Passaram a tarde discutindo o avental, os cantores e a apresentadora, inclusive dizendo que ela poderia ter escolhido outra música para homenagear as mães.
Eu comecei a rir, de repente. Esse fato me aliviou da tensão diária com higiene e máscaras a serem cuidadosamente limpas.
Não vou tentar entender, apenas fico leve de alma e isso é bom.
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