Hall de Entrada / Miniconto
Naquele edifício havia três elevadores. Um deles levava ao Céu e nele entravam todas as pessoas misericordiosas, de boa vontade e ânimo para dar graça às conversas. O segundo elevador era usado pelo Purgatório e ali entravam as pessoas com problemas, preocupações e questionamentos. O terceiro elevador levava ao Inferno e ali era comum entrarem aqueles que rejeitavam entrar nos outros dois elevadores.
Na frente dos elevadores ficava o chamado Hall de Entrada, onde todos conversavam rapidamente enquanto esperavam o elevador.
A particularidade desses elevadores era que eram acionados em acordo ao grau de satisfação ou insatisfação consigo mesmo e com os outros.
Duas moças estão dentro do elevador que leva ao Purgatório, ambas com qualidade e defeitos, preocupações e vaidades e todas as imperfeições leves que o mundo, quando não fornece de nascença, acrescenta ao longo dos anos e, de repente o elevador parou num determinado andar.
Elevador do Purgatório nunca para no meio de dois andares, essa observação é importante para os mais preocupados e ansiosos e que não gostam de elevadores.
A porta automática se abre e, para espanto de uma delas, apareceu o representante do elevador do Inferno.
A outra moça dirige-se a ele sem medo:
_O senhor não deveria estar aqui porque o seu lugar é no elevador ao lado.
Ele, com aquele jeito diabólico diz:
_Por você, não. Mas também nunca vi tanta falta de capacidade para hostilizar as pessoas quanto as suas.
Esse era o jeito do pessoal daquele elevador e, para quem não tinha o menor interesse em mudar de elevador, ela continuou do jeito que era e não o hostilizou. Ao contrário, desejou a ele um bom trabalho junto às pessoas pelas quais ele era o indicador.
O homem não saiu dali.
A moça pensou consigo mesmo que estava escrito que era para resistir a isso, que ele desapareceria.
O elevador permanece parado naquele andar. A moça preocupada, mas confiante, continuou a resistir com o fervor de uma oração.
A situação começa a ficar demorada naquele andar e o elevador continua emperrado, mas com a porta aberta.
A outra moça, aquela que se espantou com a presença dele, abre o Facebook e fica se divertindo com a situação.
Ele diz à moça que está em oração:
_O problema não é com você.
A moça do Facebook começa a rir e a desdenhar das atribuições daquele homem.
Ele diz à moça que está em oração, referindo-se à moça do Facebook:
_Ela acha que o mundo é cruel. Por que é que ela pensa assim? Vamos ver agora.
Como ser demoníaco, domina o Facebook da moça sem o tirar das mãos dela o celular. Daí em diante começam as postagens das crueldades feitas pela moça.
Ele pergunta à moça que está em oração o que aconteceria se a moça do Facebook mudasse de elevador. Perguntou igualmente se ela iria junto com a outra moça para o outro elevador.
A moça da oração disse que não iria para o elevador do Inferno, e que muito ao contrário tinha pretensões de pegar o elevador celeste, onde tudo era muito agradável.
Ele então se dirige à moça do Facebook:
_E você aí, que está ao Facebook enquanto discutimos sobre elevadores: você quer se dirigir ao elevador do Inferno?
A moça sorriu e disse:
_Já que insiste, não vou decepcioná-lo.
Sai do elevador do Purgatório, desdenha do elevador do Céu e acha graça em sair e se dirigir ao elevador do Inferno, dizendo que não era idiota para acreditar nessas coisas.
A outra moça fica onde está e deixa que a outra adentre o elevador do Inferno.
Não se pode impedir essas coisas. A outra foi por gosto e vontade.
A moça das orações, verificou bem o elevador onde estava e certificou-se que era o do Purgatório.
Disse que estava acostumada com aquele elevador e que iria ficar ali mesmo.
Os dois dirigem-se ao outro elevador e o elevador da moça fica liberado.
"Ainda bem que foi só um susto", pensa ela, agora mais contente do que antes.
É assim que esses elevadores funcionam.