Cultura
Racional
Duas
moças sentaram-se numa mesa e, para evitar o assunto política, pois cada uma delas
iria votar num candidato diferente, iniciaram uma conversa a respeito de uma
conhecida ou amiga ou colega.
_Eu não
sei por que eu não gosto da Rosaura (nome fictício).
A outra
moça foi pega de surpresa porque ela queria mesmo era falar sobre as eleições.
_Quem?
A outra
lembrou quem era a Rosaura da qual falava, conhecida de ambas as moças.
_Por quê?
_Eu não
sei.
A outra
pediu a ela que explicasse o jeito da Rosaura que ela a ajudaria a compreender
o motivo.
_Você é
psicóloga?
_Não, mas
eu entendo o ser humano.
A moça
olhou para a amiga ou colega, e gostou do desafio.
_Está
bem. Vou descrevê-la. A Rosaura pode se vestir de “povão”, mas não se comporta
como “povão”.
A outra
pediu que detalhasse o comportamento do que ela chamava de povão.
_Ela não
é escrachada, mesmo quando pode, quando vai ao estádio de futebol. Eu, quando
vou ao estádio de futebol, me solto.
A outra
perguntou se a Rosaura frequentava o estádio de futebol.
_Pessoalmente, eu nunca a vi no estádio. Mas, de vez em quando ela se
veste como se fosse ao estádio de futebol e não se comporta como quem vai ao
estádio de futebol.
A
desafiante pediu outro exemplo. Este seria difícil de decifrar.
_Aceito
por que o contrário também é real. Quando a Rosaura se arruma finamente, ela
não se comporta como pessoa rica.
A
desafiante novamente pediu algum detalhamento desse comportamento.
_A
Rosaura conta o seu dia da maneira mais natural possível. Ora, quem é poderosa
não conversa normalmente, afinal o mundo tem os seus riscos e ela tem que se
proteger. A Rosaura poderia fazer alguma pose a mais e não faz.
A
desafiante pediu que a outra continuasse a descrever a Rosaura.
_Ela não
é competitiva. Nós duas sabemos que o mundo é competitivo mesmo para aquelas
como nós, que temos um bom emprego e não queremos perder a vaga para ninguém.
Na nossa empresa será difícil alguém entrar no que depender de mim.
A outra
perguntou sobre o comportamento da Rosaura.
_Ela
chega de manhã sorrindo para mais um dia corrido. Ela diz que não se incomoda
se alguém novo entrar na empresa porque ela tem bastante experiência no ramo de
negócios e os novos na empresa terão que aprender o que ela já sabe.
A
desafiante perguntou sobre os defeitos da Rosaura.
_Que eu
saiba ela tem defeitos e qualidades que nem nós. Eu é que não gosto dela e não
sei o motivo.
A outra
insistiu de novo para que ela fizesse uma definição contra a Rosaura.
A
desafiada perdeu a paciência e respondeu:
_A
Rosaura não se encaixa em parâmetros. Eu sei lidar com o cliente do tipo “povão”
e sei lidar com o cliente do tipo “rico” e sei lidar com as pessoas iguais a
mim. Ela não se encaixa em nenhum dos meus quadrados previamente previstos.
A outra
concluiu:
_Você
percebeu como eu tenho vocação para entender o ser humano. Você não gosta da
Rosaura porque ela não se encaixa dentro de nenhum dos seus parâmetros.
A moça
concordou:
_Não gosto
da Rosaura e não vou gostar da Rosaura.
Para sair
do assunto Rosaura, que ela mesma havia inventado, perguntou sobre as
qualidades do candidato da outra.
_Da mesma
forma que você não gosta da Rosaura, eu gosto do candidato em que vou votar
porque ele tem parâmetros parecidos com os meus. Está ficando tarde, é melhor
nos apressarmos.
A outra
concordou.
Para
surpresa dos ouvintes, saibam que, à saída, algumas mesas de distância, as duas
cumprimentaram a Rosaura que lanchava com alguma amiga, conhecida ou colega.
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