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Notícia Gerando Causo / Crônica do Cotidiano
A notícia
é um desacato ao cidadão: um homem teve infarto e, quando a esposa foi
reconhecer o corpo, observou que o dente de ouro do cidadão havia sido roubado. Uma notícia de envergonhar o país.
Um assunto leva a outra conversa, conforme aconteceu.
A moça em
questão, originadora do causo, é modelo e sabe muito sobre as exigências do
mercado, ninguém a obriga, mas silicone e botox, segundo ela, é uma questão imprescindível
à profissão depois da maternidade. Muito simpática, contou sobre o que
aconteceu com a barriga dela depois do segundo filho, a plástica, o silicone e,
o botox que ela planeja colocar assim que achar necessário.
Eu estava
começando a observar onde e o que estava errado e mim, inevitável porque há
algum tempo não me exercito.
Ela observou
a minha expressão e não me deixou pensar no assunto. Começou a contar de um
caso na família dela:
_Nem
pense! Você conhece o Rio de Janeiro e se poupou de muito sofrimento. Eu tenho uma
parenta que está pagando em parcelas, mas está arrumando o sorriso e isso custa
a ela trinta e cinco mil reais. Ela não conhece o Rio de Janeiro e nem pensa em
comprar nada enquanto não terminar de colocar as lâminas de porcelana e ficar
com o sorriso impecável. As lâminas de porcelana exigem manutenção e ela
contratou um plano mensal para o custeio dessa manutenção.
Eu tentei
dizer ao menos: Ah! Ela não deixou.
_Você não
sabe o que é isso! Ela é capa até de revista de igreja. A idade dela, por volta
de quarenta anos, com aquele sorriso e com uma família sorridente, faz dela a
modelo ideal. Eu sou modelo e posso ajudá-la a arranjar bons contratos, com
gente séria. A vida de modelo é desgastante, a gente vive em função da imagem,
essa é a apresentação do produto.
Foi aí
que eu desisti de pensar e a ouvi, conforme costumo fazer, com atenção e
cuidado.
Ela
olhava para ela e olhava para mim. Foi impossível não rir quando ela explicitou
a pior situação pela qual ela passou num desses tratamentos de beleza.
_Coloquei
o silicone e, passados alguns dias, a dor desapareceu. Cheguei a minha casa
cansada e sentei-me na cadeira da sala rapidamente. A dor que eu senti foi
menor que o medo de ter esparramado o silicone pelos glúteos. Eu levantei às
pressas e pedi à minha irmã que me olhasse para saber se estava tudo inflado
como tinha que estar. Esse foi o pior dia depois do tratamento. À noite tive
pesadelos e pensei em tudo de ruim que poderia acontecer com a minha carreira.
Se eu perdesse o meu emprego de modelo fotográfico, os meus filhos não teriam
mais os notebooks e mp3 importados. Eu não teria mais o conforto que eu tenho,
pois eu ajudo e muito dentro de casa com o que eu ganho.
Eu disse:
Hum.
_A gente
gasta muito em investimento, mas o retorno compensa. Eu só lido com gente
séria, mas o mercado é cheio de perigos.
Por
último ela disse algo que cai bem aos ouvidos de qualquer pessoa e ei porque
digo que ela é muito simpática:
_A gente
gosta de você do jeito que você é. Muda não.
Eu
retribuí a gentileza a ela.
Ela
concluiu:
_Não
fosse igreja e, a boa educação que recebi, sabe lá o que teria acontecido. Conta
aí, quando é que você vai para a praia? Muita gente conhecida nossa está lá
fazendo muvuca (tradução: bagunça).
Eu não
sei ainda, respondi. Estou fazendo janta para as festas de final de ano e,
depois, quero descansar um pouco antes de pensar em sair.
E mudamos
de assunto.
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