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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Problema de Afetividade / Crônica do Cotidiano


Problema de Afetividade / Crônica do Cotidiano

     Precisei de táxi.
     Conversamos sobre a idade, ambos passageira e motorista maiores de cinquenta anos.
     Parecíamos de outra época olhando para o estilo de vida atual.
     Vivemos numa época onde toda e qualquer afetividade pode ser considerada como um palavrão, ou deturpada em suas melhores ideias.
     Disse que achava que essa sensação de que estamos numa época insensível era sinal de envelhecimento nosso.
     O motorista disse que não era bem assim.
     Contou de uma corrida feita.
     Levaria uma criança com a babá de volta da escola para casa.
     A babá estava atrás com a criança, que contava pela aparência oito anos de idade. A criança estava abraçada à babá.
     Chegando à porta da residência, observou um automóvel com motorista saindo da residência.
     Comentou com os passageiros:
     _Parece que as visitas estão indo embora.
     A babá contou que aquele carro era da dona da residência e que ela tinha motorista.
     O taxista fez sinal ao motorista e emparelhou o automóvel sentido contrário e abriu as janelas para que mãe e criança pudessem acenar um ao outro.
     A mãe olhava a agenda do celular.
     O filho olhava os recados da internet.
     Parados por alguns instantes, seguiram os seus caminhos contrários. O motorista do automóvel particular ergueu as janelas do automóvel e seguiu.
     O taxista manteve as janelas abertas, estacionou e esperou o pagamento e a descida da babá e da criança.
     Depois de contar a história, perguntou-se sobre que tipo de afetividade esta criança terá no futuro.
     Respondeu à própria pergunta contando de um jovem dono de um carro importado e carro, cuja corrida foi para buscar o automóvel na oficina especializada de importados. No meio do caminho o telefone celular tocou e era a mãe do jovem.
     Contou que o jovem disse à mãe para arranjar o que fazer ao invés de ligar para saber dele.
     Foi capaz de jogar o aparelho celular ao lado, um celular importado e de muito valor.
     Tratou o celular como se fosse lixo, mas a miséria estava na sua afetividade. Quantos valores de casa e de educação foram jogadas ao lado junto com aquele celular.
     Complementou a conversa dizendo que os dois fatos aconteceram com pessoas abastadas, mas que o desprezo pela afetividade é generalizado.
     Pais, mães e filhos conectados e sem tempo e capacidade para discutir o que importa para a fase adulta.
     Certamente que a babá cuida, que a empregada ou a escola servem o almoço e ensinam o que sabem. Mas ensinam em acordo com a precariedade que as levam a esses serviços.
     Nos países considerados ricos, as babás são estudantes que têm contato com outras famílias e aprimoram a sua cultura enquanto cuidam das crianças.
     Essa não é a nossa realidade. Não se sabe que tipo de educação essas crianças têm.
     Cria-se um carência afetiva imensa para as futuras gerações, com uma tal educação que não se sabe exatamente como é. Uma educação paga, uma afetividade ganha em troca de um salário mínimo.
     Certamente que a sociedade inteira sofrerá com essa falta de contato entre pais e filhos.
     Há um quê de idade nisso, mas também haverá falta de humanidade gratuita no futuro.
     Enfim, é bom que se pense sobre isso. Afetividade não é obrigação, é devoção.

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