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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Hora de Almoço / Crônica de Supermercado

Hora de Almoço / Crônica de Supermercado

     Fui ao supermercado com lista e paciência. O horário estava propício para as boas escolhas, passava do meio-dia.
     Fiz as compras e, na fila, atrás de mim, uma senhora com uma criança pequena, um menino.
     Estava colocando as compras no balcão do caixa-rápido, quando a moça, que era a caixa, se surpreendeu com o jeito do guri.
     Ela perguntou à mãe do menino o que ele tinha, pois ela nunca tinha visto uma criança tão séria.
     De fato, o menino não e ria e não chorava e tinha as sobrancelhas franzidas, como se imitasse um adulto.
     A mãe, que ainda não tinha percebido a fisionomia do filho, perguntou ao menino?
     _O que foi, filho? O que você tem?
     Não tardou e outras duas caixas começaram também a perguntar ao menino o que é que ele tinha.
     O menino muito sério, respondeu à todas de uma vez só:
     _Qué papá!
     A mãe apressou-se em dizer que o almoço estava atrasado, mas assim que chegasse em casa, ela daria uma daquelas comidas apropriadas para as crianças pequenas.
     A malícia de uma das moças foi além da questão e disse:
     _Papá é comida, ah entendi. E o papai, cadê?
     O menino estava realmente brabo com o atraso do almoço e respondeu:
     _Papai foi embora!
     A mãe olhou para o menino e deu uma bronca, carinhosa, mas uma bronca:
     _Escuta aqui, o seu pai está trabalhando. Ele não foi embora!
     A mãe ficou nervosa e contou que o marido sai cedo e volta à noite, mas que ela está casada e bem casada.
     Ao ouvir a bronca, o menino parou de franzir as sobrancelhas.
     A mãe para amenizar a conversa, disse:
     _Filho vamos para casa almoçar. Joga beijo para as moças, filho.
     O menino se fez de desentendido.
     As moças que começaram a conversa fizeram coro: _Joga beijo.
     A minha paciência diminuiu com aquela conversa. Olhei para o menino e joguei um beijo para ele.
     Ele jogou beijo para todas as moças.
     Saí do supermercado com a impressão de que algumas pessoas já nascem com os seus talentos. Esse menino de dois anos liderou três atendentes de caixa, uma freguesa e a própria mãe dele que foi surpreendida algumas vezes pelo filho.
        

Um comentário:

Ivone disse...

Pois é minha amiga Yayá, amei ler sua crônica, estava com saudade, muito bem escrita por sinal e deu para se fazer reflexão!
As crianças são tão sinceras, hoje em dia elas são também meio adultas!
Abraços apertados!