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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sábado, 14 de junho de 2014

Pode Apostar

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Silmara era amiga da Ana Maria. A primeira de origem japonesa e, a segunda, de origem argentina.

Ambas nascidas no Brasil, portanto, ambas brasileiras e simpáticas, conforme os costumes do país.

Silmara era desenhista e Ana Maria trabalhava numa revenda de alfajores.

Numa conversa, Ana Maria contou à Silmara que estava pensando em deixar o emprego para trabalhar numa empresa de produtos alimentícios para a culinária japonesa.

Silmara arregalou os olhos e disse:

_Desculpe amiga, não vai dar certo.

Ana Maria ficou triste com a observação da amiga e disse que era boa vendedora.

Silmara disse que a questão não era o profissionalismo, era outra coisa. Baixou a cabeça.

Ana Maria pediu para que a Silmara dissesse o que haveria de errado nessa troca de emprego.

Silmara era amiga e disse o que pensava:

_Eu gosto de você e digo o que penso. Você não conhece o alfabeto japonês, não luta e nem faz intercâmbio de cultura com os outros povos orientais.

Ana Maria disse que era para vender os produtos da mesma maneira como vendia os alfajores.

_Eu tenho um metro e cinquenta centímetros de altura e te derrubo com dois golpes de judô. Pense bem, você tem 1:70 metros de altura, é mais alta e mais forte do que eu, mas não luta. Perdeu.

Ana Maria disse que não pretendia lutar com ninguém na loja de produtos importados.

_Parece que você não entendeu. A luta, para nós, não tem o significado de briga. Lutar é uma forma de desenvolver o espírito de acordo com as leis filosóficas nas quais acreditamos. Você sabe quais são as nossas leis espirituais e qual é o significado de cada degrau atingido na técnica da luta?

Ana Maria disse que não e perguntou se tinha algo a ver com o Ying e o Yang.

_Perdeu de novo. Não luto com quem não sabe lutar, você não sabe. Não me leve a mal, mas não deixe o seu emprego antes de estar contratada pela empresa. Você não conseguirá esse emprego.

Ana Maria insistiu que não haveria necessidade de lutar com ninguém, bastaria à entrevista.

_E as flores e os seus nomes, por acaso você sabe o significado?

Ana Maria disse que não.

Silmara continuou a explanação:

_Há toda uma simbologia para cada nome e toda a flor. Depois você também não conhece as técnicas de dobraduras e o significado delas. Não tem jeito, venda alfajores.

Ana Maria disse que admirava tanto a cultura da amiga, a delicadeza com a qual ela se dedicava aos amigos, o modo de falar suave e perguntou se a Silmara a considerava uma amiga pouco educada.

_Não é questão de educação, você é educada e eu sei que é boa amiga. Acho que o seu Karma nessa vida não foi direcionado a essa função. Além de não dar certo, ainda há a possibilidade de gerar Karma para a próxima vida.

Ana Maria disse que não acreditava nem em Karma e nem em Darma. A ligação dela com Deus era bastante diferente daquela da sua amiga.

_Não acredita em Karma e Darma, então por os quer criar? Sabe, são dialetos, são os muitos diálogos com os chineses. Você sabia que japonês se dá bem com chinês? Com todo o respeito, fique fora.

Ana Maria ouviu e pensou, mas não desistiu e a entrevista foi um fracasso, ela realmente não entendia da culinária japonesa. Por sorte não deixou a loja de alfajores e a sua vida ficou estabilizada.

Passado algum tempo as amigas encontraram-se novamente.

Ana Maria contou à Silmara que realmente não entendia nada daqueles produtos e, mesmo com os rótulos traduzidos, não conseguiu saber a função culinária dos produtos.

Silmara ficou séria e disse:

_Não tente mais. Para tentar você tem que conviver diariamente conosco pelo período de dois anos, mesmo assim parecerá uma criança pequena.

Dessa vez, Ana Maria concordou. Ela não entendia nada daquela cultura.

Silmara disse que, para cada um há uma destinação a cumprir e, quando qualquer um tenta sair desse cumprimento das leis filosóficas, ele corre o risco de gerar consequências para as vidas futuras.

Ana Maria disse que não acreditava nessas coisas, mas o disse com todo o respeito. Eram sinceras uma com a outra, a amizade facilitava a conversa amena.

_As nossas lutas são entre amigas e nos abraçamos após o seu término. Se você quiser lutar, conheço uma academia excelente. Depois da luta, vamos para o Yoga. Quer ou não quer.

Ana Maria estava atrasada para chegar à loja de alfajores, mas abraçou a amiga dizendo que conversariam outra hora.

Silmara disse que estava combinado o chá tomado no tapete da sala.

Ana Maria concordou, tomaria o chá com a Silmara, à maneira dela.

Um comentário:

Célia disse...

Ceder para conciliar e aprender sempre com ensinamentos da experiência da vida.
Abraços.