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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Deixem a Menina Falar!

Deixem a Menina Falar!

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A Lívia queria falar ao apresentar o seu trabalho escolar. Era uma exposição de trabalhos manuais e, não havia muito que dizer a respeito. Todas as mães conheciam os pontos de tricô e crochê, as criações é que ficavam por contas das jovens.

A Lívia disse que poderia explanar sobre a importância de se fazer trabalhos manuais.

A menina tanto quis que, querendo, acabou por conseguir o seu espaço, antes de servirem refrescos e biscoitos para mães e filhas.

A professora a apresentou e a deixou falar, também curiosa pelo que iria ser dito, pois a menina pegou todos de surpresa:

Vamos começar pela origem do meu casaco: escolhi fazer um casaco de crochê para o verão para usar sobre vestidos e blusas nos dias de menos calor.

Todos sabem que a boia é um socorro que oscila de acordo com as ondas do mar.

A boia é a chance do náufrago se salvar, sem essa chance dificilmente o náufrago volta à terra firme.

Bordei boias nas mangas do meu casaco de crochê para lembrar que, a primeira chance de sair bem de um naufrágio depende de mim e dos cuidados que tomo comigo mesma.

Depois vem a sorte, pois se eu estiver calma e em algum local adequado próximo da costa, certamente alguém virá me ajudar. O casaco é branco para me lembrar de que, em qualquer circunstância eu preciso manter a calma, mesmo agora, nessa oportunidade que busquei junto à professora.

Escolhi o ponto alto como base para os motivos da renda. Quando a gente precisa de ajuda, a gente precisa gritar, ainda mais alto que o mar fundo. Se ninguém sabe da nossa situação como irá nos auxiliar.

Esse casaco não tem gola, aquela parte do casaco que mexe com a vaidade. O mar é o único local onde se aceita a ajuda de estranhos, pela melhor razão que é a seguinte: ninguém nada até alto mar para te afogar ou roubar a boia. Depois do naufrágio, quem conseguiu a sua boia, conseguiu. Quem não conseguiu, deixa para a sorte contar do seu destino.

Esse casaco tem botões que são para ficarem abotoados. Para que os movimentos dos braços sejam vistos. Para que não tampem a sua boca na hora de falar, ou, nesse caso, pedir ajuda.

Os botões são de madrepérola porque quem vem em teu auxílio deve ser tratado com respeito e as recomendações do auxiliador, seguidas. Mas seguidas como se fosse devoção à mãe e eu quis dizer mãe de pérola.

Com casaco pronto, lavado e engomado, faltava vir aqui na frente para dizer do meu casaco. Porque todo o trabalho depende das circunstâncias que o cercam para ser usado adequadamente.

Toda a salvação tem que estar de acordo com as circunstâncias. Vir até aqui, exigiu que eu conversasse com a minha mãe que está sentada na plateia. Ela teve que consentir que eu falasse com a professora e, o tempo no qual conversei com ela, foi bom. Ela permitiu, advertindo-me que a professora poderia não permitir e que eu não poderia ficar triste com isso.

Para se salvar é preciso coragem e determinação. Se eu pensasse ao contrário, eu não teria chegado até aqui.

Eu tive que esperar a resposta da professora, pois embora ela me queira bem, com certeza quer bem todas as alunas. Eu vi quando a mestra conversou com as minhas colegas perguntando se alguma delas gostaria de falar sobre o seu trabalho. A maioria das minhas colegas é encabulada e vão à frente da sala quando obrigadas pela professora.

Eu sei que o trabalho mais bem feito não é o meu, mas a dona do trabalho mais bonito não quis se manifestar. Eu percebi a diferença que a força de vontade fez no dia de hoje. Eu quis estar aqui.

Consegui chegar aqui e dizer do meu crochê.

Falta terminar a exposição. De nada adiantaria vir à frente da sala se ninguém quisesse me ouvir. Todas as mães e alunas são gentis comigo ao me ouvirem.

Eu não sou a única aluna da sala e tenho que agradecer a atenção dispensada nesse meu casaco de crochê, detalhado com precisão nesta tarde.

Deixo o meu muito obrigado, que é pouco diante da alegria que sinto por estar aqui.

Os aplausos que se seguiram comoveram todos os presentes.

3 comentários:

chica disse...

Que lindo e emocionante e Paula tinha muito a falar.Sabia do que dizia,estava confiante em sua mensagem.ADOREI!! bjs, chica

Edum@nes disse...

Deixem a Menina Falar,
Para onde ira ele tão apressada
Talvez para a piscina nadar
Leva a bóia para não ficar afogada!

Resto de bom domingo para você amiga Yayá, um abraço
Eduardo.

ricardo alves / são paulo,brasil disse...

gostei desta garota...
muito precavida com certeza, muito cheia de preparativos e antecipações...mas surpreende!