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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Um Homem Triste

Um Homem Triste

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Aguinaldo tudo tinha, vida boa e confortável, estudos e princípios, elegância e espírito aguçado.

Filho de industriais, buscava no conhecimento o sentido de existência tão magnífica em meio a esse mundo repleto de contradições irrelevantes.

Levantava-se cedo, caminhava nas areias de Guarujá, trabalhava disciplinadamente e à noite, metia-se em estudos existenciais.

O seu pai, preocupado com o filho, que, tendo tudo, não saía para se divertir, era introspectivo e guardava para si todo o questionamento que a sua filosofia trazia, comentou sobre o filho com a esposa.

Houve depois, um dia no qual sua mãe o chamou para conversar.

Aguinaldo, de espírito humilde, contou à mãe que o seu objetivo de vida era estudar a espiritualidade humana. Não queria sair com os amigos, não queria festejar, mas estava bem do jeito em que se encontrava.

A mãe, alvoroçada com a resposta, contou ao marido como o filho pensava.

O pai disse que os jovens quando não tinham o que fazer, inventavam os seus problemas.

Passaram-se alguns anos. Aguinaldo estava com vinte e oito anos, mas com a vida que tinha aos dezoito: não vivia, estudava a vida e os seus porquês.

Era hora do jantar. Pai e filho trabalhavam juntos e jantavam à mesma hora.

Enquanto conversavam amenidades após o jantar, o pai olhou para a mãe, que consentiu sobre o assunto à mesa de refeições, e disse:

_Aguinaldo, você terá que se casar.

O filho sorriu dizendo que não tinha interesse em se casar e que os estudos filosóficos lhe bastavam para viver.

A mãe o ouviu e disse:

_Você está enganado sobre esse assunto. Eu tenho um só filho e a sua obrigação enquanto filho de industrial é ter filhos.

Mais uma vez Aguinaldo sorriu. O assunto não tinha cabimento na vida dele.

A mãe dele repetiu:

_Você se casará em um ano, querendo ou não. Na nossa família todos deixam sucessores, você também o fará.

Aguinaldo surpreendeu-se com o tom da conversa e olhou para o pai.

O pai dele concordou com a mãe dele e disse:

_Você tem um ano para se casar. Lembro que você trabalha comigo e que eu posso te demitir na hora em que eu quiser; sou seu pai.

Aguinaldo respondeu com cinismo, dizendo para a mãe que ela que arranjasse a esposa que se submeteria a esse tipo de casamento.

O pai dele disse para que não desafiasse a autoridade da sua mãe e nem respondesse a ela. Ela tomaria conta do casamento dele.

A partir do dia seguinte a mãe de Aguinaldo procurou a moça que precisava de um filho para amar, nunca um marido a quem confiar.

A proposta que parecia impossível para Aguinaldo era o sonho de algumas jovens, que por sua vez, não acreditavam nos homens mais do que fontes de reprodução.

Por mais que os parentes e amigos pedissem para que o pai e a mãe dele desistissem dessa ideia, houve quem a achasse interessante.

Aguinaldo casou-se e teve o filho, saudável e forte conforme os seus pais desejaram.

Aguinaldo continuava a pensar na existência e a levar a vida que levava enquanto solteiro. Até procurava não incomodar a sua esposa, lendo na sala de estar ou no outro quarto do apartamento.

A mulher, com respeito ao marido Aguinaldo, disse que se ele quisesse poderiam se separar, pois o herdeiro era saudável e ela acreditava que a família dele não o incomodaria mais. Deu a liberdade para que ele levasse a vida que desejava cada vez mais voltada às pesquisas de motivos e porquês da vida humana e os problemas existenciais.

A família de Aguinaldo concordou com a separação, mas no dia seguinte, após a assinatura do divórcio, o pai dele o demitiu e o deserdou.

Aguinaldo ficou sem ter o que comer e foi para uma grande cidade onde poderia desenvolver os seus projetos pessoais.

Toda a cultura dali em diante seria pouca para comer o seu pão num meio inculto, que sempre seria inculto diante de todo o estudo daquele homem. Ainda assim conseguiu dar aulas para sobreviver e conviver com professores.

A espiritualidade se fez guia e viga de uma casa por fazer.

2 comentários:

Célia disse...

Acho um absurdo esse "mandos" familiares! Cada pessoa tem sua missão, seu dom para desenvolver. Podemos dar pistas, sugestões mas nunca ditatoriais. Em seu conto fica nítida a infelicidade por imposição familiar.
Abraço.

Mª Carmen disse...

Cada cual ha de vivir su vida como quiera aunque los demás no le parezca bien Feliz semana amiga. Bestosss.