Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Quando o Cachorro é o Sócio / Crônica do Cotidiano

Quando o Cachorro é o Sócio / Crônica do Cotidiano

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Há conversas que nos distraem muito. Conversávamos sobre pães e biscoitos, quando uma freguesa contou a história que transcrevo abaixo.

Numa firma de contabilidade, um dos dois sócios viajou com a família.

Antes de viajar, pediu para que a sócia fizesse um favor enquanto ele estivesse fora.

_Você pode alimentar o meu cachorro enquanto eu estiver viajando?

Ela disse que sim e que era a casa dele ficava no caminho dela para o escritório.

O sócio agradeceu a gentileza, foi até o carro dele e trouxe a ração para deixar com ela, mas também deixou algumas recomendações:

_Aquele cachorro dálmata que eu tive, infelizmente não existe mais. Comprei um cachorro dobermann. Ele foi treinado para defender a casa e ele é agressivo com quem ele não convive. Tome cuidado e não aproxime as suas mãos dele.

Quando ela foi questionar o fato de alimentar um cachorro brabo, ele disse que estava com pressa e saiu.

Ficou ela e a ração e o cachorro brabo.

Eu me vi na obrigação de interferir na conversa, pois todas nós interagíamos amistosamente naquela panificadora.

Eu disse que conhecia muitos donos de cachorros que os deixam em hotéis quando viajam.

Ela me explicou que a função do cachorro era cuidar da casa. Não havia quem cuidasse da casa do sócio enquanto ele viajava. Estava aborrecida porque se sentiu obrigada a ajudar o sócio, afinal, a empresa dá lucro.

Depois, ela disse que não quis mandar nenhum auxiliar para alimentar o cachorro porque ele oferecia riscos e, se o seu funcionário fosse atacado pelo cachorro, além do remorso, ela teria que indenizá-lo e explicar-se com o sócio quando ele voltasse.

Em nome da firma ela passaria pelo constrangimento de alimentar o cachorro brabo.

Resolvi não dizer nada, voltei a conversar sobre pães e biscoitos.

Ela, não. Ela queria conversar sobre o cachorro e contou-nos que comprou um protetor de mãos, mas não se arriscava a abrir o portão, passava a comida por debaixo da caixa da correspondência, onde havia um vão para que os carteiros pudessem entregar as correspondências grandes.

Eu pensei que nesse caso, não havia o que fazer. Tenho alguns conhecidos que compram pacotes de viagens aonde os cachorros vão junto com os donos. Também tive a oportunidade de presenciar um cachorro de tamanho pequeno na gaiola própria para cachorros saírem e viajarem no colo dos seus donos sem que eles corram o risco de se sujarem com pelos ou outros inconvenientes. Quem viaja com o seu animal de estimação garante que se diverte mais do que aqueles que viajam somente com a família.

A senhora, ainda argumentou sobre o assunto dizendo que onde se viu um cachorro brabo valer uma sociedade, o que agora era real.

Agora, o meu ponto vista: será que o sócio não deixou o cachorro tomando conta dos seus negócios?

Complicada essa vida empresarial, ainda mais para quem não a conhece.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Preocupações Horripilantes / Conto Assustador

Conto Assustador

Preocupações Horripilantes

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Heitor contava com a boa vontade dos colegas e amigos.

Ultimamente, ele não conta com ninguém. Todos em sua volta percebem o olhar de mágoa no seu semblante.

A verdade é que ninguém suporta mais a sua paixão pela morte. Houve quem pensasse que ele estava gravemente doente, ele até quis que os amigos acreditassem nisso, mas seis meses depois da história, as pessoas descobriram que era uma farsa para entristecer os demais.

Heitor, descoberto, foi aos cemitérios da cidade e conferiu todos os falecimentos que causaram sofrimento aos seus amigos e conhecidos.

Ele anda cheio de mistério e, ao cumprimento, ele responde com uma lembrança de morte.

Um amigo seu, inconformado com a situação, perguntou a outro amigo se ele estava assim há muito tempo.

O outro confirmou a situação e disse que estava afastado dele por este motivo.

_Ele está estranho, parece querer exercer uma espécie de poder sobre nós. Ele se julga alguém com poderes estranhos e é nojento nos seus detalhamentos sobre cadáveres.

O amigo conversou com franqueza sobre o Heitor.

_Ele parece a cada dia mais magoado conosco e é ele quem procura esse relacionamento tétrico conosco. Nós conversamos sobre futebol, sobre trabalho, fazemos algumas confidências e nos queixamos aqui e ali, mas nenhum de nós está obcecado. Poder sobre nós, o infeliz não tem condições de exercer.

O outro respondeu:

_Esse poder místico que ele imagina ter porque nos aborrece, ele não tem. Acontece que ele está estranho e temos que lidar com isso.

O amigo confidenciou sobre a vida do Heitor, o que ele não faria em circunstâncias normais.

_Acontece que ele mora sozinho e longe da família dele. Além disso, ele parece magoado com a gente. Eu realmente tenho medo dele. Eu tenho medo que ele se volte contra nós. O problema é que eu não sei como ajudar.

O outro contou que ele está magoado porque ninguém gosta da morte como ele. Ele tinha se afastado do Heitor e disse que para ele bastava daquela paciência. Ninguém sabia se aquilo era verdade ou se ele queria impressionar os demais. Ele estava apaixonado pela morte, mas queria ficar vivo e que a família dele tivesse saúde.

_Tem gente que faz qualquer coisa para subir na vida!

Heitor não se importava com os afastamentos, a mágoa no olhar tornava-se o seu sorriso de desdém.

Quando ninguém sabe o que fazer, ninguém faz nada.

Mais um vampiro para Curitiba. A gente se acostuma.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Cantor

O Cantor

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Por trás dos óculos, o afeto.

Discreto e sério, arranjador.

Quem canta, sabe todo teto;

A acústica é por puro amor.

 

Levanta o peito a andar ereto

E busca o público e o esplendor

Do palco inquieto, nesse objeto,

De amor excelso; imenso ardor.

 

Depois, seria fraco o prospecto,

Não fosse certo o encantador;

Não fosse o som ao tom correto,

Não fosse o amor maior que o cantor.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Casamento de Rosália / Conto

O Casamento de Rosália

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Rosália estava noiva e havia marcado o casamento para dali a um ano. Contratou a festa, comprou o apartamento em conjunto com o noivo, escolheu o modelo do vestido e mandou confeccionar.

Três meses faltavam para a festa, quando ela entrou no elevador no prédio onde ficava o escritório onde trabalhava. Foi naquele dia que ela conheceu Ivan.

Ivan iniciava as atividades no escritório de contabilidade. Ele havia comprado a sala comercial depois de muita economia e, finalmente, conseguiu montar o escritório com o fichário repleto. Teria como se sustentar.

Enquanto ele, entusiasmado, contava a ela dos seus negócios e pedia a ela que divulgasse o seu nome, ela sentiu um arrepio. Era como se tivesse achado o homem ideal.

Ele contava das suas atividades e pressentiu a personalidade dela, meiga e gentil. Achou a conversa atraente e ficou com vontade de conversar depois.

Ela estava noiva e usava a aliança na mão direita. Ele queria aquela amiga como amiga, não se importando se ela iria se casar, chegou a desejar felicidades para ela.

Não passou um mês e eles namoravam.

Ela, como que parecendo embriagada, decidiu-se conforme a vontade lhe dizia.

Foi assim que dois meses antes do casamento desmanchou o noivado sob os protestos da sua família. O noivo saiu em viagem para abafar o mal estar entre os parentes e os amigos.

Rosália deixou o apartamento comprado para o noivo e disse a ele que pagasse a parte dela quando pudesse, pois o sentimento que a possuía era maior do que tudo que ela havia sentido até então. Do noivado, ficou com o vestido de noiva.

Por incrível que possa parecer, Ivan era possuído do mesmo sentimento. Ao saber que o vestido de noiva estava pronto, pediu a mão de Rosália em casamento.

Ivan e Rosália se casaram uma semana depois da data do casamento previsto anteriormente. Viveram um mês em plena felicidade.

Eles trabalhavam no mesmo lugar e tinham amigos comuns.

Passados seis meses, os amigos comuns chamavam os dois para saírem. Pelo menos no começo. Depois chamavam os dois separadamente para as reuniões de confraternização.

Passados dois anos, Rosália e Ivan tiveram os seus desentendimentos passageiros.

Passados quatro anos e meio e eles não entendiam como e porque haviam se casado. Ele se sentia responsável por ela e ela por ele, mas gostariam de viver as suas vidas com maior liberdade, sem terem ambos que prestarem tantas satisfações um ao outro.

Por fim separam-se. Ele foi ousado e saiu com outra pessoa. Rosália ainda o respeitava. Sentiu-se traída.

Ele havia saído com uma mulher, mas não a havia traído.

Rosália sentiu como se a outra fizesse o mesmo papel que ela fez quando se conheceram.

Não conseguiam viver juntos e em paz, como uma família.

Ivan deixou Rosália no apartamento e comprou um para ele.

De vez em quando ele a visita para resolverem os problemas comuns e visitar o filho que ambos amam.

Voltou o respeito e a amizade.

Rosália e Ivan vivem para a criança, mas não para eles mesmos.

Ela teve namorado e ele teve namorada.

No entanto, aquela sensação que sentiam um pelo outro nunca mais sentiram.

E eles sabem que sentiram o que não sentem mais.

Como não conseguem explicar o que se deu entre eles, preferem ser sós.

Santificaram o amor que um dia existiu.

domingo, 27 de outubro de 2013

Poema de Mim

Poema de Mim

 

Minha alma de sonhos compactua

Nessa alva manhã de céu risonho

À luz consciente ao que me proponho,

Sem réstia alguma a transposta rua.

 

Presente o amor, pressente-se a lua,

Que a chuva de ontem ao céu medonho

Não quis. Coube ao travesseiro enfronho

O sono e a Luz calma e pura, Sua.

 

E cabe a mim que ao sonho construa

E, saiba enfim, do que me componho.

Se, penso e faço o desejo ao sonho;

Passeio à calçada que me tatua.

 

sábado, 26 de outubro de 2013

Projeção Sobre O Futuro da Mulher Contemporânea

Projeção Sobre O Futuro da Mulher Contemporânea

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Essa é uma projeção sem dados científicos de pesquisa ou de alguma metodologia comprovadamente eficiente.

O assunto se repete em todas as rodas de conversa, sejam essas mulheres da classe social que forem com mais e menos riquezas palpáveis.

Nos últimos meses 100% das mulheres com quem conversei, não importando igualmente a faixa etária, foram unânimes em dizer que querem trabalhar durante meio expediente, entre cinco a seis horas ao dia.

Aquelas que conseguem essa condição não sentem dúvidas ao deixarem os seus empregos atuais.

Parece-me que a natureza feminina está contrariada com o papel masculino a elas destinado no mercado de trabalho. Umas reclamam que não têm tempo sequer para lavar as roupas das crianças. Outras dizem que trabalham e acabam recebendo menos que o salário mínimo porque têm que pagar alguém para cuidar das crianças. Outras, ainda, dizem que se sentem mães irresponsáveis ao deixarem os seus filhos nas mãos de estranhos o dia inteiro. As mais exaltadas chegaram a afirmar que creche não substitui mãe. Algumas limpam as casas nos finais de semana enquanto gostariam de sair para namorar os seus maridos, além de comprar pipoca e sorvete para as crianças.

O fato é que as mulheres estão perdendo as suas casas no sentido de família em prol de uma renda, que nem sempre ficará nas mãos delas.

Todas elas, incluindo as solteiras e divorciadas, querem o seu momento da natureza feminina. A lanchonete é boa, a pizzaria e a cafeteria são de excelente qualidade. No entanto, a postura de mulher competitiva chega a ser falsa. Uma delas disse que a competição era sem sentido; ela ganhava bem e não tinha o filho no colo. Daí para contar o quanto custa em espera e amor os nove meses, o assunto foi rápido.

Todas as mulheres com quem conversei querem educar os seus filhos, querem ser boas esposas para os seus maridos.

Todas estão de acordo. A grita é geral no que tange às oito horas de trabalho. Nenhuma delas quer continuar a levar esse tipo de vida.

Por enquanto é murmúrio, mas acredito que a sociedade terá que repensar o papel da mulher na sociedade. Os costumes sociais passam por dificuldades e, as mulheres se colocaram em posição de tomarem atitudes diante da situação a que ela e suas famílias estão expostas.

As mulheres com as quais conversei se consideram corresponsáveis com a sociedade em que vivem e acreditam que, se ficarem ao menos quatro horas com os seus filhos, daqui a alguns anos teremos toda uma sociedade de melhor convivência.

De alguma maneira, todas se sentem oprimidas pelo atual momento. Ao contrário das feministas de antigamente, elas não consideram como obrigação do parceiro, que ele lave e passe a roupa que usa. Dizem mesmo que nem todos os homens nasceram para serem bons donos de casa. Contam que os seus maridos ajudam quando vão ao mercado, quando jogam o lixo fora, quando fazem churrasco e eles mesmos preparam as carnes e as saladas, quando ajudam a cuidar das crianças com paciência e dedicação. Elas contaram dos homens bons. Daqueles que não são bons, o caso é com o advogado. Algumas deixam para que o advogado diga aquilo que elas não dizem por que têm os seus compromissos.

Nesse meio tempo presenciei “in loco” dois casos: a primeira foi trabalhar meio expediente num salão de beleza e a segunda foi trabalhar meio expediente num escritório de advocacia.

Todas as outras estão à procura da mesma condição.

Diante de tudo o que ouvi, acredito que a sociedade irá mudar os seus conceitos, se não agora, daqui a alguns anos a mulher terá o seu lugar não somente no mercado, como no seu papel natural, de mãe, esposa, dona de casa em harmonia com a sua natureza.

A verdade é que a maioria de nós, mulheres, não nasceu para ser homem, e gosta de como a natureza as criou e Deus abençoou.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Cafezinho / Crônica do Cotidiano

O Cafezinho / Crônica do Cotidiano

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Dos melhores entre os melhores, parar para tomar um cafezinho num ambiente aconchegante, é uma delícia. Encontramos com gente disposta a relaxar e jogar conversa fora.

Parei e pedi um café. A moça do meu lado pediu café e bolo de milho.

Conversamos sobre receitas de bolo e sobre quem tem mãos boas para os doces.

Eu tomava o café e ela olhava para a rua, distraída.

De repente, como se as palavras viessem do mais profundo da sua alma, ela contou a sua história:

_A rua está movimentada. Cada vez que o ônibus passa, no meu coração bate saudade.

Todas nós, a moça que nos serviu, a gerente e eu paramos em atenção ao que ela iria nos revelar.

Ela, percebendo a nossa atenção, continuou, com o olhar teimando em não lacrimejar na frente da gente.

_Vocês não sabem a saudade que eu sinto quando vejo o ônibus passar. Eu fui cobradora de ônibus. Esse foi o tempo onde todos os meus objetivos deram certo. Eu estudei, eu progredi, eu fiz amigos, eu me distraí conversando com as minhas colegas e com os motoristas. Todos éramos amigos e, com algumas pessoas dessa turma, eu ainda mantenho contato.

A atendente, surpresa, repetiu a exclamação, dizendo a palavra cobradora de ônibus como se ela tivesse sido física nuclear.

Aos nossos ouvidos, ela complementava a sua história:

_É interessante como quem nos vê, pensa na nossa vida sofrida com horários a cumprir e contas a fazer. Ninguém imagina que sejamos felizes. Talvez fosse a minha linha de ônibus que fosse especial, onde todos foram generosos em bondade e compreensão.

A atendente perguntou a ela sobre o seu hoje.

A moça pediu mais uma fatia de bolo de milho e mais uma xícara de café.

A atendente a serviu e ela continuou o seu passeio cor-de-rosa.

_Hoje eu posso pagar pelas duas fatias de bolo de oito reais e duas xícaras de café de quatro reais, eu estou bem empregada e me tornei uma pessoa de confiança para o meu chefe atual. Estou bem. Mas, quando o dia é de poucos serviços e, eu fico à janela do escritório, eu fico observando o ônibus passar. Eu poderia dizer que não sou ingrata e que valorizo o começo da minha vida profissional, mas não é isso. Todos os ônibus que passam e são da linha onde eu trabalhei me fazem lembrar aquele tempo, onde eu imaginava algo bom e esse algo bom acontecia. A minha vida foi um sonho realizado dentro daquele ônibus.

Ela estava emocionada e parou de falar, apontando para o ônibus que passava na rua.

A conversa dela deixou-nos todas olhando para a rua movimentada, com o olhar absorto, e emocionado por ela, a quem conhecíamos naquele momento.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Caso Contrário / Crônica do Cotidiano

Caso Contrário / Crônica do Cotidiano

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Cabe observar, antes de contar a crônica, que os textos nascem das observações e dos momentos espontâneos das pessoas nas filas, onde, as minhas reações também são espontâneas, porque não sei que história virá antes de entrar em alguma fila.

Hoje eu estava para as delicadezas e procurei algo barato e feminino que coubesse no meu bolso.

Eram nove ou dez pessoas na fila e um único caixa. Estava pensando em pedir para que a loja abrisse um segundo caixa para receber o pagamento, quando observei um grupo de moças na minha frente. Apenas uma delas havia comprado algo, as outras estavam juntas para saberem das novidades que a moça tinha para contar.

Eu não pedi, mas a gerência abriu outro caixa. A fila iria andar.

À minha frente, as garotas incomodavam a garota, querendo saber se ela estava namorando ou não.

Ela disse que não. As outras moças usaram de subterfúgios e disseram o nome de alguns rapazes e contaram dos seus namoros.

A moça em questão aparentava uns vinte e dois anos e estava séria até ouvir o nome do Luiz Francisco, sobre o qual as outras quiseram saber por onde ele andava. Ela sorriu, e disse:

_O Luiz Francisco é uma graça. Ele está trabalhando na empresa H Construções Civis (nomes fictícios). Vocês não imaginam o quanto eu acho ele querido.

As outras, curiosas, observavam o olhar dela com desconfiança de que ela estava apaixonada.

Eu, que estava atrás, na fila, observei as peripécias que ela fazia com a coluna enquanto falava dele.

Que situação constrangedora! Se as moças tirassem os olhos dos olhos da amiga e observassem os gestos físicos da coluna vertebral, saberiam mais do que poderiam supor.

Não tive dúvidas: olhei para os olhos da moça com ar respeitoso e sério por alguns segundos, depois olhei para os saltos dos sapatos dela e para a coluna.

Na posição em que a moça se encontrava eu não diria nada além de:

_Contenha-se!

Não disse nada, mas ela entendeu o recado e voltou à postura normal, com a coluna endireitada. Observou que eu vi e, como ela não me conhecia e nem eu a ela, ela ficou sossegada.

As amigas dela me olharam e eu olhei firme para os saltos dos sapatos da moça, como que criticando os saltos altos.

Ela ficou mais sossegada ainda.

E eu, por acaso, quero que a moça venha a ter problemas de coluna mais tarde? Não.

No entanto, desejo felicidades para ela. Que aquele olhar dela, enquanto pensava no Luiz Francisco, seja eterno.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Mesmo Problema, Três Soluções / Crônica do Cotidiano

O Mesmo Problema, Três Soluções / Crônica do Cotidiano

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Caso A: Deformidade na Coluna Cervical.

O medico chama o paciente, homem casado e com família:

_Vamos operar. Existe a chance de o senhor ficar tetraplégico, mas, se isto acontecer, a sua família cuida do senhor. Portanto, o senhor não tem com o que se preocupar.

O homem refletiu a respeito e, perguntou ao médico, quais eram as probabilidades de isto acontecer a ele e o médico disse que as chances eram de 99%.

Conversou com a família sobre o assunto. Fez uma segunda consulta e, o segundo médico afirmou que o sofrimento pós-cirúrgico seria muito grande e questionou a medida cirúrgica. Deixou claro que a literatura médica era controversa sobre o assunto e deixava o tratamento ao critério do paciente, que consciente, poderia realizar a cirurgia, consciente dos riscos que corria.

Após dois meses verificando os prós e contras da situação, decidiu não realizar a cirurgia e aproveitar a sua vida como pudesse.

Caso B: Deformidade na Coluna Cervical.

O médico chama o paciente e conta da possibilidade cirúrgica e do pós-operatório.

_A cirurgia é complexa e existe um grande risco do senhor ficar tetraplégico.

O homem disse que não temia cirurgias e pediu ao médico que contasse do pós-cirúrgico.

_A recuperação se dará na UTI, onde o senhor ficará internado entre 45 até 60 dias. Existe o risco de complicações secundárias nesses meses de UTI. A probabilidade de não ocorrerem sequelas é de 0,01%. O senhor deve conversar com a sua família para discutir a respeito para que a decisão seja tomada em conjunto e não haja arrependimentos.

O homem não tinha família. Morava sozinho, numa cidade bucólica, cujo lazer era a praça e o teatro; cinema não tinha. A decisão fiou por conta dele.

Foi para casa e pensou muito. Depois de dois meses pensando, decidiu que não mais perderia um final de semana. Comprou uma casa afastada do centro da cidade e alguns animais. Aproveita a vida como pode e ama cuidar da casa de campo. Não se lembra do problema ou, quando alguém pergunta a ele sobre o assunto, ele diz que resolveu ser feliz enquanto pode. A cirurgia poderia antecipar muitos problemas.

Caso C: Deformidade na Coluna Cervical

O médico conversa com a paciente, dessa vez mulher. Ao invés de argumentar sobre as desvantagens da cirurgia, foi direto ao ponto, o que os médicos anteriores se esquivaram de fazer; Disse à paciente:

_Não existe tratamento seguro para a sua situação. Sei que a sua preocupação é razoável, mas aproveite a vida e não pense mais no assunto.

A mulher, igualmente sozinha, conversou com uma amiga, que lhe indicou um chá energético, o qual ela tomou e se arrependeu, pois perdeu o sono e causou o aumento da angústia pela doença.

Depois procurou uma segunda opinião.

A decisão é dela. Ninguém deve opinar nessa questão espiritual, essa decisão é íntima.

Vamos orar?

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Indriso Solar

Indriso Solar

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O sol não cansa

De ser a criança

De terno olhar.

 

À luz da trança

De quem descansa

Ao seu brilhar.

 

Céu de esperança,

 

Barco no mar.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Suposição

Suposição

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Supõe-se o dia conciso,

Resumo do que é feito

Ao passo do preciso;

Resgate do desfeito.

 

Não cabe o paraíso

Ao dia , quando refeito,

Sem lucro ou prejuízo

Ao sonho do seu leito.

 

De mar e rio indiviso

Ao córrego, o sujeito,

Convence o senso ao siso

E, sonha dentro ao peito.

domingo, 20 de outubro de 2013

Horário de Verão / Crônica e Sono

Horário de Verão / Crônica e Sono

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Acordei cedo, mas pelo horário antigo. Saí atrasada e sonolenta.

Alguém pode me dizer de onde apareceu aquele amazonense perto do local onde eu fui? Passei por ele e o ouvi falando da agradável surpresa do clima de hoje. Veio do Amazonas e contava as aventuras de percorrer a estrada Transamazônica, que começa em Cabedelo, no estado da Paraíba, atravessando os estados do Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará, terminando na cidade de Lábrea no Amazonas.

Pensei no horário e peguei o telefone móvel. Eu estava apenas uma hora atrasada, nada mais do que isso.

O ouvinte das peripécias havia sido cercado sem motivo, mas deu atenção ao cidadão amazonense.

Pensei que o efeito colateral do horário de verão fosse comigo, mas à minha volta, outras histórias sem fundamento. Um conhecido contou-me “do ‘vizinho proibido”. Ele tem um vizinho, o qual ninguém se arrisca incomodar. O cidadão não é abastado, mas é temido por algum motivo desconhecido. O medo do vizinho chega a ser divertido, pois para que se evitem vistorias naquele apartamento, fazem duas vistorias no dele. Ele é calmo e se diverte. Não sei se é a melhor postura, mas do jeito que o mundo está, nem comento o assunto. Nesse mundo, nem o relógio acertado conserta.

Esse horário de verão me deixa devagar, queria me sentir um jabuti, mas não tenho talento para tanto. Tartaruga de estimação pode? Então, hoje me sinto como uma tartaruga de estimação sonolenta.

Tenho a semana inteira para conversar sobre o horário de verão e a hora que eu não vi passar. Procurarei poupá-los de tal enfado.

Boa semana para quem gosta e para aqueles que não gostam do horário econômico porque demoram a se adaptar.

Ano que vem, se Deus permitir, escrevo de novo, com sono, de novo.

sábado, 19 de outubro de 2013

Mansidão

Mansidão

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As janelas abertas,

Primavera sem frestas

De um calor amornado,

São o sossego e o meu agrado.

 

Claridade às despertas,

Luz do dia a que te prestas,

Se o meu sonho é acordado

Pela brisa ao meu lado?

 

Alegrias de horas certas,

A preguiça que emprestas,

São do tempo cansado

De mormaço encantado.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Presente que Não Se Dá para A Avó / Crônica do Cotidiano

Presente que Não Se Dá para A Avó / Crônica do Cotidiano

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Pensemos em nós, blogueiros e, em todas as pessoas que frequentam esse nosso mundo virtual.

Estamos atualizados e procuramos saber das novidades que facilitam a vida moderna. Às vezes, porém, nos esquecemos de que nem todos estão na era virtual.

São milhões de pessoas que não sabem como ligar um computador e fazê-lo funcionar. O primeiro pensamento que vem a todos os leitores diz a respeito das pessoas menos favorecidas, aquelas que aprendem sobre computação nas escolas e com provedor discado.

Tudo bem que algum de nós pense assim. Mas, penso que a questão não é por aí.

Hoje vi algo que mudou a minha maneira de pensar a esse respeito.

Tive que comprar um pen drive e entrei numa loja bem aparelhada e cheia dessas utilidades para nós, internautas.

Uma senhora, aparentando ter mais de sessenta anos sentiu-se constrangida ao ter de pagar oitenta e cinco reais pelas fotografias contidas no pen drive dela. O filho, a nora e os netos, por certo, haviam viajado. Enviaram o pequeno objeto armazenador repleto de fotos. Ela foi à loja e mandou revelar as fotos na máquina automática. Ela pagou os oitenta e cinco reais e contou as fotos, mais de uma centena de fotos com crianças e adultos felizes.

Eu imagino a vontade que eles tiveram de dividir as emoções com a mãe e avó das crianças. Provavelmente eles fizeram o que a saudade mandou e, se esqueceram de enviar junto o porta-retratos digital.

Pensei na mesma hora que a inclusão digital passa pelo compartilhamento pessoal e paciente, levando o outro, a saber, como lidar com aquilo que ele não sabe.

A vida atual exige muito em termos de conhecimento, de atualizações pessoais. O tempo gasto é cronometrado para darmos conta de tudo o que tem que ser feito, mas pensemos antes de darmos mimos ao próximo.

Estamos distantes uns dos outros, essa é a nova realidade. Não sei como contornar as dificuldades de diálogo entre tanta gente ocupada. Essa dificuldade também é minha, também estou ocupada o dia inteiro e, a internet distrai e, quando se vê, surge a necessidade de desligar o PC por algumas horas, para entrar em contato com gente. Gente com qualidades e defeitos, mas iguais a nós, sensíveis a nossa humanidade.

Percebi a dificuldade daquela senhora ao pagar a conta inesperada. Ninguém perguntou se ela queria todas as fotos reveladas, falta de diálogo por parte da atendente.

Vi a afetividade de aquela senhora entrar em conflito e pensar no filho e na família dele longe dela. Vi o sentimento da mágoa para com a atendente.

As fotos dos netos dela não ficariam ali. Ela pagou com cartão.

Eu, na fila, logo atrás dela, para pagar o pen drive.

Temos que nos manter atualizados!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Poema Apaixonado

Poema Apaixonado

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A Lírica e a informática

Querendo pressa e prática

Conjuntas em canção

Ao tempo da emoção.

 

Preciso ver-me plástica,

Deixar que a sorumbática

Se evada ao coração

Sofrido, em vibração,

 

Contínua e programática,

Conforme a estocástica

Ensina à multidão:

Amor não tem razão.

 

Sentindo a Pré-Socrática

Magia da matemática,

Em números que vão

Contar dessa paixão.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Edson Prado na Festa da Uva

Edson Prado na Festa da Uva

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Chegou à época da festa da uva. Edson Prado, o repórter do blog fez a cobertura.

Vejamos a matéria.

A Festa da Uva no último final de semana estava repleta de gente, carros faziam filas para a entrada, no parque. Churrasco, polenta, macarronada e frango compunham o cardápio, além da uva branca e rosada, uva Itália e rubi.

O grupo folclórico estava muito caprichado e acompanhado dos cantores e seus instrumentos musicais.

Esta foi a matéria.

O blog perguntou se ele não tinha nenhuma curiosidade para contar, porque parecia nota de rodapé, não matéria de blog.

Olhem a história que ele contou, mostrando a foto da moça de cabelos louro escuro e olhos verdes.

_O blog que me desculpe, mas enquanto eu comia o risoto, as pessoas que estavam próximas comentavam sobre a Palmira e eu quis saber quem ela era, mas ela não foi à festa.

O blog disse para que ele acrescentasse o risoto ao que estava escrito sobre o cardápio. O blog perguntou o que é que a Palmira fez de interessante e por que ela não estava na matéria.

_A Palmira não foi à festa da uva. Todos estavam preocupados. Contavam que ela era uma das mais animadas frequentadoras da festa de todos os anos. Pedi o telefone da Palmira para conseguir uma entrevista sobre as tradições da festa, sobre o grupo folclórico italiano, sobre a comida típica e sobre as tradições ainda conservadas no Brasil pelos italianos imigrantes. Anotei para saber a diferença entre os italianos que vivem na Itália e os descendentes de italianos que vivem no Brasil. Pedi o telefone dela e entrei e contato.

O blog pediu para que ele continuasse a história.

_Liguei para a Palmira, que foi solícita e me atendeu com cortesia. Pedi para conversar com ela sobre a Festa da Uva e ela marcou encontro para falar respeito na escadaria da igreja. A igreja era próxima e fui até lá. Demorei meia hora para chegar lá por conta do congestionamento em torno da festa.

O blog ofereceu uma xícara de café para uma pausa. Ele tomou o café e prosseguiu.

_Palmira era uma senhora de trinta e seis anos, de olhos verdes, cabelos louros e curtos, de porte alto e de saias abaixo dos joelhos e lenço amarrado em forma de fita nos cabelos. Contei que todos na festa sentiram a ausência dela na festa e disse que gostaria de saber sobre a experiência dela na Festa da Uva. Palmira respondeu que nunca havia ido à Festa da Uva. Anotei o que ela disse. Leia, por favor: “Eu nunca fui à Festa da Uva porque a fila é enorme para se conseguir almoçar”. Moro perto do local da festa, assisto os ensaios do grupo folclórico, as cozinheiras são amigas e trazem uma marmita com o macarrão ao sugo no dia anterior para que eu prove o molho. Depois, vou até aos gaiteiros e canto com o meu marido. O meu marido gosta que eu o veja cantar e depois cante junto com ele; ele diz que eu o afino.

O blog concordou que a entrevista da Palmira não caberia no blog para depois da festa, mas se tivesse sido feita antes, poderia ser a publicidade da festa.

Edson perguntou sobre o que ela sabia sobre as tradições e as festas anteriores. Ela não soube responder. Também anotei o que ela disse: “o meu marido é quem determina qual será a minha participação na festa. Ele frequenta o boteco com os gaiteiros o ano inteiro.” Daí em diante ela disse:

_O meu marido não bebe, tenho que dizer que ele vai ao boteco para cantar e que eu sou casada com um homem sério. A conversa termina aqui porque está na hora de entrar na igreja. Bom dia para o senhor.

Edson contou que a Palmira entrou na igreja e que ele voltou para a Festa da Uva. Chegou à festa e foi conversar com aquelas pessoas que tinham contado da Palmira. Eles ficaram contentes dele ter ido conversar com a Palmira e serviram ele com frango, polenta, risoto e, churrasco. Suco de uva e vinhos variados. A conversa foi divertida e ele perguntou qual era a importância da Palmira na vida deles e para a festa da Uva, na esperança de complementar a matéria.

O blog quis saber o que eles disseram.

Edson Prado, rindo muito, disse que leria em voz alta a resposta:

_Joga truco? Se não joga, precisa aprender.

Joguei truco com eles. A festa estava ótima.

O blog pediu para que ele guardasse as anotações feitas com a Palmira para o ano seguinte.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Parabéns aos Professores!

Com respeito, desejo um excelente dia.
Coloco um mimo para quem quiser assistir:
Felicidades aos professores de ontem, hoje e amanhã!
Um abraço, Yayá.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ponto Final / Realidade Fantástica

Ponto Final / Realidade Fantástica

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Ana Lúcia era filha de Cássia, babá do Joaquim. Cássia e Joaquim cresceram juntos e eram bons amigos.

Quando Cássia precisava de apoio, ele era o primeiro a dar as mãos. Quando ele estava inseguro, Cássia fazia companhia até que a insegurança desaparecesse.

Nunca namoraram, permanecendo essa amizade na inocência infantil. Cresceram e tiveram os seus namoros.

Joaquim não quis a amizade do namorado de Cássia e, Cássia pensou nas diferenças sociais que apareciam. O namorado dela era de origem humilde e a fazia feliz. Não que a amizade entre ela e Joaquim tivesse que acabar, mas ela queria seguir o rumo dela. Talvez, pensasse em se casar e trabalhar como babá numa casa de família.

A namorada do Joaquim, ao saber dessa amizade, fez questão de preservá-la. Não eram ciúmes, era um sentimento estranho que a incomodava. Precisava da amizade de Ana Lúcia para se sentir bem, sabia que era bobagem, mas não queria aquela moça longe do alcance da sua vista.

Joaquim namorava e, de vez em quando, saía com outras garotas. Ana Lúcia viu e disse para ele não se comportar dessa maneira. Ele não ligava o que ela dizia.

Joaquim se casou e continuou nesse comportamento. Ana Lúcia se casou e, realista, tinha a vida que esperava ter, uma família remediada financeiramente, mas harmoniosa.

Muito tempo se passou e Joaquim se separou, a mulher dele acabou por descobrir as aventuras.

Ana Lúcia enviuvou e morava com o filho ainda solteiro.

Nessas circunstâncias aconteceu deles se encontrarem.

Ana Lúcia, conformada. Joaquim, aventureiro. Conversaram e ficaram por conversar depois.

Como brincadeira e lembrando-se dos velhos tempos de infância, Joaquim a chamou de Cássia e ela não gostou.

_Joaquim, eu peço que não me chame pelo nome da minha mãe. Ela te queria bem e eu também te quero bem. Deixemos que a alma dela descanse em paz. Temos idade e não precisamos dessas brincadeiras, que são de mau gosto.

Parece que tanto fez o que a Ana Lúcia disse. Ele queria chamá-la pelo nome da falecida babá.

Ana Lúcia começou a se esquivar das conversas, que acabavam por se tornar desagradáveis. Lembrou o Joaquim da infância e não o reconheceu; ele estava mudado. Continuava com as aventuras, mas havia algo de diferente nele. Noutros tempos ele não a chamaria por outro nome, ainda mais de gente que tinha morrido.

Ana Lúcia era babá, com o mesmo carinho e dedicação com o quê a mãe dela havia sido, mas daí a ser babá de alguém da sua idade era fora de propósito. Não mais aceitou esse tipo de conversa e o evitou. Quem ele queria não estava por perto; seria bom que ele ficasse longe.

Joaquim, no entanto, telefonava e escrevia para Ana Lúcia, sempre a chamando pelo nome da outra. Não era engano, ele assumia que ele queria que ela fosse outra, a mãe dela, a babá dele.

Quando a Ana Lúcia percebeu que não era brincadeira, que o assunto poderia ficar a cada dia mais sério, tomou a decisão de não mais manter contato com Joaquim. Não era fácil, mas ela tinha que querer o seu próprio bem estar. Ele parecia estranho nesse comportamento, ele havia mudado. Teve que dizer adeus.

domingo, 13 de outubro de 2013

Encontros / Reflexão

Encontros / Reflexão

 

É interessante saber que a gente não sabe onde encontra os pensamentos semelhantes. Não se imagina a esquina onde tomaremos decisões fundamentais para todos os outros dias.

Penso que não se experimenta a energia comum ao acaso. É o conhecimento produzindo conclusões que pareciam estar na ponta da língua, mas precisavam de uma palestra que o antecedesse.

Uma palestra, um pensamento, uma conclusão e, pronto, modificamos o rumo que tínhamos até então.

Conheço muita gente que brinca com a expressão: “Foi intervenção divina”. Até que se viva uma experiência religiosa, até se ri da expressão, principalmente quando não vem das orações de pedidos de saúde; vem do cotidiano. Aparece a dúvida e, pronto, ela se faz certeza de um momento para o outro sem que tenhamos qualquer expectativa para o assunto determinado.

Tem gente que pede a Deus tudo o que precisa, tem gente que pede a Deus apenas em casos muito tristes.

Agora, quando o assunto é religioso e, a gente olha para cima dizendo:

_Senhor, se for da Sua vontade decida por mim, porque o assunto é optativo e eu o continuarei seguindo, seja do jeito que o Senhor desejar.

E, tudo muda, sem mais nem menos, num email inesperado e desconhecido, e o assunto é teológico, não tem como a gente não se sentir bem.

Parece que Deus envia brindes àqueles que Nele esperam.

Sei que começo a semana em rotina modificada, com alguns afazeres que eu não tinha na semana passada, e sei que Ele interviu na questão.

É nessas horas que me lembro da parábola do grão de mostarda. É preciso acreditar nessa energia divina em qualquer momento da vida. Eu gosto dessa parábola pelo seguinte: tanto faz você colocar um grão de mostarda ou uma pitada de grãos de mostarda ao fritar um bife, o sabor será acrescido de mostarda e o comportamento dos alimentos é diferente na sua cocção. Ele sabia o porquê de cada palavra que pronunciava.

Hoje foi um dia para agradecer e a semana para aceitar o convite de aprimorar conhecimentos. Um convite feito de coincidências, mas eu guardo o meu grão de mostarda para acreditar que, desta vez, não foi coincidência, foi interferência de uma fonte de Luz que não se apaga.

Uma excelente semana para todos!

sábado, 12 de outubro de 2013

Enigma do Trânsito

Enigma do Trânsito

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Cortei cinco minutos

Das minhas horas fúteis;

Ganhei quatro atributos

E, os cumpro em horas úteis.

 

São meus cinco minutos

De pontes entre túneis

E reta em resolutos

Espaços insolúveis.

 

Injustos são os minutos

A mais dentro dos túneis

Em horas. Tempos justos

E iguais, de asfaltos súteis.

 

Contados são absolutos

Relógios resolúveis;

Questões para os argutos

Do trânsito aos dias úteis.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Conversa Íntima

Conversa Íntima

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Lia chamou Nélia para conversar em particular.

Nélia ficou curiosa e aceitou o convite da amiga para estar na casa dela no dia seguinte.

Lia elogiou a aparência de Nélia e Nélia retribuiu a gentileza dizendo o quanto era agradável estar com ela.

Depois de uma breve conversa descontraída, Lia pediu à filha que pegasse o espelho da sua bolsa e o trouxesse até a sala.

A filha voltou desencantada:

_Mamãe, você comprou o espelho da bruxa da história da Branca de Neve.

Lia respondeu que foi absolutamente necessário. Mostrou o espelho para Nélia e pediu para que ela se mirasse nele.

A filha, aborrecida com a brincadeira, disse que a Nélia parecia uma boneca e não tinha nada de bruxa.

Lia interrompeu a filha e disse:

_Exatamente, minha filha. Eu não sou nenhuma bruxa e a minha amiga Nélia não tem sete anões.

Nélia ficou assustada com a conversa e disse:

_Como assim?

Lia respondeu:

_Pois é. É o que estão dizendo de você.

Nélia respondeu com outra pergunta?

_Como assim?

Lia respondeu, dizendo nas entrelinhas o que precisava ser dito:

Amiga, esse espelho foi comprado numa loja de R$1,99 - um real e noventa e nove centavos – explicitou. Essa bruxa enfim, é daquelas baratas e úteis. Você não merece isso.

Nélia exclamou:

_Não me diga! Eu não sabia dessa história.

Lia disse que alguém precisava avisar à amiga e disse:

_E, se de repente aparecem sete anões na sua vida? Eu não poderia deixar que isso acontecesse com você. Comprei o espelho.

Nélia, agora ficou mais que curiosa e perguntou para a amiga:

_Deixa-me ver se eu entendi. Você comprou o espelho, mas se o espelho for mágico, agora você está com poderes a mais. Estou me preocupando com essa história.

Lia a tranquilizou dizendo que ela não tinha vocação para ser má.

_Se o espelho for mágico, eu te darei um príncipe. Jamais te darei sete anões.

Nélia ficou atordoada com a conversa e disse:

_Príncipe! Por que é que eu gostaria que você me desse um príncipe?

Lia respondeu:

_Para te livrar dos sete anões.

Nélia perguntou quem seriam os sete anões:

_Qualquer um que ter ache elegante. A esse se somam mais seis e pronto, são sete. O feitiço estaria feito.

Nélia disse que na história infantil existe uma maçã envenenada.

Lia retrucou:

_Maçãs não faltam à mesa de pessoas elegantes como nós duas.

Nélia sentiu que a amiga tinha razão. Comia frutas todos os dias para manter a saúde e a elegância.

A tarde passou rapidamente e estava na hora de Nélia voltar para casa. Despediu-se de Lia dizendo:

_Amiga, seja príncipe, ou, seja anão, me avisa antes, que eu quero ter poder de opção.

Lia concordou com a amiga, mas a advertiu:

_Eu te conto tudo, mas preciso antes verificar se o espelho tem poderes para depois negociar com ele antes de te avisar. Peço que se cuide.

As duas se abraçaram como amigas íntimas que acabavam de se tornar.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ouvindo Alunos / Crônica de Supermercado

Ouvindo Alunos / Crônica de Supermercado

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Ah! Esse supermercado, que eu amo e que me deixa mais sábia a cada dia que passa.

Hoje foi o dia dos alunos, encontrei alunos que estão pensando nas férias do final do ano. Não teve brincadeira, nem nada. Eles contavam dos seus professores pelo nome e descreviam o comportamento de cada um deles.

Teve uma moça que contou a sua história. Disse ela que a colega que senta no meio da sala é a protegida da professora. Ela é disposta a questionar as situações e chamou a professora para comer um sanduíche na hora do recreio.

Conversou sobre temas variados até chegar à pergunta, que, para ela, deveria ser feita.

_Professora, com todo o respeito que a senhora merece da minha parte e, agradecendo a sua boa vontade em estar aqui, eu preciso fazer uma pergunta. Por que a senhora protege a Clarissa?

A professora disse que não se lembrava de proteger a Clarissa.

A moça descreveu todas as situações nas quais ela via a Clarissa recebendo mais atenção do que ela.

A professora, segundo a moça da fila, então respondeu:

_Eu não havia percebido que paparicava a Clarissa, mas agora percebo que você tem razão.

A moça, pensando ser esperta, então perguntou o motivo da paparicação.

A professora respondeu:

_Eu a paparico porque gosto dela, do jeito como ela apresenta os trabalhos e as pesquisas, merece ser paparicada.

O amigo, que estava ao lado dela, disse que com ele a situação era o avesso da dela.

_O meu professor implica comigo. Eu fui reprovado por dois anos consecutivos e ele se negava a dar uma explicação. No segundo ano descobri as respostas ideais sob o ponto de vista dele, que se aproveitou dos temas discursivos para criar as complicações nas respostas. Eu descobri, decorei e passei.

A amiga, que gostava mesmo de questionar os outros, perguntou:

_E hoje, como você se sente em relação a ele?

Agora era a vez desse seu amigo de fila responder.

._Hoje eu me sinto muito bem em relação a ele, pois cada vez que algum outro professor menciona a matéria, as respostas vêm automaticamente, as respostas estão prontas como se fossem tabuadas na ponta da língua. Eu encontro e converso amigavelmente com ele. Eu tenho outros professores e estou bem nos estudos.

A moça ainda não entendia como poderia haver fatos tão diferentes na mesma escola.

Ele pegou umas garrafas de refrigerantes para estudarem juntos logo após a saída das compras.

Hoje os jovens estavam para a intelectualidade. Bom saber.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

História de Circo

História de Circo

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A menina Ana tinha onze anos e gostava de se equilibrar. Andava por sobre linhas nas calçadas e nos lugares onde era permitido; valiam galhos de árvore e cabos de vassouras velhas para as suas brincadeiras.

A mãe ralhava e de nada adiantava. Os vizinhos e os parentes a avisavam que ela poderia se machucar, não tinha treino para o que fazia; era espontânea. Na escola a colocaram para os primórdios da ginástica olímpica, ela gostou, mas a diretoria da escola extinguiu as aulas de equilíbrio pela falta de professores especializados.

Um amigo dela viu as belas demonstrações de equilíbrio pela vizinhança. O nome dele era Setembrino, que contava quinze anos.

Passados alguns dias ele pediu à mãe dele que fizesse um bolo e convidasse Ana e a mãe para comerem o bolo junto com eles.

Elas foram.

Setembrino, na frente da mãe e da amiga da mãe abriu um baralho e pediu para que Ana escolhesse uma carta que ele adivinharia a carta.

Ana escolheu e ele adivinhou a carta.

Depois pediu para que a Ana escolhesse cinco cartas para que ele adivinhasse quais cartas eram aquelas.

Ana escolheu e ele adivinhou.

Pediu para se ausentar por alguns instantes e voltou com um chapéu e pediu para que a Ana olhasse o chapéu.

Ela olhou o chapéu com atenção e o devolveu a ele.

Ele mexeu dentro do chapéu e tirou lenços coloridos de seda.

Ana disse a ele:

_Você está de truques para comigo. O lenço estava nas mangas da sua camiseta.

Setembrino riu a valer e perguntou:

_Ana, quer um coelho?

Ana o olhava de um modo surpreso. O que estaria ele querendo dizer com “um coelho”.

Ante o olhar de espanto da Ana, ele tirou o coelho do chapéu.

A mãe da Ana o observava com curiosidade e a mãe de Setembrino ria-se, divertindo-se com a situação.

A mãe dele piscou para a mãe dela.

Setembrino continuava a fazer Ana surpresa com truques e mais truques.

A mãe da Ana cansou-se de ver a filha sendo feita de expectadora e perguntou onde Setembrino queria chegar.

_Onde eu quero chegar, prezada mãe de minha amiga? Eu quero que ela pare de fazer números de equilibrismo e seja minha parceira nos truques de mágico.

Agora a senhora mãe da Ana ficou pasma e sem saber o que dizer.

A mãe do Setembrino perdeu o riso contido e agora gargalhava como não se tinha visto até aquele dia.

Ele, todo altivo, explicou a situação para a mãe da Ana:

_Eu fiz uns trocados fazendo pequenos serviços para a vizinhança. Busquei criança na escola, alimentei cães e gatos enquanto os donos foram passear, assinei o recebimento da correspondência registrada para alguns mais e, enfim, comprei a minha maleta de mágico.

Diante da explicação, a mãe da Ana o parabenizou pelo esforço.

_Todos os truques são de mentira e ilusão. Penso que a Ana possa ser a minha parceira. Nenhuma moça com idade de dezoito anos deseja ser minha parceira. Elas dizem que sou criança.

A mãe da Ana disse que a filha era uma criança e não poderia ajudá-lo e disse a ele com carinho e respeito:

_Se você e a minha filha correrem o mundo como mágicos, eu e a sua mãe teremos que deixar tudo para trás para cuidarmos de vocês. Não é justo para conosco. Acho que você será um mágico solitário por enquanto.

Ele ainda argumentou que a Ana estaria mais segura fazendo mágicas do que brincando de equilibrista.

A mãe dela disse que a filha não mais brincaria de equilibrista e Ana concordou.

Nunca mais ninguém viu Ana se equilibrando. A maleta de mágico acabou guardada como recordação da infância de Setembrino.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Poema Erudito

Poema Erudito

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Não pode ser ar,

Depois que recita,

A cantarolar

A nota inaudita.

 

Parece chegar,

Igual à visita,

De poema a versar,

Suave à desdita.

 

Transforma-se em ar,

Audível à escrita

Da vida a ecoar,

E, aos sonhos, incita.

 

De volta ao lugar

O som que te habita,

De novo a tocar

A estrela infinita.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Novelo

Novelo

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São tantos gatos,

Que me acostumo;

São tantos fiapos,

Fiapos sem prumo.

 

Fiada de trapos,

Gatos eu arrumo;

Desembaraço-os,

Sigo o meu rumo.

 

Fios de embaraços,

Vejo e não assumo.

Cobram-se laços,

Lã que eu não durmo.

domingo, 6 de outubro de 2013

Refazer a Vida / Reflexão

Refazer a Vida

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Todos os seres humanos estão sujeitos a se verem sozinhos. Às vezes por perdas de familiares, às vezes por separações, às vezes por opção e, às vezes pela imposição das necessidades de sobrevivência.

|São momentos significativos e, é preciso coragem. Atalhos não faltam para se trilhar um círculo vicioso, deixando a condição de se estar só para depois. Pergunta-se: depois é quando?

Esse momento tem a sua magia, é o momento de se redescobrir em defeitos e em alegrias. Acredito que as pessoas devem se permitir refazer e perceber com quais amigos ela têm afinidades, quais são os tipos de lazer que a agradam, quais são os afazeres que a deixam mais aborrecida. Cabem à pessoa essas descobertas a respeito de si próprias e as tomadas de decisão consequentes.

Talvez, nem tudo o que for planejado dê certo e, certamente todos têm as seus desencantos; mesmo aqueles que não estão na condição de recomeçar a vida.

O que a pessoa não se deve permitir é continuar os problemas que, na verdade, são desnecessários ao recomeço, como relacionamentos desgastados com pessoas boas, mas de pensamento completamente diferente do seu. As afinidades são estímulos para qualquer começo. Os empresários não abrem sociedade com pessoas antagônicas ao seu modo de ser. Por que é que alguma pessoa deverá procurar a convivência com aqueles que têm objetivos diferentes na vida?

Penso que pronto e perfeito, é Deus e mais ninguém.

Também sou contra se refazer às pressas, a não ser em caso de necessidades urgentes, mas, normalmente, podem-se escolher as calçadas por onde se deseja caminhar. A afetividade é complicada e precisa do interessado em descomplicá-la. A pessoa pode se ajudar e precisa de força de vontade para recomeçar após perdas e fracassos emocionais.

Para recomeçar e se refazer é preciso maturidade e não se deixar conduzir pela primeira pessoa que aparece. Não que o outro não queira ajudar, mas ele também erra, também tem defeitos e qualidades. Nessas horas, vale o ditado: muito ajuda quem não atrapalha.

Embora haja discernimento do que se quer, é bom não se perder em obsoletismos tais como se incomodar muito com assuntos que não interessam ao momento. É preciso pensar naquilo que se quer e ir em frente com paciência e determinação.

Paciência, porque existe a demora em se refazer e é preciso se determinar em quais passos são os prioritários.

Depois, descansar ao lazer e, recomeçar.

Se o lazer for adequado ao jeito de pensar da pessoa, vem a preguiça de continuar o que se faz até terminar o que foi começado. É aí que entra a determinação. Sem determinação, a pessoa fica a precisar fazer algo mais e esse algo mais fará falta na sua vida.

Terminadas as etapas iniciais, a vida segue bem. Sozinho, mas com o conforto necessário para se prosseguir. Aos mais afoitos, digo que esse conforto vem de sentar-se na sua cadeira e sentir-se de bem consigo mesmo.

Agora, sim, o depois fica para depois, porque o importante foi feito.

sábado, 5 de outubro de 2013

Cuida-Te, que o Enem está Chegando / Crônica do Cotidiano.

Cuida-Te, que o Enem está Chegando / Crônica do Cotidiano.

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Duas adolescentes conversavam sobre as provas, pensando no Enem.

Conferiram as respostas do teste de literatura e os de matemáticas.

Uma delas disse que a prova difícil seria a de biologia.

A outra respondeu que provavelmente iriam perguntar sobre Che Guevara. Ele deveria ser tema para uma pergunta discursiva sobre biologia.

_Por quê?

_Estão chegando médicos cubanos ao país. Medicina e biologia tem tudo a ver.

A outra ficou preocupada e pediu à amiga que contasse sobre o Che, que depois ela pesquisaria na internet.

_Che foi um médico que não cobrava consultas. Atendia toda a população sem cobrar um centavo no país dele. Eu não sei se esses médicos que vêm ao Brasil cobrarão pelas consultas, mas nunca é demais se precaver.

A outra pediu para que ela contasse tudo sobre ele, pois talvez não tivesse tempo de realizar a pesquisa.

_Che foi um cara que praticava a medicina gratuitamente. Teve problemas quando resolveu ir para outros países e tratar as pessoas gratuitamente. Provavelmente, os médicos não gostaram da concorrência. Tenho quase certeza desse fato.

A outra perguntou:

_O que foi que aconteceu com ele?

A resposta foi essa:

_Foi assassinado na Bolívia e ninguém achou o criminoso até hoje.

A outra disse:

_Que horror! Um médico que não cobrava nada foi assassinado. Se por acaso eu decidir fazer o vestibular para o curso de medicina, saberei mais sobre biologia. E, se eu passar no vestibular, cobrarei as consultas de todos os meus pacientes. Não quero represálias.

A amiga a apoiou.

Saíram para fazer lanche noutra lanchonete. Iriam comer nada muito saudável. Ainda não tinham passado no curso de medicina e estavam a mais de oito horas de jejum para comer quantos sanduíches acompanhados de batatas fritas quisessem.

A história pertence aos jovens.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Dia Seguinte

Dia Seguinte

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Deixa o vento secar as roupas

De ontem, de hoje e, as que estão lavadas.

Abre a casa de meias e toucas,

Passa o dia em se fazer calçadas.

 

Passa o tempo e a rotina às poucas,

Ferro quente em toalhas dadas,

Limpas e úmidas. Guarda as roupas;

Passa agora a mover passadas;

 

Dias seguintes são meias e toucas,

Frio e calor ao suor e meadas,

Saído à chuva das vozes roucas;

Horas secas às mãos cansadas.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Filosofia para as Festas / Crônica de Supermercado

Filosofia para As Festas / Crônica de Supermercado

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Estava eu na fila do caixa para pagar os pães, muito mais preocupada com os comentários sobre alimentos saudáveis atrás da minha cesta com tipos variados de pães (eu exagerei nos pães), quando a risada foi geral.

O senhor que estava dez pessoas atrás de mim e estava conversando com um amigo que encontrou enquanto estava no fim da fila, se despediu do amigo desejando a ele Boas Festas e Feliz Ano Novo.

A senhora que estava próxima a ele perguntou se ele não estava adiantado para as festas de final de ano, estamos em outubro e faltam mais de dois meses para a data.

_Não estou adiantado, é a minha filosofia de vida. Se o sujeito for enfadonho, ao ouvir as felicitações, poupa-me de felicitá-lo enquanto eu aproveito a festa. Se for alguém que eu quero bem, mas não faz parte dos meus círculos pessoais, satisfaço a minha intenção de dizer o quanto ele ou ela são importantes para mim. Se acontecer alguma fatalidade e, que eu fique doente, não terei me esquecido de ninguém e todos lembrarão o quanto fui generoso, um Papai Noel de supermercado. Se eu estiver aborrecido ou zangado durante as festas, fico no meu canto e não incomodo ninguém, coisa que geralmente acontece no dia seguinte, quando vejo o que gastei no peru. Além do mais, faço um favor a todos os demais, lembrando que, se todos estiverem bem, eles terão festas pela frente. No mês que vem, compro os cartões e começo a enviar àqueles que não me esquecem, é uma obrigação social lembrando o quanto é bom ter sobrevivido mais um ano; é a boa vontade manuscrita Depois, acontece dezembro, onde as religiões lembram que o consumismo não leva ao crescimento individual, mas é a hora de comprar o saco para os presentes. Onde se viu não trocar presentes? Pelo menos de um amigo secreto eu participarei e receberei livros e CDs que não escutarei porque não são do meu estilo; eu gosto de esportes e uma camisa do time da Portuguesa de Desportos seria bem vinda (publicidade não paga). Depois existem aqueles presentes para trocar com aqueles dos quais não se esperam gentilezas, são os chocolates da reserva que nos salvam das situações delicadas causadas pelas visitas inesperadas.

Ele digeriu o peru inteiro e papou a fila.

A senhora que ensinava à filha como não comer errado entrou no caixa ao lado e eu pedi gentilmente à caixa para falarmos baixinho porque ela tinha me perturbado enquanto observava os meus pães. A moça, sempre gentil, sussurrou o preço dos pães como se estivéssemos sob a mira daquela esfomeada. Se ela não estivesse com fome, por que ficaria de olho na minha cesta de pães?

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Poema Iluminado

Soneto Iluminado

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A verdade casada com a humildade

Vem singela, donzela de castos sinos,

Acobreados, de pêndulos à saudade,

Sem pudor transformando-os sons desses signos

 

Pensamentos são abrigos dessa bondade

Que ressoam na cidade como desígnios,

Encontrados ilesos nessa igualdade

De destinos tangentes e retilíneos.

 

Quem escolhe, se perde nessa vontade,

Ao perfeito querer em sua amizade;

Imperfeitas são as coisas aos desatinos.

 

Que sejamos ao mundo todo benignos,

Na consciência de o ser como prioridade

Necessária da luz e da humanidade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Carta Literária / Mãe

Carta Literária

Mãe
Sei que você está bem, recebemos pelo correio um daqueles pedidos de doações, que provavelmente devolveríamos com a informação de que você não está mais aqui. Mas o envelope disse que era presente e, após fazermos uma pequena reunião na portaria, decidimos que receberíamos o presente e a próxima correspondência seria devolvida com a informação necessária. Presente não se recusa.
Agora, converso com você com aquela intimidade que mão e filha têm. Não, não se preocupe, eu me lembro dos ensinamentos do seu tio médico, aliás, que grandes ensinamentos ele nos deixou.
Sabe, a nossa experiência nos últimos anos de sua vida bem, que merecia uma espionagem americana. Talvez ajudássemos milhares de pessoas nesse planeta.
Todas as conclusões que chegamos à medida que as adversidades surgiram. Ainda ontem conversei sobre a massagem Xamã que teve um efeito surpreendente para você. Que ninguém nos leia, mas foi mais eficaz que a fisioterapia. Aquela nossa ideia de não permitirmos nenhuma cirurgia em consequência daquele dia em que você caiu, foi plena de êxito. Eu poderia afirmar que não se opera hematomas, a não ser em decorrência de intercorrências neurológicas visíveis ou sentidas como amortecimentos ou paralisias.
A clínica foi bem montada e deu um trabalhão para voltarmos a ser casa de novo. Tudo o que era seu foi gasto com você e, a cada compra de material hospitalar, ou, de alimentos, foi contabilizada com a nota fiscal colada em papel ofício e discriminada item a item. A contabilidade foi exata, como se fosse uma empresa médica.
Agora sabemos que as manchas da pele eram originárias do começo da insuficiência renal; era a acidez no sangue.
Desfeita a clínica e refeita a casa, sobram os inúmeros momentos de lucidez e consciência onde pudemos conversar sobre o que quisemos; esses sim, assuntos nossos.
Saiba que disse ainda ontem e, afirmo ainda que quero escrever sobre essa nossa vivência proporcionada pelo plano divino. Ainda não é possível, ainda penso em como escrever e deixar os leitores de bom astral.
Nós nunca gostamos de pessoas que sentem prazer na doença e esse é o cuidado que quero ter ao escrever sobre a nossa experiência. A alegria deve vir da saúde ou da recuperação da saúde. Nunca nos deu alegria saber do sofrimento alheio, por isso nós fomos felizes juntas, e mantivemos o amor conforme Deus havia preparado para nós.
Sinto saudades boas de você, na semana passada consegui rir ao lembrar-me da caixa de bombons que o pai te deu dizendo que te amava e te beijando os lábios. Foi a primeira vez que ele te beijou na minha frente. Tudo ficou corado, rosado de amor. Um momento lindo vindo das Lojas (:)). Essa é boa...
O sofrimento da saudade está dando lugar aos momentos bons, como naquele dia em que faltou luz, quando você e o pai cantaram Luar do Sertão num dueto afinado. Vocês cantavam bem mesmo!
Deus tem sido generoso em amor para comigo, amém.
Desejo felicidades para vocês, que provavelmente estão juntos, conforme você esperava que fosse.
Fiquem com Deus, que a casa já é casa e, se é casa, é graças a vocês.
Beijos, Yayá.