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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Diabo do Avatar de Paula Amélia

O Diabo do Avatar de Paula Amélia

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Paula Amélia criou um avatar para se distrair nas redes sociais sem ter que ficar de conversa fiada como os conhecidos, pois ela tinha atividades reais para serem feitas e a internet ocupa o tempo precioso necessário ao seu dia.

O diabo descobriu o avatar. Foi discreto e não entrou nas redes sociais.

Aconteceu que o penteado de Paula Amélia precisava de uns toques e ela foi se arrumar.

Quando chegou a sua casa, olhou-se no espelho e percebeu que o seu cabelo estava muito parecido com aquele que ela tinha feito para o seu avatar.

Continuou a sua rotina. Surgiu uma festa e ela foi se arrumar e ajeitar o penteado de novo.

Olhou-se no espelho, viu o cabelo à moda do avatar e decidiu-se por experimentar outro salão de cabeleireiras. Marcou a hora com antecedência e foi para o salão na hora certa.

A moça que a atendeu disse que não concordava com nenhum pedido da Paula Amélia, mas faria o seu gosto pelo pagamento do serviço.

_Pagamento do penteado? Mas o que importa para uma cabeleireira não é ver a cliente satisfeita?

Nesse momento, a moça disse quem era:

_Você pode não se lembrar de mim, mas nós conversamos antes. Eu sou a secretária do diabo. Quando a pessoa não o escuta, eu venho para trazer os conselhos dele.

Paula Amélia, ao saber que ela trazia os recados do diabo, mas não estragaria o seu penteado, ficou tranquila e dispôs-se a conversar com ela.

_ O que é que o diabo quer dessa vez?

A atendente não se fez de rogada e disse com o jeito de quem cumpre uma obrigação:

_O diabo não tinha dito para você arrumar o penteado?

Paula Amélia concordou e disse que ele tinha dito algo a respeito disso.

_E o que você fez? Você disse: Eu não estou nem aí para os seus conselhos. E o que aconteceu? Você está fora de moda, ou, melhor dizendo, você está atrasada mais de vinte anos com o seu penteado.

Paula Amélia a ouviu e desconsiderou, pois o diabo era inconveniente há mais de dois mil anos, esse era o jeito dele.

Para não desprezar quem a penteava, perguntou:

_Mas você está deixando tudo em ordem conforme o combinado. Então, por que essa preocupação?

_Porque você não liga para o que ele diz. Pior que isso, você criou um avatar para conversar com gente que não nos interessa, nem ao diabo e nem ao inferno.

Nesse momento Paula Amélia protestou:

_São pessoas com qualidades e defeitos como eu. Não vi ninguém tão sem qualidades que eu não possa conversar para me distrair.

A atendente disse que não era dessa maneira que o diabo pensava.

_O diabo quer você no inferno ao lado dele. Saiba que ele ficou contente quando você abandonou as sapatilhas coloridas e de pano. Hoje você está com um sapato bom.

Paula Amélia ficou indignada com o comentário:

_Pois diga ao diabo que eu estava num hospital e as sapatilhas eram confortáveis!

A atendente não se calou diante dessa afirmativa:

_Confortáveis?! E aquelas sapatilhas com caveirinhas e corações?

Paula Amélia pensou na maldade da atendente. Era essa maldade que a fazia ficar longe do diabo.

No entanto, respondeu:

_O diabo nada tem porque se incomodar com os meus calçados porque eu não ando pelos caminhos dele. E esse seu comportamento? Você está levando a vida muito a sério.

Paula Amélia percebeu que a secretária do diabo se contradisse, pois as sapatilhas com caveirinhas e corações não significavam a vida soturna que o diabo tanto desejava. O diabo não gostava dos traços de alegria colorindo qualquer tristeza. Pelo visto ela conhecia bem o capeta.

_Tristeza existe para ser superada. Tenho a minha vida pela frente. Paula Amélia disse com seriedade para impor respeito.

A atendente riu-se da tolice de Paula Amélia:

_E o diabo respeita alguém?

Para o diabo o que vale é o inferno, pensou e dessa vez Paula Amélia calou-se.

A secretária dele continuou:

_Você não ganha nada em resistir ao diabo. Não ganha luxo, não ganha requinte, não ganha passeios interessantes, e, enfim, não ganha nada que valha a pena.

Paula Amélia também conhecia esse raciocínio diabólico. Não respondeu, pois sabia que ela, a atendente, não iria entender.

O penteado ficou pronto e a atendente deu à Paula Amélia três endereços para quando ela quisesse se encontrar com o diabo.

Paula Amélia leu os endereços e os jogou fora. No entanto, sabia que ele não desistiria.

Quem impede que o mal venha e cause sofrimento é Paula Amélia, não o diabo.

E toda a dedicação é pouca quando se conversa com a secretária do diabo.

Um comentário:

Célia disse...

Realmente, Yayá... nos fazemos nosso céu ou nosso inferno, com direito a diabo e tudo, como e quando quisermos... Creio.
Bj. Célia.