Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Para Pensar / Filosofando

Para pensar

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Discordar do filósofo compete a quem o lê e segue princípios e normas diversas do pensamento cujo tema é objeto da discussão.

Certamente, em todo e qualquer estudo encontramos pontos de convergência e pontos de divergência com o ponto de vista de quem o estuda.

Claro fica que, ao se discordar completamente de um filósofo, provavelmente indica que se é adepto de outro, porque existem filósofos antagônicos, que, ao discutir a filosofia de vida, seguem-na de maneira tão divergente que a resposta possível é apoiar ou renegar as ideias de um em favor de outro.

Interessante é, porém, observar os recursos de linguagem usados como se algum escritor pudesse escolher o seu opositor de ideias. Assim, a oposição nominada e escrita em um determinado pensamento filosófico, é analisada de forma mais abrangente do que apenas a escrita formal do mesmo com seus pensamentos e as suas críticas direcionadas a este ou aquele outro estudioso sobre o tema que discorre o seu discurso.

Penso que para se ler um pensador à nossa livre escolha, porque a filosofia acredita na liberdade de expressão e toda a responsabilidade vinda dessa escolha. São necessários critérios universais a leitura atenta do pensador.

O primeiro critério é situar o autor dentro da sua época, no seu contexto histórico e no seu contexto socioeconômico, sem menosprezar as condições naturais do próprio pensador.

O segundo critério é consequente do primeiro e, se trata de se conhecer os pensadores antecedentes, ou seja, por quais meios ele chegou a filosofar para depois se reconhecer os seus contemporâneos que são aqueles pensadores com os quais o filósofo conviveu, era amigo ou rival.

O terceiro é verificar se não houve a escolha proposital do filósofo em determinar o pensador ao qual se punha. A escolha do debatedor determina um diálogo estudado, enquanto que o pensamento se opõe às ideias, nunca às pessoas. Através das ideias escritas pode-se determinar a real oposição a que se refere o texto.

O quarto e necessário critério ao se ler um filósofo, é determinar sobre a possível intenção ao escrever aquele texto com aqueles pensamentos; para tanto o conhecimento da sua biografia é um instrumento de grande utilidade. Por que ele usou esta ou aquela frase, quando poderia se expressar de maneira diferente para manifestar o mesmo pensamento. Essa é a análise da pessoa do filósofo enquanto ser humano.

Penso que é essa a disposição correta ao se ler filosofia como leitor, quando não se tem uma necessidade científica de discutir algum aspecto da sua obra ou comparar o pensamento entre dois pensadores.

Boa leitura a todos!

quinta-feira, 30 de maio de 2013

À Procura de Edson Prado…

À Procura de Edson Prado

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Edson Prado passou por uma situação no mínimo curiosa.

Estava ele em busca da matéria, quando soube que o motorista do Jornal do Blog estava noutra atividade onde a proprietária do blog foi buscar pães no supermercado para se encontrar com a crônica.

O repórter não teria tempo para tomar ônibus e, se quisesse a matéria publicada no dia, teria que pegar um táxi para se dirigir ao local da matéria.

Entrou no automóvel e ficou surpreso com o reconhecimento da sua pessoa pelo motorista.

_Sei que o senhor faz matérias para o blog, leio as suas matérias. O senhor é claro e objetivo.

Ele ficou contente.

_A minha vida dá matéria para o senhor. Por que o senhor não me entrevista?

Edson cortês pediu a ele que expusesse o motivo da matéria como se fosse à sinopse, ou o resumo, de um filme.

O motorista, com toda a firmeza educada possível, disse:

_A tarifa está defasada. Eu e os meus colegas estamos trabalhando por amor à profissão.

Iria contar dos seus gastos mensais, mas Edson o interrompeu:

_Eu compreendo que os gastos de manutenção mensais sejam elevados.

Ele mudou de argumento:

_O senhor observe a tarifa do ônibus e a compare com a tarifa do táxi. Nos últimos cinco anos, quantas vezes a passagem do transporte coletivo subiu? Agora o senhor verifique quantas vezes a tarifa do táxi subiu. O senhor não precisa conferir, eu lhe digo: nenhuma.

Edson pediu para que ele concluísse o seu raciocínio.

_Dependendo do número de passageiros a tomarem os assentos, pegar táxi custa mais barato do que tomar ônibus. A bandeirada terá que subir, é questão de tempo.

Edson explicou que para ele seria difícil fazer uma matéria pró aumento de gastos por parte da população, embora fosse de argumento consistente.

_Eu escrevo para o blog de vez em quando. As matérias do blog são culturais. A política e a economia ficam para os blogs articulados. Eu sinto muito, mas o senhor pode e deve procurar outros meios de comunicação para dizer do trabalho diuturno de um carro de praça, dos problemas enfrentados pelos taxistas. A partir daí, quem sabe, a tarifa pode ter aumento. O senhor sabe que o aumento da tarifa pode diminuir o número das corridas e essa é a questão principal ao se cogitar todo aumento de custos.

O motorista entendeu as dificuldades do Edson e o repórter agradeceu a confiança depositada nele.

_Pelo menos desabafei. Eu precisava dividir com alguém a minha vida. Os passageiros entram no táxi e, muitas vezes dividem conosco os seus problemas. Hoje foi ao contrário. A sua companhia me fez bem, senhor Edson.

Edson desejou uma boa renda naquele dia. O motorista desejou que Edson fizesse boa matéria para o blog.

ATENÇÃO: O BLOG NÃO SE RESPONSABILIZA PELOS TEXTOS DO PERSONAGEM EDSON PRADO.

_Que canetada que eu levei do blog...

PS. A BLOGUEIRA VOLTA APÓS A REUNIÃO COM O REPÓRTER EDSON PRADO

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Amora

Amora

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Lembre-se de você, como era.

Mude o seu pensamento ao agora,

Conte à flor pelo o quê se esmera,

Sinta todos os sóis, embora,

Saiba dessa estação a quimera

Úmida desses dias lá fora.

 

Nesse doce sabor de pera,

Louva-se do cismar de outrora,

Toda a terna esperança, e gera,

Desse tempo longínquo, a flora,

Rubra, que ao seu brotar, cerca e hera,

Seguem por outro caminho à escora.

 

Surja de você a nova esfera,

Paz assim desejada, de hora,

Feita ao tempo relógio, a espera,

Da sela no cavalo à corda.

Seja esse cavalgar nova era

Livre para colher amora.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Perfeição

Perfeição

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Tem gente que sonha Moscou,

Tem gente que acorda Rock’n Roll,

Tem gente que vive à oração

E aprende a divina canção.

 

E tanto fará esse quem sou,

Quando o que se fez, se louvou.

Por quê? Do conjunto a razão

Transborda e vem junta à emoção.

 

Razão da emoção que somou

Aquilo que o peito calou;

Vetor ao vetor da função

Perfeita na paz da criação.

domingo, 26 de maio de 2013

Dez

Dez

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Três vezes não é coincidência,

Creia nisso e pense outra vez,

Negue a sua incompetência,

Conte a história a esse freguês.

 

Três vezes... Nessa insistência

Algo quer dizer se crês,

Sorte não há na imprudência;

Haja fé naquilo que vês.

 

Ouça, veja e tome ciência,

Uma, duas, conte três;

Nessa conta de paciência

Fique calmo e conte o endez.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Comédia de Erros

Comédia de Erros

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Joaquim foi com Manoel à casa de Maria. Joaquim foi à casa de Maria porque pensou que ela fosse doidivana.

Manoel conhecia Maria e sabia dos seus hábitos e costumes. Permitiu que Joaquim fosse à casa de Maria para verificar a veracidade dos comentários e tirar as suas próprias conclusões.

Manoel daria carona para Maria até o armazém.

Joaquim aceitou o convite de Manoel porque queria convencê-lo das extravagâncias de Maria. Para tanto, utilizou um estratagema:

_Amigo Manoel, vamos pegá-la antes que o armazém abra as portas.

Manoel concordou e às sete e trinta da manhã se dirigiram até a casa dela. Bateram na porta e a Maria, ansiosa que estava para ir ao armazém de automóvel, estava pronta para sair desde às sete da manhã..

Joaquim vira-se para Manoel e diz:

_Como foi que perdemos de vê-la de camisola e penhoar?

Manoel pediu que Joaquim se calasse. Era falta de respeito para com a amiga Maria.

Joaquim não se deu por enganado e pediu um copo com água para Maria. Disse que se esquecera de tomar água ao acordar.

Maria convida Manoel e Joaquim para irem até a cozinha, era cedo ainda para ir ao armazém. Na cozinha ela serve o copo de água para Joaquim.

Este se vira para Manoel e diz:

_Manoel, você se lembra da criação de porcos do José?

O amigo, entendendo a indireta disse que se lembrava.

_Ele faliu. Não existem mais porcos de criação na fazenda dele.

Maria observou a cozinha limpa e arrumada. Desconfiada, passou a ouvir com cuidados a conversa deles.

Estava na hora de saírem e entraram no automóvel.

Joaquim fala de um partido político para Maria e aguardou o seu comentário.

Maria, entendendo a indireta, disse que não gostava do tal partido.

Joaquim exclamou para Manoel:

_Agora estou órfão. Todas as minhas referências se foram.

Manoel ria até não poder mais. Continuou a conversa sem ser claro e piscando ao amigo:

_Amigo Joaquim, Em que oficina mecânica você conserta o seu veículo?

Joaquim respondeu que era na oficina do Agostinho e do Agnaldo. Elogiando os mecânicos, Joaquim contava quem eles eram para Maria, sem o saber que fazia.

Chegaram ao armazém e Manoel ofereceu-se para levá-la para casa.

Maria, que depois da carona, sabia mais do que gostaria, pois nem sempre se deseja saber o que os conhecidos pensam e ainda mais que foi sobre ela própria, agradeceu a gentileza e disse que numa próxima oportunidade, aceitaria o convite. Agradecia mais que a carona, agradecia a confiança que Manoel tinha nela.

O automóvel partiu com Joaquim decepcionado. Ela não era quem ele pensava que fosse.

Manoel, feliz, porque Maria era do jeito que ele conhecia.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Saída Quente / Crônica de Supermercado

Saída Quente / Crônica de Supermercado

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Hoje fui ao supermercado torcendo para encontrar-me com a crônica. Quero escrever textos longos e a crônica me ajuda nesse contato virtual agradável.

Entrei e fui direto pegar os pães. Fila pequena, nada de novo além do frio que chega e as ofertas do dia.

Fui para a fila do caixa. Alguém dizia algo interessante. Comentava sobre a exposição dos quadros com um toque de cinismo, dizendo que com dois ou três toques de pincel, faria com que o quadro que não a agradava se transformasse numa obra de arte.

Gostei do assunto porque também fui à exposição e o quadro em questão magoava a arte demonstrando a falta de conhecimento do artista. O quadro precisa de retoques, ou, a meu ver, uma demão de tinta branca apagando o detalhe que o estraga. Ao invés do tom de crítica, que poderia se revelar, evidenciava a falta de gosto na paleta de cores. Não adiantaria descrever o quadro porque quem o observou não o disse ao artista e seria uma indelicadeza dizer algo sob o meu ponto de vista (daquilo que não conheço o suficiente não o digo) e, sendo assim, o critério de valor à obra é indevido.

O papo da fila estava bom para os arteiros de plantão. A fila seguiu em direção ao caixa e o tempo passou depressa.

Quase antes da senhora, que estava alguns fregueses à minha frente, ser chamada pelo painel para se dirigir ao caixa, ela vira-se para o marido e diz:

_Amor, você desligou a panela de pressão? Eu estava cozinhando pinhões quando fui me arrumar para sair.

O marido disse que não porque ele pensou que ela tivesse desligado.

Houve um entreolhar acusativo entre ambos.

Fila é bom porque todos participam da conversa e o que estava logo atrás dela e do respectivo cônjuge, tranquilizou-os:

_Não se preocupem, pois se a panela queimou, um vizinho sentiu o cheiro e chamou os bombeiros. Eles arrombaram a porta do seu apartamento e desligaram o fogão. Vocês terão talvez, que pagar para a companhia de gás, para religá-lo para vocês. Preparem-se para chamar alguém para arrumar a porta e pagar a diária de um hotel na noite de hoje. Não é bom dormir com o apartamento aberto nos dias de hoje.

O casal parou de se acusar compressa de passar as suas compras no caixa. Ficaram pálidos e pareciam tremer. Ela mais que ele. Pagaram a conta e foram embora, apressados.

Agora, cá entre nós, e agora o tom é de recomendação:

_Todos sabem que não se deixa as panelas no fogo para sair. Todos sabem que é obrigação de quem cozinha ficar na cozinha até que o alimento esteja pronto. Cozinhar não permite que você faça outra atividade em conjunto. Para os momentos de espera de cocção dos alimentos liga-se o rádio. Televisão na cozinha pode ser motivo de sal a mais e açúcar de menos, pelo menos eu penso assim.

Esses fatos preocupam porque podem acontecer em qualquer lugar e com qualquer um que acha que sairá tão rápido que o bife esperará por ela na frigideira.

Até agora estou torcendo para que não tenha acontecido nada de ruim com a panela de pressão deles.

Quanto ao quadro, lerei sobre o assunto para aprender o que eu não sei.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Guarda-Chuva

O Guarda-Chuva
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Maria e Ana eram irmãs. A mais velha era Maria, tinha seis anos de idade, e a mais nova era Ana, que contava os seus quatro anos de idade nos dedos.
Perto da casa onde moravam havia a loja de brinquedos, onde estavam as mais lindas bonecas, as douradas caixinhas de música e todas as miniaturas desejadas pelas meninas tais como carrinhos de bebês, conjunto de xícaras para brincar de casinha, um sonho para as garotas.
As irmãs gostavam de ir à loja não apenas com o intuito de comprar, mas para verem a disposição dos brinquedos na loja e escolherem as suas preferidas para quando chegasse à época de ganharem os seus presentes.
Antes de entardecer, porém, a mãe delas, Penélope, as levava para casa e fechava as portas e as janelas antes de preparar a janta das meninas.
Certo dia, estando a avó das meninas e mãe de Penélope enferma elas ficaram na casa da avó até às cinco horas da tarde. Embora se sentindo triste, Penélope levou as meninas à loja de brinquedos para distraí-las enquanto dispersava a melancolia.
A dona da loja as recebeu com carinho e atenção. Da mesma maneira não deixou que Penélope saísse da loja enquanto não estivesse melhor de ânimo, deixando a tristeza para o destino do entendimento que todo o ser humano possui.
À despedida, Maria e Ana não entenderam a oferta do guarda-chuva por empréstimo oferecido à sua mãe por parte da dona da loja. Não chovia e não havia nuvens no céu.
Penélope disse que a casa era próxima e que iriam apressar o passo, e que antes do anoitecer estariam em casa e em segurança.
A dona da loja pediu a elas que tomassem cuidados porque estava na hora deles acordarem e, olhando para cima, observou:
_Olhe ali, próximo ao telhado! Um deles já apareceu.
A mãe das meninas viu o morcego e às pressas disse que depois terminariam a conversa.
_Deem-me as mãos a acompanhem os meus passos.
O guincho do animal foi horrível e ele sobrevoou sobre as suas cabeças.
Maria e Ana até aquele dia não tinham visto o rato voador. Gritaram.
Penélope pegou Ana nos braços enquanto a Maria corria ao lado dela nessa quadra que pareceu medir um quilômetro.
Abriu a porta da casa, colocou as meninas na despensa, que era fechada por uma cortina. Pediu às meninas que não abrissem a cortina antes dela fechar a casa e verificar se nenhum dos morcegos adentrara a casa.
As meninas ouviram o barulho da vassoura varrendo o forro de madeira e chamavam o tempo todo pela mãe, quando esta deu permissão para as meninas saírem do lugar.
_Um deles entrou, mas o empurrei para fora com a vassoura. Foi a sorte o dono de o armazém ter me convencido a comprar esta vassoura de teto.
Penélope, no entanto, estava com os olhos fixos na pequena janela da porta. Esperava o marido chegar.
Naquela noite ele se atrasou. Quando chegou, porém, ela abriu a porta e o abraçou aflita.
_Que bom que você chegou! Os morcegos apareceram de novo.
Ele a tranquilizou e explicou que pela presença deles por todo o bairro ele não saía de casa sem o guarda-chuva. Quando algum deles o tentava atacar, ele se defendia com ele. Disse que as luzes da cidade deixavam os morcegos confusos e o ajudavam a afastá-los.
Esta preocupação com ele fez com que ele se lembrasse de perguntar sobre a mãe dela que estava adoentada e a mulher respondeu que a doença era ruim e que progredia, apesar do tratamento.
Se Maria e Ana estavam assustadas, arregalaram os olhos com a notícia sobre a avó.
Penélope explicou rapidamente algum fato sobre a doença da avó, quando Maria mudou de assunto e, aliviou a conversa.
_Morcegos são bichos maus?
Antes de responder à Maria, o marido diz à Penélope:
_Soube que eles estão atacando cachorros e gatos que dormem fora de casa à noite. Os moradores do bairro estão com medo e vacinando os seus animais, mas o biólogo que veio fazer a pesquisa pediu para que esperássemos pelos resultados dos testes para sabermos se esses morcegos são frutívoros ou não. Agora, se alguns animais foram atacados, parece óbvio que os bichos são perigosos e que ele tenta evitar o pânico entre os moradores.
Maria repetiu a pergunta e a mãe abraçou a ela e à Ana colocando-as no sofá junto a si.
O pai, em frente a elas, respondeu com muita atenção ao que a menina perguntava:
_Bichos não são bons e nem maus. Eles não possuem o discernimento necessário para essa qualificação de raciocínio. Bichos são inofensivos ou perigosos, e é a natureza deles que determina a necessidade de cuidados para se lidar com eles. Esses, dos quais vocês fugiram, são perigosos, se alimentam de sangue e transmitem doenças.
Maria entendeu a resposta, mas entendeu do jeito que criança entende. Assim, perguntou:
_Papai, vovó está doente e os morcegos ainda querem o sangue dela?
Penélope interveio na conversa e lembrou ao marido da idade da Maria.
Ana ficou curiosa e disse:
_Papai: conte, conte e conte porque eu quero saber.
Antes de continuar a conversa, o pai puxou a cadeira e sentou-se defronte a elas, para dialogar.
_Os morcegos, quando aparecem, são seres para se temer. O que eu quero que vocês guardem com vocês deste susto é a lembrança de que existem momentos nos quais nos encontramos fragilizados por algum motivo. São momentos comuns a todas as pessoas, e no nosso caso, todos os moradores estão com medo desses bichos. Nesses momentos é que surgem aqueles que tentam se aproveitar da situação e, se puderem, conduzem o nosso raciocínio para a conclusão errada, aumentando os perigos diante das circunstâncias. São humanos que agem como se morcegos fossem. Cito o biólogo que veio aqui e pediu para não temermos os morcegos antes da verificação. O resultado desse comportamento, se seguido à risca, pode ser danoso a toda população do bairro. Nesses momentos, precisamos dos nossos guarda-chuvas abertos, temos que nos proteger e evitar o contato com os morcegos; a sobrevivência nos obriga a esse comportamento. Não os atacamos, mas nos defendemos desses monstrinhos.
Maria prestou atenção àquilo que o pai dizia, mas observou que sendo menina, queria uma sombrinha e não um guarda-chuva.
O pai das meninas concordou e disse à Penélope para providenciar uma sombrinha para Maria. A mãe disse que estava na hora de todos irem se deitar para dormir.
Com o episódio resolvido e a proteção providenciada, passa-se algum tempo em paz.
Não tardou muito tempo e a mãe de Penélope teve seu estado de saúde agravado e foi levada ao hospital. Naquele dia o marido não foi trabalhar, iria com a mulher ao hospital enquanto a dona da loja de brinquedos, que anteriormente se oferecera para tomar conta das meninas em caso de necessidade, foi buscá-las para que ficassem com ela na loja.
Aquela tarde das meninas foi feita de brinquedos. Ana escolheu a boneca que estava na prateleira para brincar, enquanto Maria quis o carrinho de bonecas com uma boneca dentro dele. A dona da loja serviu-lhes lanche com bolo e leite.
Às cinco horas da tarde em ponto, o pai das meninas foi buscá-las. Agradeceu a atenção da dona da loja dedicada não somente para as meninas, mas para a família. Penélope havia ido para casa antes, havia perdido a sua mãe; ela precisava do seu espaço de tempo para desabafar. Agradeceu em especial por não ter tido que levar as meninas ao hospital:
_Não se leva crianças ao hospital para as horas das despedidas.
Naquela noite o pai das meninas ficou com elas até que elas fossem dormir, afinal, o guarda-chuva deveria ser aberto em dias de chuva também. Contou que a mãe delas estava triste porque a vovó tinha morrido. A chuva caiu durante a noite inteira. O sol voltaria a brilhar, mas noutro dia qualquer.
Deixaram a chuva vir e passar, sabedores que, no dia seguinte, ao entardecer, teriam que se cuidar com os morcegos.
Na semana seguinte, porém, os moradores se reuniram e chamaram o biólogo de novo. Os testes feitos demonstravam que não eram os morcegos frutívoros e que seria necessário o controle da população dos morcegos na região e que demoraria algum tempo até que o problema fosse solucionado.
Demoraram dois meses até que a população sentisse que diminuía a quantidade e o ataque dos bichos. Ainda assim se cuidavam.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Luz

Luz
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Chegou das sombras e se transformou
Na luz que rege esse desconhecido
E frágil mundo, ao verbo que se entoou,
Na forma clara de todo o sentido.

Entende o Lácio da paz que o formou,
E muda o rumo ao vento pressentido,
Seguindo aos versos, o que o acalentou;
Deixando à margem o que é inconcebido.

Ao ser de amor, se deu e se transformou,
De névoa densa em desenho contido,
Entorno vivo do sol que anunciou.

Palavra viva foi o que a sussurrou
Ao sóbrio nexo de olhar comovido.
E, o grão na terra, nessa névoa, vingou.

domingo, 19 de maio de 2013

Vintage / Crônica do Cotidiano

Vintage / Crônica do Cotidiano

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Dessa história eu não participei, mas foi divertida. Mas para rir, é preciso que se tenha ouvido falar em LP de vinil.

Estão à venda novos aparelhos de som com toca-discos de agulhas para vinil.

O senhor de meia-idade se apaixonou pelo design de madeira, o toca-discos, a entrada para USB (computador), todos os recursos novos nesse aparelho que toca vinil.

Chamou o vendedor e perguntou se na loja havia discos de vinil para se testar o som da engenhoca. O vendedor trouxe o bolachão (apelido do LP) e o estava colocando no aparelho toca-discos, quando o homem disse:

_Não coloque o dedão em cima das faixas. Estraga o vinil.

O vendedor, jovem, olhou para ele como se ele fosse um extraterrestre.

O senhor então disse:

_LP's são manuseados pelas abas laterais com todo o cuidado para não entortarem, são sensíveis às ondulações causadas pelo manuseio incorreto.

O vendedor aprendeu a manusear o disco de vinil, mas ficou com medo de danificar o aparelho toca-discos (vitrola de antigamente) e, diante da observação anterior, perguntou ao cidadão:

_O senhor pode me dizer em qual marcha eu coloco antes de ligar a agulha?

Nesse caso, o homem ficou em dúvida:

_Marcha? Onde estão as marchas no aparelho? Seria possível que os fabricantes tivessem modificado a maneira para se ouvir discos como antigamente?

O vendedor apontou-as prontamente:

_As marchas estão aqui senhor: temos três marchas, a primeira é a 33, a segunda é a 45 e a terceira é a 78. Eu não sei como acelerar ou frear.

O homem começou a rir. O vendedor ficou sem graça.

O homem vendo o jeito do moço, explicou:

_Não são marchas, são velocidades. Elas servem para tocar o disco na rotação certa. Existem discos em 78 rotações por minuto, outros em 45 rotações por minuto e os mais novos (aqueles que têm por volta de quarenta e cinco anos de existência) rodam em 33 rotações por minuto. Os discos foram gravados nessas rotações. Não se acelera e nem se freia.

O moço, muito nervoso, talvez até com medo de levar bronca do gerente, disse, com pressa:

_Senhor, quando eu nasci existiam apenas CDs. Depois veio o MP3. Eu estou numa situação constrangedora, porque ninguém me explicou do que se trata esse tal de toca-discos e os fabricantes não fizeram exposição do produto. Colocaram à venda essa engenhoca e querem que a gente se vire para vender.

O homem disse que não tinha importância, que estava matando as saudades e vendo se o aparelho cabia no bolso, enfim, se ele podia comprá-lo sem comprometer o orçamento familiar.

Despediram-se agradecendo um ao outro.

O vendedor sentindo-se incompetente. O comprador sentindo-se um saudosista em busca do passado, uma peça de museu. O primeiro não era tão jovem e o segundo nem era tão antigo assim; ele não tinha disco de 78 rotações, nem de 45 rotações; no tempo dele os discos eram de 33 rotações.

Em volta deles, vibrava o sorriso compreensivo dos passantes. Alguns aprendendo a lidar com o aparelho de som, outros admirando a novidade.

sábado, 18 de maio de 2013

Pensando Música à Lápis

Compartilhando o Lápis

Lápis foi um compositor paranaense, de nome Palmiro Rodrigues Ferreira, que tinha o apelido de Lápis. Nascido em 1.942 e falecido em 1.978.

Por ser final de semana, um som leve fica bem, e , embora todos aqui na cidade o conheçam e o homenageiem, é bom lembrar o que foi sucesso. Compartilhar um cantor de Curitiba, é bairrista? Ah! Nem tanto.

Nesse vídeo, as imagens são do compositor em família.

Desejo a todos um excelente final de semana.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Saracoteando

Saracoteando

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Maria Noêmia comprava roupas na loja da amiga. Conversava com a amiga, quando o telefone tocou e ela pediu para se ausentar por um breve momento. Enquanto a outra se resolvia ao telefone, ficaram ela e a empregada da loja, chamada Judite, vendo os produtos e os preços.

A empregada estava muito gentil. Disse que a amizade dela com a dona da loja era para se admirar, o respeito de uma para com a outra e que a sinceridade e a afeição entre elas eram raras de se ver hoje em dia. Chegava a se emocionar ao falar.

Maria Noêmia ficou agradecida pela gentileza e a boa vontade da moça. Quando percebeu o sorriso meigo no rosto de Noêmia, a empregada perguntou como quem quer saber:

_E aquele seu namorado, a senhora nunca mais soube nada?

Noêmia percebeu o motivo da boa atenção e respondeu:

_Qual deles?

Judite não perdeu a pose ao responder que era aquele do qual todo o povo falava.

Noêmia insistiu em saber qual deles e disse que o povo gostava de falar demais.

_A senhora não se faça de mal entendida porque eu sei que a senhora é letrada. Posso ser sua amiga para continuarmos essa conversa?

Maria Noêmia concordou e disse que poderiam ser amigas.

_Usando da sinceridade, que eu observo entre a senhora e a minha patroa, vou falar. Eu trabalho há oito anos aqui e a loja fica próxima à sua casa. Todos os sábados, quando saio daqui,eu vejo a senhora saindo à tarde para comprar pastel. O dono da pastelaria é casado, homem de bem que não namora ninguém além da mulher dele. Concluo que a senhora está sozinha.

_Sim, Judite. E daí?

Judite continuou a prosa:

_Como assim, e daí? Eu agora sou sua amiga. Tanto sou que não falo o nome do dito cujo para que as paredes não nos ouçam. Mas eu posso descobrir onde ele foi, de que jeito, como ele está ou onde esteve. O meu presente para a senhora, em consideração a essa amizade nova, pode ser este. Gratuitamente. Eu pago as passagem do meu bolso, pego os meus dias de folga, pergunto às minhas amigas. Faço isso pela senhora.

Noêmia agradeceu à moça e disse que tinha o telefone dele e se quisesse contatava com ele.

Judite foi sensata:

_O telefone que a senhora tem é do tempo em que a senhora saía com ele. Se ele mudou o número, a senhora não conseguirá falar com ele.

Noêmia disse que agradecia toda a consideração, mas que queria ficar por conta e risco próprios. Além disso, ela não mudara o número do seu telefone. Se ele quisesse, ligaria.

Judite pensou e respondeu que assim ela não descobriria nada e acabaria por mudar do pastel para o pão de queijo.

Noêmia disse que o assunto estava encerrado. O pão de queijo, de vez em quando, não fazia mal a ninguém. Essa sugestão ela acataria.

Nesse ínterim, a dona da loja voltou, Noêmia comprou uma camiseta de malha de algodão e foi-se embora. A orelha coçava, parecia que pernilongos, formigas, pulgas haviam se instalado atrás da orelha. Mais do que nunca ela precisava saracotear. Ela tinha convicção de que a Judite queria mais do que disse, mas não iria farejar ninguém através da moça.

Saracotear era melhor do que se coçar. Saiu para se divertir saracoteando... E se divertiu.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Rock’n Roll

Rock’n Roll

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Quem não se entona toca o Dobrado,

Ao se deixar do que se gostou;

Nesse fingir estar separado,

Nesse dizer que nunca se amou.

 

Para se ouvir ao metro quadrado

Sobre o tapete e, se não encadeou,

Sente o atonal reverberado.

Troca os dedais e muda de Soul.

 

Som com metrônomo desligado

Nesse improviso do que se cifrou;

Duas oitavas nesse contado,

Vê que o que foi não é mais, atrasou.

 

Resta esse samba Desafinado,

Volta a essa pauta de onde parou,

Passa e repassa, disciplinado;

Vence o cansaço e se faz Rock’n Roll.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Aquela Cruz Não Era a Minha / Crônica de Supermercado

Aquela Cruz Não Era a Minha / Crônica de Supermercado

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Ainda ganho um prêmio por ficar calada na hora certa. A fila é o meu filão de textos.

Hoje, a conversa das senhoras me angustiou. Quando tocaram no nome da pessoa, lembrei-me de mim.

Conhecia a pessoa de quem falavam, angustiadas, tensas. Tanto quanto talvez eu estivesse, não fosse o acaso da sorte.

Lembro que alguém chamou a minha mãe e a aconselhou a me tirar dessa companhia. Ela conversou com o meu pai e ele concordou. Não houve discordância quando ambos me disseram:

_Filha, essa pessoa não é boa companhia.

Por incrível que pareça, eu obedeci sem perguntar muito o motivo pelo qual a pessoa em questão não era boa companhia. Nunca mais se falou no assunto e nem na pessoa.

Hoje, quando vi as senhoras conversando, quando diziam que toda a vida delas havia se modificado a partir daquela pessoa, fiquei como que estarrecida. Quase orei:

_Obrigado Senhor pela unanimidade familiar sem questionamentos da minha parte.

Elas, conversando entre si diziam que a brincadeira dele era transformar os amigos em pessoas sempre à espera de uma traição. Estavam tão tensas que uma pegou o pacote de pães da outra para verificar se os pães eram semelhantes.

Observando-as, pensei que os pães eram pagos por quilo, na verdade tanto fazia o tamanho dos pães; elas pagavam o mesmo preço.

Elas perguntaram para a balconista se, por acaso, poderiam trocar entre elas os pães de tamanho diferentes. Trocariam os pães e pagariam o preço etiquetado no pacote.

A balconista ficou atônita com a pergunta e atendeu o próximo cliente.

Vestiam-se iguais, com o corte de cabelos semelhante uma da outra. Pareciam robotizadas, ou, automatizadas.

A primeira contava a sua história de como começou o relacionamento de amizade.

Pensei que comigo nem chegara a começar.

A segunda contava sobre como se sentia hoje.

Pensei comigo sobre todas as diferenças entre nós.

Foi uma coincidência, nada mais que isso, o que me tirou esse desprazer de gente do meu lado. A minha mãe, contou por contar dessa nova amizade à sua conhecida. Nem amigas eram e ela contou. Nem amigas eram e a outra a aconselhou. Para desencargo de consciência, todos acataram o conselho. Para que se expor ao perigo de um relacionamento com alguém que tem fama de inteligente, quando essa inteligência é voltada aos interesses pessoais de quem a ensina?

Observei-as dos pés à cabeça e, depois, me observei.

Concluí que essa não era a minha cruz. A cada palavra eu me arrepiava ao saber do que tinha me livrado.

Existem situações em que o destino se encarrega de nos proteger. Pareceu-me hoje que o destino quis conversar comigo, até mesmo me chamar de tola e aderindo ao palavreado popular “burra”.

Está bem. Posso ser “burra”, mas a angústia que eu senti durante a conversa delas e o consequente desaparecimento dessa angústia assim que elas se foram, deixou o meu dia leve.

São conversas que o supermercado conta e o destino se encarrega de narrar.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Cirandeira

Cirandeira

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A moça diz ao padeiro

Que fique com suas tranças.

Desse amor, quem se faz fiandeiro,

Confia, mas leva as balanças.

 

Em hora certa o ponteiro

Menor fará as alianças,

À espera do outro, o carteiro,

Das novas, com boas lembranças.

 

A moça, de tempo inteiro,

Desenha ao vento, as tranças;

Nos fios, sonhando ligeiro,

Cabelos soltos, andanças.

 

Que venha o amor escudeiro,

Trigal dessas esperanças.

De dor o mundo anda cheio

E, chega de desconfianças.

 

Confiante, segue ao recreio.

Com graça, sorri às crianças,

Contente em seu devaneio

De mantas brancas e tranças...

 

Sem culpas, sorri ao padeiro,

Crianças, balanços, balanças...

Afastam do meio o vespeiro,

Relógio, tempo e mudanças.

 

O tempo é do rio, o cordoeiro

Que tece e cobre ventanas,

Tornando-se conselheiro,

Amigo do peito; enchanças.

“A Janela da Imaginação”

Quem me convidou para participar foi o Edumanes do blog:

http://rimablogeutedouumaflor.blogspot.com.br/

A responsável pela Campanha é Livros, a Janela da Imaginação

Como funciona:

- Divulgar o projeto 12 livros em 12 meses em seu blog e informar o link da Livros, a Janela da Imaginação;

- Informar neste post os 12 livros que serão lidos e indicar o seu favorito;

- Indicar o maior número de blogs para participar;

- Avisar os blogs que foram indicados nesta tag.

Aceitei o convite e o transmito a quem passar por aqui. Por que? Porque existem livros para todas as idades, agradáveis de se ler e quanto mais sugestões, maior a possibilidade de escolha.

Vamos aos meses e aos livros:

Janeiro: A Mão e a Luva – José de Alencar

Fevereiro: Cinco Minutos – A Viuvinha – José de Alencar

Março: Dom Casmurro – Machado de Assis

Abril: Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco

Maio: O Alienista -  Machado de Assis

Junho: O Homem Nú – Fernando Sabino

Julho: Teje Preso – Chico Anysio

Agosto: O Feijão e o Sonho – Orígenes Lessa

Setembro: A Relíquia – Eça de Queirós

Outubro: Poemas – Cecília Meireles

Novembro: Para Gostar de Ler Crônicas 2 – Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos

Dezembro: As Mentiras Que Os Homens Contam - Luís Fernando

Veríssimo

 

Gostei imensamente de todos esses livros, não tenho preferido.

Vamos em frente nessa sugestão de livros?

Basta pegar o selo e sugerir!

Obrigada e um abraço, Yayá.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Desabafo / Miniconto

O Desabafo

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Sobem as cortinas do palco, entra em cena Sarita, na sua peça mais envolvente, o monólogo que Shakespeare não escreveu chamado O Desabafo.

_Em frente ao público o meu ego se satisfaz em fazer dos sentimentos as suas alegrias e as suas lágrimas. Não posso me perder no tempo, tenho uma hora e alguns minutos para transmitir em gestos, a delicadeza que muitos teimam em apagar dos seus corações, como se existisse borracha tão poderosa que sublimasse o invisível.

No tempo de Shakespeare, as mulheres não tinham falas eloquentes, nem textos que preenchessem o palco. Eram os homens seus protagonistas. Por que o feminismo? Tantas atrizes jovens, exuberantes em cena e fracas diante da realidade. Para ser atriz é preciso que o ego seja aumentado, sabendo-se bem sem apoios, quando o personagem se vai. Esse interregno entre uma atuação e outra é o grande problema do artista, é a fase da despedida do primeiro e a espera do segundo, sem público, sem palmas e sem palco.

Tivemos peças para mulheres que, de certa forma, reduziam a feminilidade. Algumas representam homens e se frustram, se deprimem, contrariando a si mesmas. Um ego forte espera o papel apropriado, nem que seja aquele único, o sonhado, o desejado, para logo a seguir levar uma vida comum, igual, corriqueira e se aguentar com isso.

O palco é o momento cronometrado na fala correta do texto no tempo do expectador. O figurino requintado de nada serve ao tempo inexato da compreensão do público. A comunicação no teatro se dá ao vivo numa troca de exposição e recepção, O tempo muda de plateia a plateia, noite a noite; não é a atuação e sim a velocidade desse diálogo que influencia o sucesso ou o fracasso de um texto representado.

As mulheres que atuam precisam do ego aumentado. É triste se saber de atrizes que se deixam levar por substâncias exógenas porque são incapazes de se garantir ao enfrentar a multidão de fãs a fazerem perguntas.

Fãs querem as mulheres perfeitas e, embora elas não existam, é a obrigação da atriz ser atenciosa, dentro das suas possibilidades; são pessoas que precisam dessa luz que a admiração provoca. A idealização da atividade ou função é a compensação das frustrações vividas na vida prática numa catarse subjetiva de um espetáculo teatral.

Lembro-me de ter saído certa tarde e no estabelecimento comercial, a televisão estava ligada. A atriz dava uma entrevista e contava a sua tristeza no programa. Todos os frequentadores do local começaram a criticá-la. Era decepcionante para eles, verem a fantasia evanescer diante dos seus olhos.

O público quer show!

A atriz pode escolher o seu público, determinar as características do espetáculo, mas não pode se negar a representar. Vai-se o personagem, a atriz fica atuante em frente ao seu público. Permanentemente pronta a representar. É o que o público espera de quem escolheu essa função.

O glamour não mora nas passarelas da fama, reside na atuação constante e persistente da deusa de cristal, sabedora da delicadeza necessária para dissipar toda e qualquer pressão, seja dos fãs, dos fotógrafos, da vida particular, etc.

O sucesso é solitário. Quando muitos querem saber de você é porque não estão ao seu lado, estão abaixo, ou, se sentem abaixo das suas expectativas para serem amigos.

Representar não é uma escolha, é uma imposição para quem nasce com essa aptidão. Atriz nenhuma é escrava, é rainha do seu talento.

Aquelas que se dizem atrizes e escravas de vaidades ou modismos não são longevas no palco, porque o talento independe da beleza, depende do convencimento que a atuação é sincera, espontânea, que aquela que está no palco jamais foi senão aquela personagem a qual representa naquele instante.

Dizem que vida de artista é que é boa, mas qual de vós arriscaria a vossa vida medíocre para subir num palco?

Porque a vida assim chamada de medíocre é aquela que a maioria das pessoas deseja. O conforto de ir ao teatro, sentar-se à poltrona, abrir o pequeno pacote de balas sem açúcar para não prejudicar a jaqueta do dente molar e deixar a fantasia fluir como num sonho, é de grande agrado. Para isso sempre procuramos proporcionar ingressos a preços acessíveis.

A vossa distração é o meu trabalho.

Quando a plateia reage, meu ânimo se anima e doo o personagem.

Presenciei atrizes agradecendo ao público e se benzendo agradecendo o conseguir terminarem o espetáculo. Jamais desejariam aquele público novamente. Sou solidária a elas, nem eu assim o desejo.

Uma amiga me chamou ao camarim e se queixou de dores na coluna. Essa amiga me emocionou ao dizer que via uma estrela em minha testa e que ela precisava da luz dessa estrela para voltar à sua cidade natal. Jamais saberei que luz ela viu, nem sei por que me chamou de Estrela D’alva. No entanto, ela desenhou uma estrela no meu convite e me abraçou. A foto que tirou comigo, não me deu, queria com ela.

Jamais o público me verá lavando o rosto sem a maquiagem apropriada na iluminação determinada. Essa é a minha função.

Perguntar-me-iam sobre os amigos e a vida comum?

Eu responderia que não faltarão cachorros-quentes, com fotos nas revistas previamente concedidas. A mostarda e o catchup do canto da boca serão fotogênicos.

Se alguém quiser seguir o meu caminho, que siga. Não seguem enganados.

domingo, 12 de maio de 2013

Amanhã

Amanhã
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Vejo trens por todo o país,
Mil empregos, progresso,
FIFA e taça feliz,
Olimpíada e sucesso.

Corre o real, vis a vis,
Mas dispenso esse ingresso;
Antes quero algum bis...
Lá que está, esse eu confesso.

Gula minha esse xis,
E ao futuro vai impresso.
Conjuntura e brasis
Mudam muito o supresso.

Vejo agora esse giz!
Risca o risco do acesso;
Saio da linha aprendiz,
Pulo a tempo e regresso.

sábado, 11 de maio de 2013

Sinergia

Sinergia

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A palavra não dita

E, sensível ao olhar,

Significa a sinergia.

 

Resplandece inaudita

Sem ao verbo se dar,

Ou dizer nostalgia.

 

Ilumina e não cita,

Na humildade ao calar

Que ao invisível se guia.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Antevéspera / Crônica do Cotidiano

Antevéspera / Crônica do Cotidiano
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Todos nas ruas fazendo compras para as mães e para as sogras, dia de trabalho corrido para conseguir o presente ideal.
O dia começa cedo. Diversão logo de manhã. Ligo para a seguradora para tratar de negócios e a resposta séria da secretária eletrônica, mas de pessoas que conheço já há algum tempo, me deram o primeiro sorriso:
_No momento não podemos atender. Por gentileza, ligue mais tarde. Em caso de urgência compre um cachorro.
Depois dessa, saio e comprimento um conhecido.
_Bom dia, como vai o senhor?
A resposta inesperada e interessante me deixa pensativa:
_Cá vou eu a olhar os corvos por trás da lama. A senhora entenda se puder.
Hoje eu não amanheci para códigos secretos. Não quero nem saber de corvo e lama. Tenho o que fazer.
Um dia de agenda cheia, paro e tomo um café. Eu tenho os meus hábitos.
A freguesa, próxima a mim, não se contém e diz:
_Por que a senhora frequenta essa cafeteria barata quando a senhora pode ir tomar um café expresso numa máquina requintada?
Pacientemente respondo que o café do local tem o sabor bastante semelhante àquele que faço em casa. O preço do café não indica a qualidade e o sabor do mesmo. Sinto muito pela sua pergunta. Ela fica emburrada e eu me sinto mais inteligente do que antes.
Chego à loja de departamentos e o vendedor me disse para que eu aguardasse o minuto de silêncio.
Fiquei constrangida de chegar à loja na hora do minuto de silêncio e, com respeito aguardei o momento para sair da loja.
Não sei por que perguntei:
_Quem morreu?
A resposta foi de acordo com as outras respostas do dia:
_Ninguém morreu. Hoje a loja abriu falência e homenageamos o nosso estimado gerente geral com o minuto de silêncio. A senhora se sinta à vontade e compre o que quiser. Começou a liquidação com cinquenta por cento de desconto.
Vim embora.
Chegou o momento infalível que é o momento de comprar os pães.
À saída do supermercado, eu digo:
_Boa tarde.
A moça me responde:
_Boa tarde, volte sempre.
O garoto, funcionário, ao lado dela, diz:
_Você é complicada! O seu caso é para o meu pai psiquiatra!
Sobrou-me a curiosidade de saber se todos esses diálogos foram em expectativa pelo próximo domingo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Indriso Maternal

Indriso Maternal

Maria, mãe e mar,
Ao ensejo e ao manto
De areia, o seu lar.

Recria o sonhar;
De amor e espanto
Sonha o olhar.

Maria e o seu mar,

Entoam o seu canto.



 Indriso composto a partir da música La Mer – Mr. Bean Holiday

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Parei Para Ouvi-lo / Crônica do Cotidiano

Parei Para Ouvi-lo

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Não sei quem era e nem porque estava ali, mas o homem tinha a oratória treinada, expunha a sua teoria com entusiasmo e falava numa voz mansa, como quem sonhava acordado.

Permitam-me pensar com ele e, raciocinem para ver se há sentido naquilo que ele diz:

“_Amigos, suponham que algum empresário, publicitário, político ou líder espiritual tenha a vontade de conquistar adeptos através da internet. Surge a ideia de formar um grupo numa rede social, planejada, contratada, com o aspecto de espontânea e sem objetivo de vendas.

Essa rede não comercial sugere encontros em lugares reais. Se muitas pessoas comparecem ao evento, podemos criar a liderança com os objetivos que tencionamos criar.

Suponham, igualmente, que ao evento, pouca gente comparece. O fracasso de liderança fica demonstrado e o criador do evento, contratado por nós, é demitido.

Ocorre que existe a intenção de se testar esse novo produto, chamado de rede social, na formação de grupos sociais reais. Suponham que eu conheço uma fonte verídica na minha vida prática.

O resultado prático dessas formações de grupos têm mostrado resultados aleatórios. Às vezes, temos uma multidão de pessoas, vindas de todos os bairros, para se conhecerem e, às vezes, o resultado é inócuo.

Estes resultados aleatórios são desorganizados porque é difícil calcular o público gerado pelo evento criado a partir do mundo virtual criando-se a sensação de insegurança ao próprio público que tem vontade e disposição de comparecer ao local.

As pesquisas de público continuarão independentemente dos resultados. No meu ponto de vista, a prática e a tentativa de levar o mundo virtual ao real pode se transformar numa decepção ao marketing que os organizam, aos participantes e aos patrocinadores.

Penso que, embora todos nós utilizemos as redes sociais, os eventos devem ser criados a partir do mundo real, com estimativa de público e bilheteria, mesmo que gratuita, aos participantes desses eventos.

As reuniões, até agora, não demonstraram resultados positivos nas estatísticas ou para os investidores desses eventos.

Penso também que não há motivos para se investir em algo que, em curto prazo, não trará benefícios à comunidade, seja essa comunidade localizada num bairro ou numa cidade. Não invisto e peço aos meus filhos que não compareçam em eventos desorganizados, onde não se tem noção do que pode acontecer depois que a aglomeração se forma.

Perdoem-me o excesso de divagações, mas quando me disseram que essas festas nada têm de espontâneas, que no mínimo são testes publicitários para verificar a possibilidade de alguma condução de políticas empresariais, não gostei. Senti-me enganado. Não sou cobaia do mercantilismo.”

Agora me digam se valeu ou não valeu essa explanação de raciocínio, mesmo que seja o ponto de vista dele, do homem que se preocupa com as possibilidades na convivência social.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Assédio Moral / Crônica de Supermercado

Assédio Moral / Crônica de Supermercado

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A moça, de aparência humilde, começou a falar sem se dar conta das pessoas em volta dela. Contava da sua supervisora. Ela não trabalhava no supermercado e se sentia com vontade de falar com a colega de trabalho que chegava à fila do pão.

_Eu não suporto mais. Eu contei, sem querer, que o meu novo cartão bancário chegou e que iria até a agência do banco para desbloqueá-lo. Você sabe o que ela fez? Perguntou se eu não me importava que ela fosse comigo até o banco. Disse que iria de automóvel e que eu pagaria a metade do custo do estacionamento para eu não me sentir envergonhada de pegar carona com ela.

A colega concordou, mas disse que a chefia anterior era bastante antipática com as funcionárias. Quem sabe ela não queria ser agradável com ela.

Agora, percebia-se que a moça ficou nervosa. Ela contava outros constrangimentos pelo qual passava.

Todos nós, na fila, ouvíamos sobre a vida funcional dela. Com certeza estava oprimida e procurava o apoio da colega, mas exagerava na confidência:

_Outro dia, na hora do almoço, fui até a rede de lanchonetes “A” (sem propaganda por aqui) e pedi o meu lanche favorito. Ela chegou e disse que não sabia que a multinacional aceitava vale-refeição. Eu dava a primeira mordida no meu sanduíche quando ela pediu para que eu pensasse antes de comer lanche na hora do almoço, pois poderiam faltar os alimentos básicos dentro de casa. Ela, com aquele jeito de cidadã benemérita, explicou que o vale-refeição é para ser gasto com compras no supermercado. O lanche perdeu o sabor. Os quinze reais eram meus e eu o estava escolhendo naquele dia de pagamento. Eu posso escolher o que comer quando pago, eu acho. Como se não bastasse a intervenção no meu lanche, ela disse que pagaria o dela com dinheiro para não gastar o vale com lanches e sentar-se-ia ao meu lado para usufruirmos o horário com uma conversa boa sobre o trabalho.

A colega disse que nenhuma das moças estava contrariada com a supervisora. Pelo contrário, elas estavam aborrecidas com outra colega que ficava de mau humor o dia inteiro.

A moça falava com certa angústia:

_Eu sei. Essa funcionária está com raiva da pessoa errada e faz cara e boca para todas nós. Quem tirou a folga dela foi a chefia, não nenhuma de nós. Eu ouvi a conversa da supervisora com ela e é igual a que tem comigo. Se ela não se importasse, ela daria a folga para outra colega naquele dia da semana porque ela era indispensável naquele dia da semana para a empresa. O fato é que ela não concedeu a folga naquele dia da semana porque não quis.

A outra ficou surpresa e calada, mas a moça continuou:

_Não suporto mais o horário do almoço, ela quer ir comigo seja ao banco, seja às minhas compras, seja o lanche ou o almoço. O meu horário de almoço é dela, como se ela fosse a minha dona; como se eu fosse a sua escrava querida.

A essa altura da conversa, quem se incomodava com tantas confidências em meio à fila era eu. O fato é que eu não queria saber com qual banco ela trabalhava e muito menos do endereço daquela agência. E ela disse o endereço da agência. Chega!

Com respeito e com firmeza na voz disse a ela que agradecia a companhia dela e da colega dela na fila. Desejei boas compras como quem pede para que ela se expusesse menos naquele lugar inadequado.

Agora, penso no estado emocional em que essa moça se encontrava para dizer tanto a respeito dela mesma para muita gente. Tinha-se a impressão de que o fato da sua chefa invadir a privacidade dela era tanto, que a moça não se importava mais com quem viesse saber daquilo que ela vivenciava.

A moça era humilde, precisava do emprego e não aguentava mais a situação. Aquele lugar não era o ideal para ela desabafar.

Tem momentos que a gente não sabe ao certo o que dizer, esse foi o meu caso hoje.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Reflexão

São as dificuldades que criam os melhores momentos.
Foi uma honra participar do cineramabc na cidade de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
As circunstâncias nos fizeram ir até Balneário Camboriú e Florianópolis.
A gentileza dos organizadores da Oficina, porém, ficará para sempre na nossa memória.
Embora com tempo aprazado, sem podermos participar das filmagens, onde todos os alunos participaram, significativamente o lenço da produção era um lenço antigo da minha mãe, que coloquei na bagagem com saudade. Simbolicamente, quem participou do filme, foi ela, através do lenço.
Voltamos para Curitiba. Sentimos que ela está com Deus. Estamos felizes.
A emoção é imensa.
Obrigado Cinerama BC ! Valeu!
http://vimeo.com/65510667

domingo, 5 de maio de 2013

Mãe: A Luz Que Brilha Eternamente

Mãe: A Luz Que Brilha Eternamente

A melhor homenagem póstuma que posso fazer à minha mãe é compartilhar o seu texto. Desse jeito, conto a fé, o brilho e a certeza que ela está com Deus.

O texto foi escrito em 1.995 e é muito significativo.

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Uma das suas canções italianas preferidas era Nessun Dorma da ópera Turandot de Puccini, na voz de Plácido Domingo.

 

Fica a homenagem ao Dia das Mães, nesse domingo antecipado, mas muito significativo.

Curitiba, 04/05/2013

Yayá

sábado, 4 de maio de 2013

Borboleteando

Borboleteando

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Borboleta dourada,

Que me encanta ao repouso,

Num momento à mirada

Do ser. Nem mesmo ouso

Um cochicho à virada.

 

Vem de voo sem parada,

Purpurina ao arrazoo

De brilhar em revoada;

Pois, ao gesto bondoso,

Sem cantar, se fez toada.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Filosofando o “Se”

Se

A partícula “se”, quando o verbo tem a sua conjugação no passado é, em minha opinião, a suposição de como seria algum fato se fosse diferente daquilo que foi. Algo que pode ser enfeitado ou enfeitado, mas que foi o que foi.

Agora, a partícula “se”, no verbo de presente, é o detalhe mais importante na vida de cada ser humano porque visa o foco que se pode elaborar a partir de uma situação real. É a leitura que cada um faz de si mesmo e, da qual, se podem elaborar diversas teorias e imagens a respeito, discutidas e questionadas, pelo ser e por aqueles que têm conhecimento da situação. Neste “se” interferem interesses múltiplos dentro desse contexto. Além das visões otimista e pessimista, têm-se a visão realista.

Este foco, o realista, nem sempre é o melhor foco de determinada situação. Nelson Rodrigues era realista e dramático. Mas, se a realidade, fosse baseada na visão do dramaturgo, todas as esperanças seriam feitas de acordes diminutos e todos os caricaturistas estariam sem ter o que fazer.

Todas as possibilidades da partícula “se”, no tempo presente, devem ser analisadas com a finalidade de verificar as variáveis possíveis e o resultado a ser conseguido incluso na análise. Dizem que esta análise é para engenheiros. Pode ser, mas não custa nada tentar analisar algo com todos os “se” possíveis e deixo a gramática para depois.

O “se” no tempo futuro, é a obrigação de cada um. Sonhos e projetos pessoais não podem ser esquecidos. Nesse caso, se não for o planejado, se descobrirá mais à frente.

Este “se” no tempo futuro é importante porque, sonhos e projetos pessoais são pessoais. Que o outro não sonhe por você para não se decepcionar. Que você sonhe com responsabilidade e carinho pelo mesmo, que não se permita a negação do sonho pelo sonhador; sonhos são bolas de algodão doce e podem se transformar em outros tão bons quanto o original.

Mas, se, pensar diferente, eu deixo o vídeo vindo do vinil e do You Tube...