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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sentando Praça

Sentando Praça

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Dia corrido. Compro o sorvete, sento no banco da praça e o tomo para refrescar a blusa de lã desavisada.

Ao meu lado sentam-se mãe e filho, o garoto aparenta a adolescência.

A conversa começa:

_Filho, agora somos cidadãos do primeiro mundo, termino de pagar o tal do notebook no mês que vem. Estou tão feliz por você ter me adicionado na relação dos seus amigos. Você está feliz por eu ser sua amiga nessas coisas chamadas com nomes esquisitos como Orkut?

O filho responde que sim.

_Filho, podemos conversar pessoalmente como se fosse ao notebook?

O filho responde que sim e a aconselha:

_Mãe, eu sei que você não sabe como se escreve banana em inglês, mas não faça pergunta séria pelo computador. Olha lá o que você quer perguntar, me deu até medo de ouvir.

A mãe, serena, continua sem dar atenção ao garoto:

_Vamos aproveitar esses momentos meu filho. Logo você cresce e, se Deus quiser, não precisará servir.

O garoto reage como se tivesse falando com uma extraterrestre:

_O que é isso, mãe? E se eu quiser servir?

A mãe responde que se ele quiser servir, que sirva o serviço obrigatório dos dezoito anos, mas diz a sua preferência:

_Meu filho, se for servir, sirva na Marinha. Passeio de barco, natação, atitudes saudáveis que te deixarão forte e bonito.

O filho olha para frente, para o nada que faz com que não tenha que olhar olhos nos olhos para a sua mãe:

_Será que eu sou filho de alguém cuja inteligência é falha? Que situação difícil essa conversa. Mãe, eu quero voar, acho que vou para a Aeronáutica.

A mãe diz que ver o filho no ar não está nos seus planos, mas os moços que voam também são fortes e têm saúde. Será um sacrifício em prol do filho feliz. Pelo menos não terá que engomaras roupas de treinamento em terra.

Foi nessa hora que o garoto exclamou:

_MÃE! Não me envergonhe. Eu vou para onde tiver vaga. Saiba que eu gosto muito de estratégias em terra também.

A mãe diz que ele ainda é jovem e pergunta se ele quer que ela providencie uma escola preparatória.

_Mãe, por favor, NÃO! Deixe que eu escolha as minhas armas.

A mãe desconversa e volta a falar em notebook.

_Mãe, em vez de falar sobre quando eu crescer, vamos conversar sobre o computador. Você não pode me fazer essas perguntas pelo Orkut. Eu preciso te explicar certas coisas que você não sabe. Como é difícil explicar essas coisas para você, mas com toda a calma a gente chega lá.

A mãe pede para que ele explique as regras do Orkut à noite, antes de ir se deitar.

O garoto entra em desespero:

_Mãe, eu não posso esperar até a noite. Você envia mensagens à tardinha. Tem que ser na hora do almoço.

A mãe responde:

_Você quer que eu aprenda enquanto eu frito o bife? Depois reclama que eu não entendo.

Agora o garoto começa a suar.

_Mãe, escreva o que você cozinha para mim e pergunte o quanto eu gosto da sua comida. Está bem assim?

A mãe sorri:

_Está bem meu filho. Entendi: no Orkut a gente não conversa, a gente se elogia.

O filho diz que pretende elogiar a mãe todos os dias, pede a ela que diga da alegria que é cozinhar para a família.

A mãe diz que não é tanta alegria assim, porque ela interrompe a costura que é do que ela sustenta a casa depois que se separou do marido, mas faz o acordo com o filho.

Ambos se levantam e saem conversando. O meu sorvete tinha acabado e também saí.

6 comentários:

Célia disse...

Difícil essa vida de mãe que não abre as asas e solta o 'filhote', hein...
Bj. Célia.

Fanzine Episódio Cultural disse...

O pesquisador e poeta Carlos Rodrigues, 53, natural de Carvalhópolis, sul de Minas irá lançar em breve o primeiro livro sobre a trajetória desta singela e pacata cidade do sul de Minas, cujo título será “Carvalhópolis -100 anos de História”
Carlos colheu inúmeros depoimentos (causos, lendas, curiosidades...) de antigos moradores culminando nesta primeira obra (sem nenhum apoio público).

Contatos: (35) 9976-9222
carlosrrodrigues14@hotmail.com

lis disse...

Adorável essa conversa ...
Amei !
Exatamente assim,novos tempos...
abraços e bom te ler Yayá

XicoAlmeida disse...

Boa conversa.
Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.

Abraços

linksdistodaquilo disse...

Blog muito interessante! Fico como seguidora.
Beijo.
Nita

linksdistodaquilo disse...

Que a Páscoa tenha sido doce e renovadora…
Beijo.
Nita