Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Poder da Vitrine

O Poder da Vitrine / Crônica do cotidiano

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Os publicitários dizem que a vitrine vende e agora eu acredito neles.

Por esses dias, eu cheguei adiantada a um compromisso e tive que fazer hora antes de cumprir a obrigação. Caminhei pela rua displicentemente procurando algo para ver. Tomei um café e passei em frente a uma pequena loja de armarinhos e namorei a vitrine.

A lojista, sem muitos recursos, fez a vitrine com muita criatividade. Embora não tenha tirado fotografias, essa vitrine me foi agradável a ponto de ficar como um desenho multicolorido na minha imaginação.

Bonecas de pano de tranças nos cabelos, vestindo vestidos de chita, sentadas sobre almofadas feitas à mão, de braços abertos com uma folha de revista bem recortada.

Eram folhas de revistas de moda do mundo inteiro e os modelos eram também criativos, sugerindo ao passante a ideia de fazer arte em casa.

Demorei-me alguns minutos olhando as rendas e fitas, as bonecas e as revistas que essas bonecas seguravam. Depois, fui ao meu compromisso.

Ao sair no dia seguinte, sem querer, a minha visão voltava-se para as roupas e sapatos das transeuntes. Não era questão de moda e sim a beleza da composição das moças.

Encantou-me a saia de crochê sobre o forro de pano na cor neutra acompanhada por sapatos de salto alto pretos.

Os meus olhos procuravam a sugestão da vitrine do dia anterior. De repente, passou uma senhora com sandálias de plataforma do verão retrasado, mas vestia uma calça clássica bege de corte impecável. Outra ainda vestia o que poderia se chamar de camisão com golas e punhos escuros que ia até a altura dos joelhos e usava sapatos com saltos exóticos.

Senti-me num desfile de modas, cada uma no seu estilo pessoal, todas muito bem arrumadas. No entanto, elas não estavam vestindo roupas dos shoppings centers, criavam o seu visual. Também não tirei foto delas, observei-as como um caça-talento faria, ao longe. Lembrei-me de uma amiga que dizia que bom gosto tem a ver com estilismo e criação de moda.

Voltei para casa e pensei na vitrine. Sei que não sou boa crocheteira, mas no tricô eu me viro bem e sei tirar amostras de pontos e fazer malhas com capricho.

A vitrine quase me persuadiu a voltar à loja para comprar lã, mas ando sem tempo e sei que é melhor deixar para quando tiver alguma folga de horário. E digo que é difícil resistir à vitrine.

A vitrine causa a sensação de vontade, direciona o olhar para o produto mesmo depois que o contato visual é descontinuado. A vitrine quase espelha um desejo oculto de parar para fabricar artes manuais e se transformar numa autêntica estilista de guarda-roupa.

E depois de ver moda sem parar, passei de novo na loja. Entrei para conhecer os artigos à venda. Não comprei. Peguei uma receita de tricô para depois, quando quiser ou puder tricotar, cortesia da loja para os seus visitantes.

Com toda essa delicadeza, quem não tem vontade de comprar algo a mais, aquilo que não se necessita, mas sim se deseja como se fosse item de primeira necessidade. O que parece ser um absurdo e é real. A gente é que tem que se segurar para não gastar naquilo que não precisa.

Voltando ao publicitário do início do texto: Não é que ele tem razão? Vitrine vende!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Amigo Poema

Amigo Poema
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Saber do outro como se sabe
A si, é no cozer, o fermento;
A frase que tanto bem cabe
Dizer num arrebatamento.

Amigo é alfazema da tarde,
Passada sem dor ou lamento;
Do tempo perdido à vontade,
De ser apenas sentimento.

Aroma que deixa a saudade
De lado num breve momento,
E enseja com essa vontade,
O livre querer ao contento.

Abrigo é com quem te bem sabe
Ao vir festejar este alento
Presente à janela que se abre,
Querendo-te muito ao seu tempo.

domingo, 28 de abril de 2013

Música Concreta Compartilhada

Música Concreta

Compartilhando a música concreta, instintiva, com inserções sonoras, na quântica melodia inventada e improvisada.

Assisti-los ao vivo se traduz em experimentar novas possibilidades musicais, libertar o tom e deixar o som fluir dentro da emoção.

Compartilho o som deles, que é, antes de tudo, a música experimental, quântica e fundamental para mudar os acordes que se fixaram em nós como cola a ser removida.

O som, a física, violão e viola com sintetizador e vocal. Experiência sonora para ninguém achar defeito.

Assim se deixa o domingo espreguiçar nesse cd novo. Nem vou poetizar com exagero porque o exagero foi o som permitindo a liberdade sonora, contemporânea e exigente.

 

Sem Palavras

Concreta, experimental,

De quântica folia,

De som e tom cordial

Na toca da maestria.

sábado, 27 de abril de 2013

Função Família

Função Família

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Chegavam à residência marido, mulher e filho por volta dos seus seis anos.

À entrada da casa o pai, à vontade, conversa com o garoto:

_Filho, amanhã é sábado e vamos ao parque pela manhã, depois iremos almoçar juntos com a mamãe, à tarde jogaremos bola. Voltamos para casa e saímos os três para comer pizza. Programa nosso com a participação da mamãe. Vamos ter um final de semana divertido.

O garoto olha para cima, olha primeiro para a mãe e depois para o pai e começa o sermão:

_Papai: estamos bem, mas você está sendo um tanto sem juízo ao fazer do final de semana uma festa. Deveria pensar em fazer as compras da semana, comeríamos salada, arroz, feijão e bife na hora do almoço. Esperaríamos a mamãe lavar a louça para depois programarmos o resto do dia.

A mãe olhou surpresa para o filho, mas o garoto continuou:

_Papai, às vezes você se comporta como um palhaço de circo. Você deveria ser sério e me educar para crescer e ser um homem de bem. Estou falando isso para o seu bem. Veja a mamãe que trabalha fora, cuida da casa e me ajuda nos deveres de casa e até me ensinou a tomar banho e me vestir sozinho. Ela é séria. Comporte-se melhor papai.

O pai do garoto ficou chateado. Ele queria proporcionar um belo final de semana naquele começo de inverno, mas depois da bronca, nem sabia se queria alguma coisa.

A mãe disse ao garoto que ele estava exagerando nas repreensões ao pai e afirmou que crianças brincam. Disse também que ele estava na pré-escola e podia se divertir antes de pensar seriamente na vida.

_Mamãe, eu digo o que eu digo para o bem do papai. Vocês parecem não me entenderem.

A grandiloquência do menino chamou a atenção do pai, que perguntou ao Dídio, apelido do garoto:

_ Meu filho, onde você passou à tarde de hoje? Na biblioteca?

O garoto, pequeno, ingênuo e sincero, disse ao pai:

_A professora não foi e o vovô veio me buscar.

O pai perguntou novamente:

_Vovô, papai da mamãe ou vovô papai do papai?

O garoto contou que estivera na casa do avô paterno.

A esposa, mãe do garoto disse:

_ Graças a Deus: Não foi o meu pai e nem ninguém da minha família.

O marido perguntou à mulher porque tanto agradecimento e ela disse que havia pegado o Dídio com a mãe dela.

O marido pediu para que a mulher ligasse para a mãe dela para saber do dia do filho.

A mãe dela disse que a mãe dele deixou o garoto com ela para ir à médica acompanhada do marido.

O pai perguntou ao garoto se o avô tinha pedido para que ele desse um pouco de juízo ao pai. O garoto disse que não, mas que o vovô tinha dito todas aquelas coisas porque estava preocupado com o futuro dele.

_Filho papai conversa com o vovô e você fica de fora da conversa. Amanhã iremos e faremos o que eu disse agora a pouco. Não se preocupe pelo seu avô. Eu digo para ele que está tudo bem.

Entraram em casa e a mulher começou com as brincadeiras de bola com o filho, ela seria a treinadora.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

De Papo P’ro Ar

De Papo pro Ar
O som brilha com Paulinho
À viola, o samba-enredo,
De segredo ao cavaquinho.
Ao som: cordas e sossego.

Na garganta o seu carinho
A cantar de próprio jeito
À Portela sem chorinho;
Na canção, no seu sossego,

Tamborim no peito ninho,
Passarinho no arvoredo,
Vem do rádio esse seu sino,
Esse mar de timoneiro.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Brinde

O Brinde

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Era uma vez um casal desgostoso com os negócios, mas que precisava comprar um jogo estofado para receber os amigos.

Não possuindo muitos recursos para a compra, eles foram a uma loja de móveis populares. Escolheram o melhor jogo estofado que o seu dinheiro podia comprar.

O dono da loja era um comerciante muito rico e conhecia o casal dos tempos fartos.

O comerciante tratou o casal com muitas mesuras, mas depois do negócio fechado e o jogo estofado devidamente pago, ele os surpreendeu com um brinde.

O brinde era uma mesa de centro, para ficar em frente ao jogo estofado. Era uma mesa toda empoeirada, lisa e de madeira crua. Ele tinha muitas mesas bonitas para vender ou dar, mas escolheu aquela que parecia a mais simples.

O casal agradeceu e disse ao dono da loja que não precisava lhes dar nenhum brinde.

O comerciante disse que fazia questão de dar o presente.

O casal comentou à noite, na intimidade dos travesseiros, que aquele brinde veio de uma forma diferente. O comerciante ria muito do jeito sem graça que o casal ficou.

Quando o sofá chegou, lindo, novo, de preço bom, eles perceberam que a compra tinha valido a pena.

O entregador trouxe então a mesa e a colocou no centro da sala. O dono da loja pediu ao entregador que fizesse com que o casal assinasse o recebimento da mesa de centro.

O casal assinou e o entregador foi-se embora, sorridente.

Então, os dois sentaram-se no sofá e repararam na mesa empoeirada, lisa e de madeira crua.

Um deles reparou que a madeira era maciça. A outra trouxe a flanela e o lustra-móveis.

A mesa de centro era de imbuia, uma madeira nobre, talvez tão cara quanto o jogo estofado.

A mulher sentou-se junto ao marido e recebeu o mais terno abraço que jamais havia recebido.

O que parecia deboche na hora da compra foi exatamente ao contrário dentro da sala. Era sinônimo de apreço e consideração do comerciante àquele casal.

No estado em que veio, parecia peça avulsa de estoque encalhado. Jamais alguém pode dizer do apreço do comerciante pelo casal.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pergunte ao Scherlock / Crônica de Supermercado

Pergunte ao Scherlock / Crônica de Supermercado

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Devido ao fato presenciado e devidamente fugido, pois corri para dentro do supermercado, me ocorrem dúvidas sobre a correta maneira de agir em determinadas circunstâncias.

A cidadã pacata, que aqui questiona, compra pães e ganha a história para o blog.

Quando se escuta um grito, um motor roncando e se encontra no pátio do supermercado, deve olhar para o lado, ao se dirigir para dentro do estabelecimento. Agora suponhamos que, ao olhar para o lado a cidadã vê um veículo em fuga, logo atrás um cidadão desesperado e, ainda atrás, o garoto de ouro, aquele que leva os carrinhos de compras para que sejam pegos pelos clientes que chegam ao estabelecimento, gritando:

_Para aí! Para aí!

Para que lado se corre? Eis a minha dúvida! Corri para dentro do estabelecimento ao ver os olhos de dentro do veículo e a direção do mesmo ameaçando vir para o meu lado. Se viesse, no entanto, iria se chocar com uma fila de carrinhos de compras e, talvez, tivesse que fugir a pé se não apanhasse de quem estava no local. Não quero nem pensar no “imbroglio”. Não me corrija o português, a palavra imbroglio é italiana Seria embrulho se fossem compras, mas carrinhos, assaltantes, assaltados, automóveis, garotos e cidadã pacata, seria imbroglio no sentido de confusão.

Comprei pães e não peguei a história? Lógico que peguei na saída.

Dirigi-me a um caixa de carrinhos de compras. Ele estava vazio de fila e havia alguém terminando de pagar as suas compras. Coloquei a cesta sobre a bancada, quando aparece uma senhora aparentando trinta e poucos anos e começou com a falta de educação:

_Essa fila é minha. Eu estava na fila. Saí para pegar um item que faltava na minha lista de compras e a senhora pegou o meu lugar.

Conforme escrevi acima, não havia fila, não havia carrinho de compras. Ela com más maneiras, pegou o lugar para ela, mesmo verificando que na minha cesta havia somente pães.

Eu não a conheço. Acredito que ela também não me conheça.

Agora a pergunta:

_Deveria eu fazer valer o meu direito de estar na fila, mesmo depois do acontecido no estacionamento? Para que criar polêmica num supermercado com vários caixas de atendimento e qual o sentido de pegar o lugar na fila se todos os caixas estavam com o mesmo movimento?

Divagando: com o supermercado lotado, naturalmente procuram-se os caixas rápidos para compras de pequena monta; em caso contrário a situação é optativa.

Pergunto ainda se estou certa em manter a calma e se com essa calma, não estou contrariando os princípios de cidadania?

Por hoje, é isso. Sei que o segurança disse que levei sorte e que ganhei o dia, pois consegui entrar sem que o assaltante viesse com automóvel e arma para o meu lado. Valeu o bate-papo!

terça-feira, 23 de abril de 2013

Cordel

Cordel

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Não viaja neste céu

Quem não tem o peito aberto,

Desconhece o modo inquieto,

E desdenha do escarcéu.

 

Pilotar, alude ao véu,

Sem se estar boquiaberto;

A correr do vento quieto,

Vem provando o seu pitéu.

 

As ideias têm o seu mel

Ao visar no sono incerto,

Cor dourada a esse projeto

Planejando o seu corcel.

 

E, ao compasso e o seu papel,

Vê-se o pássaro coberto

A pousar dentro do teto,

Nesse abrigo de um cordel.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Descobrindo o Brasil

Descobrindo o Brasil / Crônica

Hoje me pus às Caravelas De Cabral, tenho Portugal no nome e pude tentar redescobrir o esse país de sabedoria ainda por descobrir.

A cultura açoriana ainda é presente nos dado pelos portugueses, há tanto a se saber, a se provar e a se conhecer.

Conto-lhes que comi algo exótico, típico dos marinheiros, de cultura mantida e preservada.

Parece que estou a falar de política, mas não estou. Comi! Comi polvo xadrez e pimentão na cachaça. Confesso que a cachaça era forte e não dei mais que uma dentada no pimentão vermelho; o pimentão verde, que naturalmente é picante, não pensei em provar.

São tantas barcas nesse nosso país, são marolas e sestrosos e rapazes pescadores. O pescador vai ao mar e se extasia naquela imensidão, é ele, Deus e a divina criação.

Houve poesia:

Não te conheces, portuguesa!

Que ao descer mar, sente o Desterro.

À proteção, cabo e cereja,

De verde e rubra no alto cerro.

 

Não vos conhecem, se marquesa,

Na fidalguia; se há destempero,

Vem calmaria. Vossa nobreza

Faz-se sereno ao timão e remo.

 

Se brasileira, vê a certeza...

Dos seus costumes nesse vedro,

Que veio do mar sua destreza

A navegar, do homem que é Pedro.

 

Não sei se foi o pimentão, mas ainda estou corada desse dia de Bandeiras hasteadas que uniu o Brasil a Portugal.

E a festa vem com música: Canta Chico Buarque!

domingo, 21 de abril de 2013

Bobagens

Bobagens
De tantas canções
A ouvir, essa mensagem,
Que imprime noções
Daquela miragem,

Com tantas razões,
Encolhe a linguagem,
Ao som de emoções
Que voam; paragem.

E dizem botões
A rósea coragem
De amor: ilusões
São meras bobagens.

sábado, 20 de abril de 2013

Risca de Giz

Risca de Giz
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Os traços se delineiam
Suaves na cor de anis;
As luzes intermedeiam
E veem nas cores, sutis.

De azuis diversos clareiam
O sonho de forte matiz
E, ao quadro se delineiam,
E colam ao átrio Matisse.

São as firmes mãos que meneiam
Pincéis como pingos de is,
Que informam aos que o rodeiam,
A forma e a risca do giz.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Café Gourmet / Crônica de Supermercado

Café Gourmet / Crônica de Supermercado

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Fui ao supermercado, penso que está se transformando no meu passeio preferido porque, além das compras, eu descubro gente boa.

Gente boa faz com que a gente se sinta de bem com a vida, gosto de gente assim.

Hoje estava um dia ligeiramente frio, dias de outono normais, quando o sol aquece com moderação e o aroma que vinha da degustação do café estava irresistível. Fui guiada pelo aroma e verifiquei que havia três tipos de café para que os clientes fossem servidos.

Escolhi o de sabor leve, que eu não havia experimentado, e, também, não havia comprado. Rodeávamos o atendente em cinco pessoas, três homens e duas mulheres.

Eles, os homens, começaram a conversar e, nós, mulheres, ouvíamos e ríamos.

O homem que aparentava possuir em torno de quarenta anos começou o diálogo:

_Eu faço café para a minha mulher todas as noites. Ela chega a casa por volta das oito horas da noite. Eu chego antes e faço o café para ela tomar quando chega do trabalho. Tenho de dizer para vocês que, quando se é casado e se vive bem com a esposa é muito gostoso esse carinho. A afeição de uma atenção é um ingrediente que melhora o relacionamento.

O outro homem, um jovem, mas não deixou por menos:

_Eu tenho namorada e disse a ela que eu a namoro para casar. O meu emprego ainda não paga o bastante para montar a casa. Eu ganho o suficiente para viver, mas eu quero ter filhos com ela. Disse a ela que eu não a tiro da casa dos pais dela para morar embaixo da ponte. Mas disse também que gosto muito dela e que esse amor é que me faz responsável pelo futuro meu e dela. O amor é um sentimento nobre quando acompanhado de seriedade.

O mais velho disse que sim.

Nesse ínterim, o homem dos seus trinta e poucos anos desejou boa sorte ao mais jovem. Ele estava casado Há seis anos e não tinha se arrependido de se casar:

_O casamento propicia a mais intensa maturidade ao se ter filhos, que nos dão a noção de um amor sem igual. Digo que fiquei grávido junto com a minha mulher. Assisti a primeira amamentação, ajudei no primeiro banho e fui ao médico junto com ela para pesar o Fabrício. Posso dizer que sou um homem realizado.

Nós, mulheres, tomávamos o café bem devagar, estávamos ao lado dos melhores maridos do mundo. Por pouco não parabenizei as esposas deles, mas a conversa estava boa demais para ser interrompida.

O rapaz do café estava sério. O mais velho perguntou a ele se algo o incomodava e ele respondeu:

_Eu sou feliz, mas a minha história foi diferente da de vocês. Eu tive que aguardar a idade para casar, a minha mulher morou com os pais que ajudaram a criar o nosso filho. Estou tendo dificuldade em convencê-la a morar comigo sem a presença do pai e da mãe. A minha sogra diz que sentirá muita falta se eu e a Belinha formos morar longe dela. Eu quero acordar ouvindo o Roberto cantando o Café Pra Nós Dois, mas apenas para nós dois. Não quero magoá-la, a minha sogra é muito gentil comigo, mas não tem jeito. Ela terá que se acostumar a viver com o marido sem a presença da gente na casa dela.

O homem de trinta e poucos anos sugeriu:

_Não ofenda a sua sogra, engravide a sua mulher. Ela pensará que vocês estão exagerando com a boa vontade dela e deixará que vocês formem o lar de vocês.

O moço do café sorriu, gostou da sugestão.

Depois dessa, o café feminino acabou. A outra senhora se foi e eu também vim para casa.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pela Graça

Pela Graça
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Ilude a idolatria
De engano contumaz
Seguindo nessa via
De regra, que se faz.

Se o humor é primazia,
O engano se desfaz
Em plena luz do dia,
Nos risos sem iguais.

O encanto da alegria
Constrói um novo dia, ou mais;
Acresce a toda vida.
Na Graça, dá-se a paz.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Propostas Indecorosas / Crônica do Cotidiano

Propostas Indecorosas / Crônica do Cotidiano
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Às vezes eu acho que o mundo está estressado e tenta me estressar, ou, transferir esse estresse para mim. Seguem-se as situações:
Do Salão de Beleza:
_A senhora permite que eu mude o seu visual?
De bom grado aceitei que sugerissem, afinal, quem não quer melhorar a apresentação? A resposta é que foi decepcionante e hilária:
_Mudamos os cabelos para cinza com tons diferenciados e fazemos um penteado no estilo vintage. Em aproximadamente quarenta e cinco a cinquenta minutos a senhora aparentará sessenta e cinco anos.
Espera aí, que eu não fui ao salão para parecer mais velha. Deixe-me chegar lá e nem assim sei se gostarei de cabelos no tom cinza. Saí de lá do jeito que eu gosto, mas pensando se eu aparento essa idade. Pode acontecer de uma pessoa aparentar anos a mais. Eu quero envelhecer e me sentir bonita quando chegar lá. Antes, porém, não. A idade que tenho é que é a minha realidade. Fiquei desconfiada. Indecorosa proposta.
Essa história tem mais, vamos ao segundo caso:
Conversando sobre releituras, alguém me disse que Cabral, o nosso descobridor, chegou aqui por acaso, que não tinha ouvido falar no Tratado de Tordesilhas.
Eu disse à cidadã que sentia muito, mas os livros tinham uma teoria diferente da dela.
E ela me veio com a sugestão de fazermos de Pedro Alvarez Cabral um homem ingênuo, sem conhecimento das políticas que antecederam a Descoberta do Brasil.
Mostrei os livros sobre o descobrimento e ela perguntou se não poderíamos alterar a história.
Não me contive:
_Minha prezada cidadã: saiba que Cabral era um navegador, era inteligente, sabia o que queria.
Entusiasmei-me no discurso e acabei por dizer que até os argentinos sabiam disso.
Ela simplesmente não mais me olhou nos olhos e disse que eu não era uma pessoa em que se poderia confiar para contar a história do nosso lado.
Nosso lado, não. O lado era o dela.
Tentei amenizar a conversa, mas diante dos livros que mostrei, não havia diálogo.
Disse que éramos povos irmãos, de cultura afável e amorosa; a nossa origem latina de certa forma nos une, apesar das diferenças. Somos amigos apesar e além de todas as diferenças, argumentei.
_Passe bem.
Saiu contrariada. Sinto muito, mas temos que contrariar, quando temos livros de pesquisadores renomados. Indecorosa proposta.
Assim passa o dia, quando chega uma terceira pessoa e me vê lendo. Pergunta:
_A senhora, que lê bastante, sabe me dizer se Cristóvão Colombo realmente colocou o ovo em pé?
Respondi que não tinha provas e não poderia afirmar ao certo se era história ou lenda.
_A senhora poderia pesquisar para mim?
Poder pesquisar, até poderia, mas passaria anos. O que dizem é que é uma metáfora para a sabedoria. Indecorosa proposta.
Moral da história de hoje: O povo se supera na capacidade de perder tempo a cada dia que passa.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Edson Prado Volta à Reportagem

Edson Prado Volta à Reportagem

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Para quem não conhece o Edson, eu apresento: é um repórter que fez algumas matérias para o blog (personagem do blog).

Hoje ele me trouxe uma matéria bastante curiosa sobre a minha cidade. Ele entrevistou algumas pessoas bastante sinceras que contaram a ele o porquê de Curitiba ser a cidade escolhida por essas pessoas.

Vamos ao texto:

Jornal do Blog

Entrevistamos três pessoas, cujas origens são respectivamente: Brotas, interior de São Paulo; Rio de Janeiro capital e Bonito, Mato Grosso do Sul.

Os seus nomes: João, Joaquim e José.

Os três foram unânimes ao dizer que Curitiba ainda é uma cidade em crescimento e com qualidade de vida. Perguntei se cabia mais gente e eles disseram que sim e, que se tiverem oportunidade, trarão irmãos, sobrinhos e pais para a capital do Paraná.

Perguntados sobre o motivo principal pelo qual deixaram as suas cidades, as respostas foram diferentes:

João, vindo do interior de São Paulo, disse que sonhava em morar numa cidade grande, tão grande quanto a capital de São Paulo, mas com menos problemas de locomoção e poluição. Disse que Curitiba é uma cidade para gente ambiciosa, que sabe dar valor ao que faz, e, com responsabilidade se chega onde se pretende.

Joaquim, vindo do Rio de janeiro, queria um clima ameno e um lugar mais seguro de se educar os filhos.

Pedi a ele que dissesse mais sobre o significado de um lugar seguro para se viver e ele respondeu (palavras textuais):

_Aqui a escola telefona para os pais dos alunos se eles chegam atrasados e pergunta se houve algum empecilho para que eles chegassem no horário, algumas escolas nos convidam para assistir a reunião com os professores mesmo que os nossos filhos sejam os melhores da classe; isso traz segurança à família.

José, vindo do Mato Grosso do Sul disse que queria progredir porque havia esgotado as possibilidades de crescimento na sua cidade, onde tinha uma pousada. Veio para investir no Paraná.

Perguntei sobre o que mais deixava saudade da cidade de origem.

As respostas foram:

João, São Paulo, disse que ao possuir o seu apartamento e a sua independência financeira, não poderia sentir saudades. Com o dinheiro que obteve na capital paranaense podia visitar Brotas quantas vezes quisesse, não tinha motivos para sentir saudade.

Joaquim, do Rio de Janeiro, sentia falta do papo furado, do ar condicionado no transporte coletivo e que, ao ver os filhos bem criados, esquecia a saudade e sentia-se feliz por poder proporcionar a eles uma boa educação em escola pública.

José tinha um quê de saudade no rosto e não negava que aos finais da tarde lembrava-se de Bonito, sem congestionamento no trânsito, a calmaria se fazendo e o sol se pondo de maneira especial. Bonito era um lugar para não esquecer, nem por todo o dinheiro do mundo.

Perguntei sobre as dificuldades enfrentadas para chegar até aqui e como essas dificuldades foram superadas.

João disse que a dificuldade estava em descobrir como o sistema da cidade funcionava e entrar nesse sistema havia sido o mais difícil. Segundo ele, a cidade funciona em grupos e, uma vez participando desses sistemas sociais, o caminho estava aberto ao empreendedor. A população é bastante receptiva ao saber de você através desse grupo social.

Joaquim disse que não encontrou dificuldade porque em todo o lugar existe gente de fora. Se, o curitibano é fechado para conversar, o outro cidadão que vem de fora, também quer se entrosar e assim se formam os grupos. Agora ele tinha o seu ambiente, independentemente do que o povo com raízes por aqui pensasse. Ele era um cidadão de bem e cidadãos de bem se encontram e se viram.

José disse que pensou na distancia a ser enfrentada em caso de arrependimento, ou, de malogro nos negócios. Ele era um homem equilibrado nas finanças e sentiu o conforto que a cidade oferece aos que aqui chegam para investir.

A entrevista prosseguia com João de laptop aberto, Joaquim muito feliz em poder conversar com alguém que tinha a sua origem na cidade e José tomando o seu chimarrão gelado.

Eu me incomodei com o laptop, que poderia tirar a atenção da entrevista e perguntei, até mesmo com o intuito de descontrair o João, o que havia de tão interessante no laptop.

Com toda a sinceridade ele respondeu:

_Estou recebendo informações sobre você. Coloquei o seu nome na rede e os meus amigos estão me contando de você. Você não imagina que agora sei o seu endereço e o seu telefone. Escreva o que eu disse, mas com exatidão.

Expliquei a ele que ele veria a matéria antes de ser publicada para que ele pudesse corrigir alguma má interpretação minha.

Ele me olhou e disse:

_Amigo, a entrevista eu dou, mas não quero que prejudique os meus negócios. Mostrarei a entrevista na rede e depois dou a permissão.

Pedi a ele que fosse in off, sem aparecer ao público que lê o jornal, para que a matéria não fosse lida antes de ser publicada. Ele concordou e postou a entrevista em janela anônima do Google no Linkedin.

Concordei porque é preciso conhecer essa nova população, que não sazonal, mas sim definitiva; são os nossos novos moradores.

Concluí que a nossa cultura deverá passar por transformações ao longo das próximas duas décadas. O inchaço populacional também é um fato a ser planejado com todas as características próprias dessa transformação que desde agora passa a fazer parte da nova realidade citadina.

Segundo ele, o papo terminou com um jantar de confraternização entre os convidados e ele mesmo num restaurante de comida típica italiana.

Gostei do texto e o transcrevo aqui, diretamente do Jornal do Blog.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Quando o Problema é Do Outro

Quando o Problema é Do Outro

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Tomás arrumou emprego numa loja de ferragens. A família, o pai, a mãe e as duas irmãs foram almoçar fora pagando o almoço para o garoto de dezoito anos.

Não passou um mês e o dono da loja onde Otávio, pai de Tomás, trabalhava, informou da decisão de mudar de ramo:

_Otávio, eu vou mudar de ramo de negócios e quero que você venha trabalhar comigo.

Otávio ficou contente com a consideração do homem e perguntou sobre quais seriam as novas atribuições. O emprego de gerente da corretora de seguros iria se transformar em outra função e ele não sabia de outras funções além das de gerente.

_Abrirei uma casa noturna. Você será o meu gerente e a casa abrirá das onze da noite às quatro da madrugada. Estou empolgado com o novo negócio, além de trabalhar, vemos mulheres bonitas e bem arrumadas, bebericamos e nos divertimos.

Otávio mudou a expressão fisionômica. O chefe não tinha duas filhas mulheres. Ele não queria as filhas nesse ambiente. Conversou com a sua mulher e decidiu não aceitar a proposta, preferiu o desemprego a expor mulher e filhos àquele tipo de negócios.

Tomás ganhava pouco, mas se ofereceu para ajudar o pai com o que recebia de salário. Otávio não aceitou, o filho tinha que fazer a vida dele. Com o que ganhou na saída do emprego poderia se manter por alguns meses enquanto procuraria outro emprego.

As filhas eram menores e tinham que estudar, as únicas despesas que ele tinha para com elas, além das comuns da família, era com material escolar e não havia porque se preocupar.

Dois meses depois, Tomás chega em casa e pede para falar com o pai:

_Pai, o que é que a gente faz quando a gente quer trabalhar, mas alguns colegas interrompem com piadas, desviam a concentração chamando para o café. Eu sei que é ambiente de trabalho, mas eles me incomodam.

O pai disse para que ele não entrasse na algazarra durante o serviço, porque, sendo gerente, ele sabia que o empregado recém-chegado é motivo de ciúme e desconfiança para os mais antigos; era comum acontecer isso com o recém-chegado. Eram problemas normais e corriqueiros dentro de uma empresa.

Pouco tempo depois, Tomás foi convidado por um dos colegas para trabalhar na casa noturna do antigo chefe do pai dele.

Otávio se irritou:

_Aqui ninguém é tão puritano ao ponto de não conhecer casa noturnas de boa qualidade, com festas boas e agradáveis. Há uma diferença entre ir às festas de vez em quando e trabalhar à noite. A noite tem de tudo o que é perigoso, não é para o nosso jeito de ser, somos imbecis se aceitarmos trabalhar com aquilo que não sabemos lidar e, pior que isso, não temos formação adequada para enfrentar os problemas que aparecem nesses lugares.

Uma bela tarde de sábado, o antigo chefe aparece na casa do Otávio para fazer uma proposta:

_Otávio: você está desempregado. Eu estou me saindo bem no ambiente noturno. Logo a Isabela faz dezoito anos. Podemos ganhar dinheiro se a Isabela for manequim.

Otávio mandou o homem se retirar da casa dele. Começou a vender livros de porta em porta.

Tomás, nas horas seguidas ao expediente, vendia livros também. As garotas cresceram: uma delas, professora, a outra, gerente das contas de compra e venda de livros.

A noite não era para eles; às festas, raras.

sábado, 13 de abril de 2013

Sono de Anjo

Sono de Anjo

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À luz de vela,

Oro sentindo,

Lendo à capela,

Sono surgindo.

 

Nessa olhadela,

Pisco e distingo,

Dessa parcela,

Grego de gringo.

 

Fecho a janela,

Vejo domingo,

Sol nasce estrela;

Durmo sorrindo.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Para Variar, o Danúbio / Crônica de Supermercado

Para Variar, O Danúbio / Crônica de Supermercado.

Eu sei desde que li o livro, que está guardado e preciso reencontrar para citar a fonte, mas a valsa Danúbio Azul, de Strauss chegou a fazer parte dos protocolos de cerimoniais de algumas embaixadas. A valsa contagia e, não raro, as gafes acontecem.

Hoje, enquanto eu saía do supermercado, o sonoplasta que coloca as músicas entre as chamadas para os produtos em oferta, colocou a valsa Danúbio Azul.

Posso não saber tocar a valsa, mas conheço o seu efeito sobre as pessoas.

Disse a mim mesma:

_Saio quando a valsa acabar.

Sentei-me para ouvir, sabendo que iria me empolgar. Teria assim a história de hoje, consegui, senti também. Vamos aos observados:

A senhora de meia idade saiu, quando o marido a chamou:

_Querida, estacionei aqui.

Fato absolutamente normal, o divertido foi ver o marido jogando beijocas para ela e ela retribuindo as beijocas pelo ar. Beijaram-se discretamente antes de colocarem as compras no carro. Um belo casal de cabelos grisalhos.

Surgiu um senhor de idade, com a sacola nas mãos e os olhos marejados. Ele não precisou dizer que a saudade apertava o peito, era uma saudade bonita.

Eu continuava sentada esperando a valsa acabar. Quem sabe, alguma oferta a interrompesse, pensei. Mas, que nada, provavelmente a emoção tomou conta do sonoplasta.

Veio então a conversa ríspida, somente compreendida por quem conhece a valsa:

_Ana, eu sou seu primo e você me deve satisfações enquanto o seu pai viaja. Eu dei a minha palavra ao tio que cuidava de você na ausência dele. Responda-me, por favor. O seu chefe não tentou te paquerar? Você tem ido à faculdade como faz quando o tio está aqui? Você tem comido na hora certa?

A garota respondeu as perguntas do primo e disse que estava com saudades do pai, mas ele viajava para sustentá-la.

Quando a valsa parou, senti-me aliviada. Poderia ir embora sossegada. Interessante foi que depois da valsa o sonoplasta parou a música e ficou aquele silêncio, as pessoas agora falavam em tom normal, sem exaltação.

E das minhas emoções, não digo nada? Digo. O livro de valsas está comigo, tenho a partitura do Danúbio, não penso em tocá-la. Em compensação, escolhi algumas músicas e saí para encaderná-las. No caminho encontrei com uma família angolana que esperava a chuva passar ao meu lado embaixo de uma marquise, eles estavam a passeio no Brasil. Sem a valsa eu não teria saído para encadernar partituras em meio à chuva de verão, teria esperado a chuva passar. Estava na chuva, estava bem por me encontrar nessa atividade, digo que foi a valsa, mas não cometi gafes. Desejei um boa estadia no país. Sabendo que o dia era propício ao sentir, senti a chuva, linda chuva da minha imaginação.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Comprei Óculos

Comprei Óculos

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Eu vejo o mundo torto de fato, foi o médico que disse. Estou com receio que as histórias se tornem sem graça com esses óculos que corrigem a distorção para perto.

Mas, vejam este caso, ou pior, casamento.

Estava eu entre amigos quando chegou o casal. Eu também era jovem.

O Robson apresentou a namorada:

_Oi gente. Essa é a Valesca.

O pessoal elogiou a moça dizendo que ela era bonita.

Ele concordou, mas foi logo dizendo:

_Antes que vocês queiram saber mais a respeito dela, eu mesmo conto. Ela teve um caso. Morou com alguém antes de mim.

Sinceramente? Senti vontade de perguntar o que é que a gente tinha a ver com isso.

Entreolhamos-nos sem saber o que dizer.

A moça disse que o relacionamento deles era prá valer e que gostava da franqueza como dispensa de comentários futuros.

Nessa frase, com todo o respeito, ela chamou-nos de fofoqueiros. A gente não a conhecia! Como é que a gente iria falar dela?

O Robson continuou:

_Queremos que vocês saibam que nos escolhemos porque somos bonitos, frequentamos os mesmos lugares e estamos em idade de casar.

_Ué? Tem idade?

O moço respondeu:

_Tem idade sim. Queremos ter filhos antes dos trinta anos, na data prevista com cesariana para o parto.

Depois dessa, resmungou-se: _Puxa!

O resumo da festa foi que a mesma passou-se em torno deles. Cada resposta parecia agredir a qualquer ilusão romântica que tivéssemos.

Intervalo da autora:

“Aquele enfeite de bolo com o casal de costas um para o outro, dançando flamenco, era esquisito. O noivo do enfeite do bolo de costas para a noiva, com os pés voltados para as pernas dela, a noiva, eu não gostei. Parecia que o noivo estava prestes a... melhor não dizer. Ninguém gostou.”

Voltemos à história:

O tempo passou. Casaram-se. Dividem as despesas, a cada um o gasto do seu bolso, nem um centavo do outro. Cama de casal, refeição separada. Filhos na data prevista conforme planejaram. Levam uma vida matemática.

Outro dia um amigo comum perguntou se eles eram felizes nessa conta.

O Robson disse:

_Somos. A vida é dura e nós sabíamos disso quando nos encontramos. A Valesca tinha levado o fora do amante, por conseguinte não se envolveria com outro homem. Casou comigo! Mulher adorável que nunca precisou de um centavo meu.

A Valesca disse:

_Lógico. O Robson queria uma mulher que fosse dele, mas sem compromissos financeiros, sem despesas. Ele era o que eu procurava depois da bobagem que eu fiz. Cumpro o meu contrato com exatidão. O que ele poderia querer a mais que isso! Amo muito ele pela compreensão que teve para comigo. Vivemos muito bem.

Para eles valeu, mas para quem viu, não valeu não.

Dispenso dizer o que eu acho. Fica subentendido.

Será que os meus novos óculos farão com que eu mude de opinião? Acho que não.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Transparência Auditiva nos Negócios / Crônica de Supermercado

Transparência Auditiva nos Negócios / Crônica de Supermercado

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Eu chegava ao supermercado quando saiu o homem de paletó, colete e gravata e calça impecável compondo o seu visual. O colete num dia agradável, como o de hoje, me chamou a atenção. Provavelmente é um executivo, pensei.

Dei mais alguns passos quando ouvi a conversa, parecia que havia um alto-falante dentro do veículo. O executivo se preparava para manobrar e sair da vaga do estacionamento e falava alto:

_Podem começar que eu estou ligado.

Disfarçadamente diminui o passo depois do grito do homem de dentro do carro dele.

O som do rádio ligado ao celular era inconfundível:

_Podemos começar a reunião? Todos estão presentes ou ouvindo?

O cidadão que, a partir de agora, chamarei de executivo, gritou que sim.

_ Para construirmos, precisaremos de “X” sacos de areia, “X” sacos de cimento, “X” de concreto, “X” milheiros de tijolos. A obra será feita em três etapas; a primeira etapa ficará com o Fulano, a segunda com o Sicrano e a terceira com o Ariovaldo. Ouviu Ariovaldo?

O executivo gritou que sim.

O homem do outro lado do alto-falante continuou a reunião:

_Os custos serão de trezentos e cinquenta mil com vencimento em julho e o nosso metro quadrado será o mais barato da construção. Ariovaldo, você pode conferir os valores e as tomadas de preço hoje à noite?

O executivo gritou que sim, disse também que não iria falar muito porque tinha que sair do supermercado.

De dentro do carro se ouvia o coordenador da construção:

_Ariovaldo, aguarde um momento.

O executivo alongou o tempo para romper o carro e gritou:

_Pode dizer que eu aguardo na linha.

Do carro falante, se ouviu:

_Ariovaldo, siga pelo trajeto combinado e passe em frente aos nossos concorrentes. Eu continuarei a dizer os valores da obra com o material e a mão de obra. O nosso grupo é honesto. Não praticamos superfaturamento. O público pode confiar em nossa empresa, a Holding S.A. Precisamos que os nossos concorrentes e os patrocinadores dessa concorrência saibam dos nossos méritos como construtores.

O executivo gritou que a ideia de ser transparente nos negócios era excelente e que iria prosseguir o seu caminho com a reunião aberta ao público-povo.

_Passarei nos bairros nobres para mostrar que alguns empresários são os melhores. Esse é o nosso caso. Pode prosseguir a reunião que não mais conversarei, estou dirigindo e não infrinjo as leis de trânsito.

A essa altura, eu me segurava para não rir. Entrei no supermercado e fui pegar o pão. Apenas observo que o executivo Ariovaldo corre o risco de conseguir problemas auditivos; logo ele que coloca os ouvidos a serviço dos empreendedores mais transparentes que eu já vi. Ou, melhor, ouvi.

terça-feira, 9 de abril de 2013

O Grito de Horror

O Grito de Horror

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Era uma viagem longa. São mais de quatrocentos quilômetros entre Curitiba e São Paulo. Ônibus que pega a passageira na cidade de Registro, antes de chegar à capital paulista.

Na cidade de Registro entra uma jovem senhora, que, ao verificar o local do seu assento, grita histericamente. Ao lado dela está sentada a tia.

A jovem cumprimenta a tia, surpresa. A tia responde e começa o estranho diálogo:

_Pensei que o seu marido tivesse com amante. Não sabia que você tinha voltado a pintar os cabelos de castanho. Eu o vi enquanto ele te beijava te desejando boa viagem.

A moça tentou mudar de assunto, mas a senhora disse:

_Estou pronta para uma fofoca. O seu marido não tem amante ainda, mas agora que você mudou a cor dos seus cabelos, não demora muito.

A moça ligou para o marido. Ele disse para ela ligar para a sua irmã ou a sua mãe.

Do outro lado da linha as recomendações da mãe e da irmã.

A jovem não dirigiu mais a palavra à tia. O marido, a mãe e a irmã, aguardavam ansiosos que ela chegasse a São Paulo. A irmã dela a esperaria na rodoviária.

Fosse lá como fosse ninguém acreditou na coincidência. Era uma situação constrangedora para toda a família. Ninguém sabia dessa viagem da tia entre os parentes dela.

_Cuidado! Essa atitude não é costume nosso.

A viagem prosseguiu com tia e sobrinha, lado a lado, sem trocar olhares, com alguns telefonemas da família à jovem, apoiando-a.

Prova de que nem sempre os mais velhos estão certos.

domingo, 7 de abril de 2013

Poema Sonoro

Poema Sonoro

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Repetir a música,

Corrigir a frase,

Transformá-la em única,

Acentuar com classe.

 

Arrumar à súbita

Ao trocar a chave,

De tal forma nua

Do agudo ao grave.

 

Assim faz-se a lua;

Se crescer é fase,

De manhã traz sua

Voz ao canto suave.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Selo dos 700 Seguidores

Desenho feito em casa:Selo dos 700 Seguidores

Poema dos Setecentos

Como doce experimentado

D’um sabor afável, gracioso,

Pitoresco e assim desejado,

Setecentos é primoroso.

 

São vocês nesse povoado,

Nesse blogue despretensioso;

Um por um é meu convidado

A essa festa de dia chuvoso.

 

Grata sou nesse meu recado,

Terno abraço bem carinhoso

Dou-lhes já. Sinta-se abraçado;

Fã que sou desse meio virtuoso.

 

Ofereço o selo dos setecentos seguidores aos amigos blogueiros,Yayá

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Leitor

Leitor

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Não tem

Ninguém

Que saiba

Da dor

 

Que vem,

Vintém

Que caia

De amor;

 

E sem

E nem,

Que valha

O suor.

 

Porém,

Um bem

Que caiba

Ao humor

 

Vem sem,

Cai bem,

De graça;

Senhor.

 

Meu bem

Não tem;

Abraça,

Lê a dor.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sentando Praça

Sentando Praça

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Dia corrido. Compro o sorvete, sento no banco da praça e o tomo para refrescar a blusa de lã desavisada.

Ao meu lado sentam-se mãe e filho, o garoto aparenta a adolescência.

A conversa começa:

_Filho, agora somos cidadãos do primeiro mundo, termino de pagar o tal do notebook no mês que vem. Estou tão feliz por você ter me adicionado na relação dos seus amigos. Você está feliz por eu ser sua amiga nessas coisas chamadas com nomes esquisitos como Orkut?

O filho responde que sim.

_Filho, podemos conversar pessoalmente como se fosse ao notebook?

O filho responde que sim e a aconselha:

_Mãe, eu sei que você não sabe como se escreve banana em inglês, mas não faça pergunta séria pelo computador. Olha lá o que você quer perguntar, me deu até medo de ouvir.

A mãe, serena, continua sem dar atenção ao garoto:

_Vamos aproveitar esses momentos meu filho. Logo você cresce e, se Deus quiser, não precisará servir.

O garoto reage como se tivesse falando com uma extraterrestre:

_O que é isso, mãe? E se eu quiser servir?

A mãe responde que se ele quiser servir, que sirva o serviço obrigatório dos dezoito anos, mas diz a sua preferência:

_Meu filho, se for servir, sirva na Marinha. Passeio de barco, natação, atitudes saudáveis que te deixarão forte e bonito.

O filho olha para frente, para o nada que faz com que não tenha que olhar olhos nos olhos para a sua mãe:

_Será que eu sou filho de alguém cuja inteligência é falha? Que situação difícil essa conversa. Mãe, eu quero voar, acho que vou para a Aeronáutica.

A mãe diz que ver o filho no ar não está nos seus planos, mas os moços que voam também são fortes e têm saúde. Será um sacrifício em prol do filho feliz. Pelo menos não terá que engomaras roupas de treinamento em terra.

Foi nessa hora que o garoto exclamou:

_MÃE! Não me envergonhe. Eu vou para onde tiver vaga. Saiba que eu gosto muito de estratégias em terra também.

A mãe diz que ele ainda é jovem e pergunta se ele quer que ela providencie uma escola preparatória.

_Mãe, por favor, NÃO! Deixe que eu escolha as minhas armas.

A mãe desconversa e volta a falar em notebook.

_Mãe, em vez de falar sobre quando eu crescer, vamos conversar sobre o computador. Você não pode me fazer essas perguntas pelo Orkut. Eu preciso te explicar certas coisas que você não sabe. Como é difícil explicar essas coisas para você, mas com toda a calma a gente chega lá.

A mãe pede para que ele explique as regras do Orkut à noite, antes de ir se deitar.

O garoto entra em desespero:

_Mãe, eu não posso esperar até a noite. Você envia mensagens à tardinha. Tem que ser na hora do almoço.

A mãe responde:

_Você quer que eu aprenda enquanto eu frito o bife? Depois reclama que eu não entendo.

Agora o garoto começa a suar.

_Mãe, escreva o que você cozinha para mim e pergunte o quanto eu gosto da sua comida. Está bem assim?

A mãe sorri:

_Está bem meu filho. Entendi: no Orkut a gente não conversa, a gente se elogia.

O filho diz que pretende elogiar a mãe todos os dias, pede a ela que diga da alegria que é cozinhar para a família.

A mãe diz que não é tanta alegria assim, porque ela interrompe a costura que é do que ela sustenta a casa depois que se separou do marido, mas faz o acordo com o filho.

Ambos se levantam e saem conversando. O meu sorvete tinha acabado e também saí.