Os Estilistas
Reinaldo desenhava, Edvaldo apagava. Enquanto levantava e pegava um copo de água, o outro fazia desaparecer parte do desenho em lápis próprio de moda.
Reinaldo ganhava o concurso fashion, Edvaldo ficava em segundo lugar.
Tecidos, texturas e cores eram personalíssimas e secretas. Edvaldo ganhava nas escolhas, talvez até contasse com as apagadas de Reinaldo.
Naquele ano o tema das roupas para o concurso de moda foi “Desconstrução”. Naquele ano Reinaldo pensou na sua imensa habilidade de desconstruir o desenho do outro.
_Se é para desconstruir o desenho, sou o vencedor.
De fato, era. O desenho ficou sem estilo, um desenho igual as das roupas feitas em escala industrial.
Edvaldo ficou sem ter como elaborar um novo desenho a tempo para o concurso. Tinha o que tinha. Aborrecido, juntou os cacos do desenho e desleixadamente compôs as cores e os tecidos. Não ganhou o concurso. Desta vez o desenho estava comum.
Ao sair, sem grandes decepções, o homem sábio previu as decepções que teria quando as evidências estavam claras, sendo assim, estava de cabeça altiva.
_Concurso e vestibular tem todos os anos. No ano que vem eu desenho com lápis e passo a tinta em seguida.
Para surpresa sua, foi cercado por estilistas diversos o cumprimentando. Pensou que fosse alguma ironia e sorriu a todos sem se importar muito com aqueles elogios.
Os fatos se davam assim, quando um deles se dirigiu a ele:
_Edvaldo, não se entristeça de perder o concurso. Muito menos se entristeça com as bobagens do Reinaldo. O seu estilo é outro; você é romântico sem ser comum. Você não poderia ganhar e não digo isso para te consolar, mas para comprar o seu trabalho artístico. Há uma diferença entre a desconstrução que a rudeza da vida proporciona e a metamorfose do ser que se renova para o amor. São desconstruções diferentes. O concurso era voltado a um estilo inoxidável de se viver, não para o estilo “cacos de um coração quebrado”.
Muitas risadas se seguiram. Eram cacos da pura arte de estilo costurados sem motivação e finalizadas em belíssima composição. Nenhum estilista se atreveria a tanto, seria mais fácil trabalhar a rudeza da realidade. Edvaldo conseguiu a arte nova sem máscaras do século XXI, uma fantasia considerada brega transformada em estilo de vida, sem o despojamento comum dos trajes considerados elaborados nos tecidos de brim e sarja.
Reinaldo prosseguiu na sua carreira de desenhos feitos e desenhos apagados, ganhando infinitos concursos.
Edvaldo seguiu o seu rumo dando vida às emoções em formas de roupas com a expressão do sentir exposta ao mundo com elegância, subtraindo a necessidade das palavras sobre este mesmo sentir, não tecendo explicações desnecessárias. Edvaldo encontrou o seu estilo,agora ele mesmo apagava os seus desenhos, a alta costura o encontrou definitivamente.
13 comentários:
Olha, que texto belo!!! Gostei!
Beijos para você.
http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br
Amiga querida!!!!!!
Estou retornando aos poucos, com atrasos de leituras, respostas e comentarios.
Mas muito feliz porque reencontrar voce!
Feliz 2013!
Beijos
" Há uma diferença entre a desconstrução que a rudeza da vida proporciona e a metamorfose do ser que se renova para o amor."
crônica maravilhosa. parabéns, amiga!
te desejo um findi tranquilo, com mais crônicas, é claro!
abç
Um ser íntegro que se encontrou...
Bj. Célia.
¡Feliz fin de semana!
bajo la incipiente mirada
de la luna enamorada
de los riscos tornasolados de la alborada...
Atte.
María Del Carmen
Excelente texto.
Beijinhos
Maria
Espetacular esse texto!!!
muitas vezes não entendemos algumas situações, mas entendemos que o que vale é a mensagem eo que podemos atrair de bom.
Super abraço fraterno, bj
Nicinha
Bom dia,amiga!
Que belo texto ,Parabens.
Estou sentindo tua falata no coração...
abraços
Sinval
Muito bom texto!
Vim te conhecer e agradecer por seguir meu blog de poesias.
Estou com problemas no meu PC e toda vez que tento seguir alguém aparece esta mensagem:
Not Found Error 404
Tentarei novamente um outro dia...
Bjussss
A vida vai-nos ensinando a tirar partido das situações e o que fica são as linhas e traços que fazem parte de nós
Oi Yayá! Quanto tempo não passava por aqui! Bela crônica!
E sigamos apagando e redesenhando, pois a vida é assim, um processo de desconstrução e renovação, na luta pra se encontrar e ser feliz.
Bjusss
O conteúdo do seu blog é extremamente precioso, está de parabéns, estou seguindo esse belo blog e indicando.
Aguardo sua visita e sua presença no meu humilde blog:
http://jonathanejonathan.blogspot.com.br/
Beijos...
Caio
Tudo que você escreve é de uma preciosidade sem tamanho, eu amo...parabéns Yayá querida,bjs
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