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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sábado, 7 de julho de 2012

A Receita

A Receita

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Dorli sentou-se na mureta em frente ao hospital, com a filha pequena no colo e pôs-se a chorar. Aguardava atendimento desde as seis horas da manhã, a ficha estava preenchida e a filha tinha febre.

Um dos médicos da emergência, que havia saído para o almoço e voltado, viu a situação e foi conversar com a jovem para acalmá-la. Conversando perguntou a ela o que se passava, porque pelo que via era coqueluche e ela sairia do hospital medicada.

A mãe desabafou:

_Doutor, o senhor não sabe o que é ser mãe solteira. O meu namorado não tinha juízo, mas gostava de mim. Fomos morar juntos, mas eu não suportei a situação depois que a Joana nasceu e disse para ele criar juízo que a gente tinha uma filha para criar. Ele voltou para a casa do pai dele, que o acolheu. Acho que ele teve pena do filho de dezoito anos. Manda dinheiro para a menina, mas não cuida. Eu moro com a minha mãe, separada do meu pai.

A jovem de vinte e um anos era realmente bonita, tinha um sorriso doce molhado pelas lágrimas. A filha tão bonita quanto à mãe, apesar da febre.

O médico sentou-se ao lado da jovem e se deixou levar pelas lembranças:

_Dorli, você é jovem e bonita, a sua filha também. A menina precisa de repouso, você não poderá trabalhar alguns dias. Mas, além disso, preciso te aconselhar para não aceitar a ajuda de estranhos nesses dias. Nessas horas, as horas difíceis, são as horas em que precisamos de apoio, justamente por isso, aparecem os amigos e os oportunistas. Em hipótese alguma aceite ajuda de estranhos para cuidar da menina enquanto você trabalha. Você me dirá que nunca aceitou ninguém aceita. Tome cuidado. Outra medida que você deve tomar é que na sua casa entrem somente mulheres nesses dias e não deixe que o marido delas interfira. Por difícil que seja a situação, você e a sua mãe devem dominar o comando da casa e são da natureza masculina o mando e a proteção. Revezem-se para trabalhar fora, se for o caso, mas cuidem da menina e das coisas de vocês. Ninguém pensa no médico como ser humano, como aquele que viveu e sofreu muito para chegar aonde chegou. Minha mãe era viúva. Houve tempo em que mais cuidei dela que dos meus estudos. Digo isto porque o pai dela entrará lá na hora em que ele quiser, a menina ficará contente, mas os seus amigos ficarão aborrecidos com você e tentarão interferir. Não permita que interfiram na educação da menina. Você disse que o moço não tinha juízo, mas quer bem a filha e a família dele te ajuda. Eles são bons à maneira deles. Ninguém pode obrigar um jovem de dezoito anos a assumir o compromisso de uma família. Passaram-se quatro anos, mas ainda assim, não se pode obrigar nem a ele e nem a você a assumirem um relacionamento. Ah! Permita-me complementar. Às vezes eu tenho medo de não ser entendido. Eu disse para você não aceitar ajuda, mas, se precisar de encanador, eletricista, técnicos de eletrodomésticos, entregadores de gás, receba-os todos, mas peça a identificação por via das dúvidas.

Dorli para de chora, pega o pacote de biscoitos de dentro da bolsa e come. Oferece a ele, que diz que tem mais gente lá dentro precisando dele e entra no hospital.

Não demorou meia hora e a consulta estava feita e a filha medicada. Paz de criança dormindo adentrava o coração da mãe com a filha nos braços, pagando a passagem do ônibus.

19 comentários:

Giancarlo disse...

felice fine settimana...ciao

Edum@nes disse...

Sentada na mureta
Em frente do hospital
Esperando que seja feita
Uma consulta algo especial!

Filha de mãe solteira
Culpa não ter não
A vida não ser brincadeira
Criança sempre ter razão!

Não pediu para nascer
Por isso tem de ser respeitada
Muito gostaram do prazer
E depois ao desprezo abandonada!

Desculpas para isso não haver
Ninguém o poderá justificar
Quem nasceu tem o direito de viver
Ninguém o direito à vida lhe poderá tirar!

Bom fim de semana,
um abraço
Eduardo.

Unknown disse...

Tudo lindo por aqui.

Beijo e bom fim de semana.

BL disse...

Yayá,
sábias e sensíveis são as suas palavras.

Agradeço a sua generosidade ao visitar o meu pequeno blogue e as palavras de estímulo que me deixou.

Bom fim de semana e um beijo muito grato.

B. Luz

Filha do Rei disse...

Uma história que se repete todos os dias , um texto real e que espero que rapidamente mude.
Parabéns pelo texto.
Tenha um abençoado fim-de-semana! Bjs

Célia disse...

Quantas mães, crianças, idosos sentados em muretas da vida na busca de saúde do corpo e da alma... sem nehum ser sensível a lhe estender a mão.
Bj. Célia.

pontinhosdatati disse...

Oi querida passando para conhecer e ja te seguindo e te convido a conhecer o meu cantinho também caso ainda não o conheça espero que goste e siga também bjinhos aguardo sua visita

Anônimo disse...

Um texto pautado no cotidiano e muito bem escrito Yayá.
Beijokas doces

Severa Cabral(escritora) disse...

Passando para desejar um lindo dia de domingo!
Com todas as bençãos que te faça feliz !
Saudadesssssssssssssssssss

iderval.blogspot.com disse...

Belo o valor de um filho,sublime o poder de uma mãe,lamentável a força do semeador fujão.Este só aprende depois que vira um verdadeiro adulto.Invejável e para espelhar a atitude do Jovem Esculápio.
Parabéns por abordar tão importante tema sempre atual.É poesia,é reivindicação, é luta sindical, é amor ao próximo, é a luta pela sobrevivência.É a solidariedade,é a compaixão e a benevolência.É A MÃE.

aluap disse...

Já me dava por satisfeita que todos os que esperam atendimento num hospital obtivessem a receita prescrita certa (e bem escrita) lololol

Abr./Paula

Maria Lucia (Centelha) disse...

OLá amiga boa noite!

Gostei demais do teu texto, tanto pelo conteúdo quanto pela forma objetiva e clara em expor problemas relacionados com o sentimento.
Ahh, se os médicos de hoje em dia, além da consulta normal, usassem de humanidade em conversar carinhosamente com a família do paciente...Claro que existe a exceção, e quando surge, é como se fosse algo extraordinário, uma postura que deveria ser o habitual...

Lindo final de domingo e uma semana nova , cheia de alegrias!

Bjos da Lu...

Jossara Bes disse...

Oi Yayá!

No seu belo texto fica muito claro a importancia do "saber ouvir". Muitas vêzes o que mais falta para o ser humano é alguém que os escute, ou uma palavra de alento.
Obrigado pelo carinho!
Tenha uma semana maravilhosa!
Beijos!

Carmen Silza disse...

Una historia muy usual, ha sido un placer leerte..besos y buen día

Lola disse...

Pase a desearte una feliz noches!! Bella entrada
un abrazo

Fernando Santos (Chana) disse...

Belo texto...Espectacular....
Cumprimentos

Unknown disse...

Muitas vidas são assim sacrificadas.
Deixaram-se levar pelo aspecto físico e no fim a moral deles é igual a zero

Esta é uma situação real dos nossos dias. Muitas moças teimam em não querer engravidar e certamente tem razão. Os filhos não serão lixo que se esqueça num canto qualquer.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Uma história que não é difícil de encontrar infelizmente...e um médico que também é difícil de encontrar, com tempo e HUMANO...lindo como sempre o que escreve.

Um beijinho com carinho
Sonhadorea

OceanoAzul.Sonhos disse...

Um relato muito bem feito duma situação que corresponde em muito a algumas realidades.

Um abraço
cvb