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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um Defensor das Mulheres / Boccaccio–Decamerão

Um Defensor das Mulheresclip_image002

Decamerão – Boccaccio

Giovanni Boccaccio nasceu em 1313, em plena época renascentista e também a época em que a peste negra assolava a Europa. Dedicado à literatura, um dos seus mais famosos projetos foi: a biografia de Dante, autor da obra A Divina Comédia, obra que não chegou a ser concluída.

Foi provavelmente lendo a obra de Dante que Boccaccio se inspirou e criou o Decamerão, livro dividido em três partes, a saber: o céu, o purgatório e o inferno.

O Decamerão é um livro dedicado às amoráveis mulheres. Em seu prólogo está um dos mais bonitos elogios às mulheres do seu tempo, sofridas e cobradas demais pela cultura em meio a tantas perdas e sofrimentos durante a fuga da doença, a peste negra, que dizimou milhares de pessoas. Ele conta que a amoralidade não é um vício, visto que não há a intenção de ofender a moral; a amoralidade é o desconhecimento da transgressão das virtudes eleitas em determinada época. Eram mulheres que perdiam toda a família e os meios de subsistência e ficavam vagando em grupos compostos de homens e mulheres por lugares estranhos em busca de alimentos. Naquelas circunstâncias não se poderia exigir um comportamento moral rígido por parte delas, especialmente delas que estavam expostas a todas as dificuldades sem perspectiva até mesmo de sobrevida.

O Decamerão é um livro que diverte, instrui e edifica um comportamento razoável a essas mulheres e, embora contenha contos bastante moralistas, ele as libera para o amor. No entanto, fica claro que amor não é concupiscência e em nenhum momento ele prega a libertinagem. Analisando assim, parto do princípio elaborado pelo autor, o livro é amoral, jamais imoral, embora assim tenha sido considerado por alguns séculos após a sua escrita.

Giovanni Boccaccio preservou a mulher dos castigos da sua época e, afinal, de que adiantaria que elas não se contaminassem com a peste negra se, quando se achassem a salvo, fossem punidas pelo comportamento pouco exemplar e deixadas como parias de uma época.

Lembremos também da época anterior, onde a mulher era absolutamente submissa aos preceitos impostos pela sociedade e, a punição poderia começar com um apelido de feiticeira e acabar na fogueira. Não cabe discutir os períodos e nem é a minha intenção discutir a época e os seus problemas. Ocorre que essas mulheres receberam o apoio para continuarem as suas buscas de vida familiar sem contar com os ritos religiosos necessários para a formação de uma família.

Era uma época em que as mulheres tinham que decidir se buscariam a vida ou aceitariam o que a fatalidade lhes proporcionasse. Giovanni nessa obra foi ao mesmo tempo humanista e realista. Não haveria outro jeito para salvar tanta gente da morte e onde havia um cadáver, havia a contaminação, mais doentes, mais mortos, um sofrimento irreparável para as crianças, filhos e netos desamparados.

Giovanni Boccacio foi um homem do seu tempo, mas com uma visão muito à frente do seu tempo. Ainda hoje, há rodas pudicas onde o livro é considerado um livro de maus conselhos.

As pessoas de má índole existem, é fato. Mas a má índole também passa por se exigir de alguém um comportamento que leve esse alguém à doença e ao sofrimento, ou, até mesmo à morte.

É importante salientar que Giovanni em nenhum momento aconselhou-as a transgredirem a lei, muito ao contrário, que se obedecesse à lei, mas que procurassem o seu bem estar independentemente de estarem em acordo com a moral ou estarem de acordo com as imoralidades.

Para concluir, posso dizer que ao ler, os leitores rirão muito e refletirão muito mais depois que fecharem o livro, mas poderão ajudar às muitas mulheres que ainda hoje passam por situações constrangedoras em diversos locais do mundo.

3 comentários:

Ivone disse...

Amei ler essa postagem!
Nossa, assim bem exposta e explicada por você que é mesmo muito especial e inteligente!
Eu adoro ler e já li muitas obras, até a Bíblia amo ler a bíblia, mas não como religiosa, mas como um livro lindo e instrutivo, li Dom Quixote, Lolita, muitas mesmo, mas não li esse livro, irei ler com certeza!
Abraços e beijos,
Ivone poemas
henristo.blogspot.com

Braulio Pereira disse...

obrigado por post.

AMO a literatura os livros..


abraço!!

Aclim disse...

Giovanni Boccaccio, só podia ser italiano, era bom em análise psicológica.

Você sempre trazendo uma boa contribuição para a cultura de seus leitores.

Abraço amada